AS MULHERES QUE FUI
Sou mulher
mas as mulheres que fui
nem sempre puderam se sentir Mulher,
muitas nem puderam aprender a ler
ou a escrever,
muitas nem podiam pensar,
ou falar na frente de um homem.
Houve época, disseram-me,
que nem alma tínhamos,
não podíamos votar,
nem trabalhar fora do lar,
nem vestir calças compridas,
nem pintar as unhas, cortar os cabelos,
nem nos desnudarmos para o banho.
Sequer podíamos escolher nossos maridos.
Muitas vezes fomos vendidas, trocadas.
Beber? Fumar?
Sair à rua desacompanhada do marido
Ou de um parente?
Ir à praia de biquíni?
Poetisa?
Quantas mulheres fui que sofreram?
Quantas mulheres sou que sofrem?
Pois apesar de muitas conquistas,
em muitas culturas e em muitas mentes,
nada mudou:
ainda somos mulheres,
apenas mulheres.
Ângela Togeiro
A autora é membro da Academia Feminina Mineira de Letras
Nota: Só hoje faço minha especial referência ao Dia Internacional das Mulheres, com Ângela, sinto-me redimida.