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Passeio em família. |
A
cidade natal
São Mateus era uma pequena
cidade no Norte do Espírito Santo, de ruas estreitas, casario antigo, não só no
Porto supostamente mais intimamente ligado à presença de mulheres, erroneamente
chamadas “mulheres de vida fácil” que de fácil nada tinha, esquecendo-se o
comércio efervescente que marcava presença em todos os tempos da Praça do
Chafariz, a chegada e partida de navios que eram o meio de locomoção entre o
lugar e a capital, ou e como e quanto, a cidade do Rio de Janeiro, que exercia
uma espécie de atração para jovens que decidiam “vou para o Rio”. Muitos foram, poucos voltaram, alguns jamais
reviram sua terra, até por falta de recursos financeiros.
Muitas garotas eram
levadas por famílias mais abastadas, para serem babás dos seus filhos, ou se ocuparem
dos afazeres da casa que iam desde o cozinhar, lavar e passar, cuidar de toda a
família.
Pela Rua de Baixo, na Rua
do Alecrim, na Ladeira de São Benedito, na Ladeira de São Mateus, Rua Sete,
Beco de Isaura Santos, Beco de Nicanor, caminhava uma gente tranquila, estilo
daquele tempo em que toda a família ia à casa de D. Fulana e S. Beltrano,
conversar no banco da frente da casa com quem passava, fazer visita e quando a
conversa rolava solta, até que se aproximava a hora da luz elétrica ser
apagada, sendo aconselhável volta primeiro à casa.
Nascimento
de Lilazina
Não se está a escrever a
História da Cidade, quer-se apenas, ao menos fazer divisar o cenário da terra
natal de Lilazina Gomes, filha de ___e___ que nasceu no dia...de 1916/7, na
Rainha do Cricaré.
É a terceira de mais duas
irmãs, Adozina Nascimento, D. Dadosa, que foi uma “professora particular” como
eram denominadas aquelas senhoras que destinavam a sala de suas casas à
sala-de-aula. Bancos simples tomavam todo o entorno da sala, apenas uma mesinha
de dois lugares era ocupada pelos mais espertos, pelos maiores que constrangiam
a saída dos menores, muitas vezes mediante cutucões com o próprio lápis.
Escreviam
no colo e a letra tinha que ser bonita. Era severa e o tempo todo sentada
atendia seus alunos vez que portadora de elefantíase em uma das pernas o que
lhe causava muitas dificuldades de locomoção.
Era
casada com Antonio Sapateiro (Nascimento) o qual, certamente coadjuvado pela
esposa dinâmica, soube conduzir suas finanças, diversificou suas atividades,
chegando a vender joias, que agora se sabe não eram das mais preciosas.
Não
tiveram filhos.
A
outra irmã se chamava Maria casada com S. Mateus (Jacudiano), um humilde
trabalhador que foi “contínuo” no Grupo Escolar “Amâncio Pereira”, encarregado
de abrir e fechar o estabelecimento, (carregava na cintura, um montão de
chaves), vigiar o entorno. Como era comum era também um pouco “chefe de
disciplina” aquele que recebia incumbência da direção e acabava “fazendo fuxico
dos alunos à Diretora”. Só queria ajudar. Foi o último sineiro fiel ao ofício que fazia dobrar
os sinos da Igreja de São Benedito, ao meio dia e às 18 h.
Bem,
Maria, dona de casa, dela só se pode dizer o que se diz de “uma mãe de família”
dispondo de poucos recursos. Lógico, fazia tudo em casa. Lavar, passar, limpar,
cuidar.
Teve
apenas uma filha, Mercínia que se casou com José do Correio e como se diz nos contos
de fada “tiveram muitos filhos”, pelo que Maria e Mateus que viviam um para o
outro, alegraram-se com um bom número de netos.
Muito
religiosos difícil esquecer a imagem daquele casal, vestido de roupas muito
limpas e simples, se dirigirem às Missas dominicais.
Dadosa
e Maria sempre moraram em São Mateus, deste modo podiam ter contato frequente
uma com a outra, dando belo exemplo de irmãs que deveras se amavam.
Não
se sabe dizer sobre a mãe das três. À distância da idade que hoje teria D.
Lilá, no contexto das vidas, ela não se constituiu em exceção entre aqueles dos
quais se fala ao menos um pouco e se encontra qualquer registro na história.
Há
um falar, nem tão claro (a mãe fora para o céu?) que as duas irmãs criaram
Lilazina, a Lilá, dispensando-lhe todos os cuidados e certamente foi um tempo
que deixou raízes haja vista o forte amor que unia as três.
Da
própria Lilazina não foi fácil reunir notícias o que causa tristeza constatar o
como quem viveu entre nós foi esquecida. Mas ela não é exceção. É a vida no seu
lado que ninguém aplaude.
Para
saber um pouco mais de Lilazina, dirigi-me ao “Padre Anchieta” e a coordenadora
me disse logo, sem rodeio: “quando a escola passou da responsabilidade do
Estado para o município, os arquivos foram todos retirados”.
Ali faliu minha
esperança de encontrar quem sabe, alguma foto dos famosos desfiles escolares,
um livro de ponto com assinatura dela, nada.
Pois
bem, na família constituída de quatro mulheres viveu Lilazina de cor branca,
contrariamente a mãe e as duas irmãs o que é devido a seu pai referido como um
senhor branco. Não se sabe se morava na cidade ou apenas por lá passava.
Reconheceu a paternidade de Lilá e lhe dispensava assistência.
Seus
primeiros anos escolares foi no Grupo Escolar da cidade, havendo ciência digna
de que não tinha a mesma desenvoltura de suas colegas, embora não se possa
dizer que o meio fosse de visível diferença social.
Era
vítima da “implicância” das colegas o que hoje se denomina “bulling” Como
sobredito, só tendo ouvido de quem lhe foi muito próxima, além de colegas de
escola, muito amigas.
Foi
nesta colega, a menina Rozita de Aguiar Pestana, minha mãe, que encontrou sua
protetora, era quem a defendia das investidas das demais e “ai de quem a
tocasse”. A amizade nascida por este tempo, consolidou-se com o passar dos anos,
permaneceu para sempre.
Em Vitória no Colégio do Carmo
No
devido tempo, o pai matriculou-a no então Colégio do Carmo, dirigido pelas
Irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo, onde concluiu o curso de professora.
É
fácil imaginar a situação nos anos que ali viveu, acostumada a convivência com
as irmãs, passar a viver rigidamente de horários irrenunciáveis, refeições,
banho, dormida, tudo em hora absolutamente certa. E ainda tinha o tempo de
orações, mesmo que para tanto não tivesse disposição.
Colégios
religiosos, naquele tempo, pois, tinham exigências deveras rígidas. De certa
forma era o tal “julgar que prestavam
serviço a Deus” (Jo. 16,2).
Acabou
permanecendo em Vitória trabalhando como professora logicamente no bairro em
que morava, a efusiva Jucutuquara, que muito orgulhava seus moradores. Hoje, no
entanto, seu aspecto é muito simples, que me desculpem seus ainda orgulhosos
dela, moradores ou não, parece mais uma cidade decadente.
E na
mesma cidade encontrou o seu Príncipe encantado. Oriundo de Campos, RJ,
apareceu o jovem Leão Dionizio de Souza, que na capital do Estado veio
trabalhar na efervescente “Vale do Rio Doce”.
Casaram-se
e deram verdadeiro testemunho de amor conjugal. Leão era alegre e fácil de
disparar sonoras gargalhadas. Lilá menos exuberante, pode-se justificar pela
infância e juventude de sacrifício que passou. Profundamente religiosa, nunca
deixou a prática de suas devoções. E por sorte, sua casa se situava na Rua da
Igreja local.
Tiveram
dois filhos: José Luís Gomes de Souza e Regina Gomes de Souza. A criação de
ambos foi mais tranquila do que ela tivera, ao menos a condição financeira era bem
melhor. Tinha uma bonita casa que fui identificar na Rua Mario Aguirre, mais
conhecida como acima já mencionado, Rua da Igreja (de São Sebastião, das
menores que já vi).
Fiquei
toda contente, quando fiquei sabendo que a moradora da frente, a tinha
conhecido, quis conversar com ela, não foi possível, estava almoçando ia
viajar, a doméstica que ia e vinha com as palavras que trocamos.
Voltei
uma segunda vez e ela estava esquentando o jantar e a conversa não saiu.
Marcamos para a segunda-feira seguinte, fui e ela não estava, voltei mais uma
vez e a casa estava fechada.
Que
decepção! A casa de fachada bonita foi completamente descaracterizada como se
pode ver pelas fotografias anexas.
Família
amiga saia juntos a passeios e sempre consideraram marcantes determinada
comemorações em família, como o Natal, com enfeite de árvore e tudo que pudesse
fazer memória do acontecimento, de quem é o principal personagem, Jesus, o
filho de Maria.
Seu São Mateus
Todos
os anos, a exemplo de muitos outros mateenses ausentes, marcava presença no Dia
do Padroeiro e festa da cidade, 21 de setembro, data que adquirira outro grande
significado para ela, José Luís Gomes de Souza, seu primeiro filho, nasceu
nesta data. Quando o mesmo completou dois anos foi fotografado e no verso um
relicário, a letra de D. Lilá em dedicatória da lembrança enviada à amiga
Rosita, em São Mateus.
A
“Festa de São Mateus”, era também a hora do encontro anual marcado para
conviver com as famílias reunidas, rever amigos, abraçar todos.
25 anos de casamento
No
dia ______ Lilá e Leão acompanhados dos filhos e na presença de alguns amigos,
comemoraram a chamada “Bodas de Prata”, momento do qual são lembrança as
fotografias que ilustram estas páginas. Ignorada a data.A Professora 
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No dia das Bodas de Prata. Entrada na Igreja São Sebastião Jucutuquara |

É
de se provar grande tristeza de como as pessoas apagam na história, não se
encontram registros de quem foi, máxime porque só teve dois filhos e o que
sobrevive está enfermo, sem condições de evocar e narrar lembranças familiares.
É
verdade que Lilazina não foi apenas mais uma pessoa entre todas que existem,
tanto que acabou por ter seu nome lembrado para denominar uma Escola na cidade
em que nasceu.
Concluiu
o Curso Normal, como já citado, tendo-se casado era moradora de Jucutuquara, pelo
que é natural ter escolhido o ‘Grupo Escolar Pe. Anchieta”, hoje EMEF Pe.
Anchieta, situada na mesma Rua João Santos Filho 295, na Ilha de Santa Maria,
em Vitória – ES (que se confunde com Jucutuquara) que passou por reforma
naturalmente, mas é a mesma, não não é, a outra era um grupo escolar de
construção a moda do tempo
Ali
exercia seu mister de ensinar. Uma pessoa com quem conversei por ser de
Jucutuquara, pouco disse, mas respondeu que a conheceu e foi professora no
mesmo “Grupo Escolar”. Perguntei-lhe:
- E o que se pode dizer de Lilazina?
- E o que se pode dizer de Lilazina?
– “Era
uma pessoa muito calada, reservada, não era assim como nós somos hoje, porque
naquele tempo, a mulher era mais da casa, cuidando de filhos, do marido”...
A
nora que disse não ter lembranças dela, fez, contudo uma afirmação: “eu a
achava muito triste”.
De
minha parte não é essa lembrança, talvez porque a tenha visto poucas vezes, mas
a vi sorrindo, as conversas com minha mãe, quando ia a São Mateus.
Profundamente
religiosa, deu a família exemplo de pessoa temente a Deus. As únicas fotos que
dela foram encontradas – são as das suas “Bodas de Prata” revelam alguém muito
concentrada e agindo como quem comemora grande acontecimento da própria vida.
O
fato de o filho achar-se enfermo e depressivo, impediu que se pudesse conversar
com ele e obter mais informações de sua mãe, a filha morreu já há algum tempo.
Não se encontrou dela um único registro, embora exista, claro em cartórios -
duvidas impediram expedição de sua certidão de nascimento).
Não
foi localizada a Lei que deu seu nome à Escola.
Morreu
há mais de cinquenta anos, tendo conhecido dois dos seus cinco netos. Seus
restos mortais foram depostos no Cemitério de Santo Antonio em Vitória e os
céus pelos merecimentos de sua vida a receberam e de lá nos olha, neste esforço
de resgatar um pouco da sua memória.
Lilazina Gomes de Souza foi casada com Leão Dioniso de Souza
Tiveram dos filhos:
1º José Luís Gomes de Souza casado com Maria Teresa Gonçalves de
Souza
Têm três
filhos: José Luís Gomes de Souza Filho
Márcio Gonçalves de
Souza (conhecidos por ela)
Maria Elisa Gonçalves de Souza
2ª Regina
Gomes de Souza (falecida) foi casada com um Grazzi de família de Ibiraçu – ES
Tiveram dois
filhos: Lucia Souza Grazzi casada e residente nos EEUU
E José
Alberto Grazzi que mora em Vitória, mas não foi localizado.
Vitória,
6 de novembro de 2019.
Marlusse
Pestana Daher
Obs.
Não é tudo que queria, mas é tudo que encontrei depois de dedicar a tanto uma boa
parcela do meu tempo. Fazendo pela memória de D. Lilá, faço-o por minha querida mamãe, em
homenagem à amizade que as unia.
Para o Corpo Docente da EMEF Lilazina Gomes de Souza que comemorou os cinquenta anos da escola, no dia 8 deste mês de novembro 2019, nada sabia dela, agora ao menos sabem um pouco.
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Natal em familia. |