quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

ILUSÃO DE ÓTICA



Na Praia da Costa, debaixo de uma sombrinha azul marinho, estava sentado um casal de idosos. Enquanto o senhor lia o jornal, a senhora fazia caça-palavra. De repente, algo lhes chamou a atenção.

-Meu velho, uma família bonita está pondo a sombrinha ali.
Anna Célia
-É vero. A mulher é uma belezura.

-E os filhos também. Nossa! Que homem lindo! Um pão! – como falávamos antigamente.

-Ihhhhh... O pai de família, tão garboso, está usando brinco.

-Meu velho, brinco se coloca na ponta. Mais em cima é piercing.

-Que trem é esse?!

-É uma argolinha de metal. Coisa de jovens. Uns colocam no nariz, outros na sobrancelha e, as mulheres, no umbigo.

-Credo! Estão imitando os índios.

-Pois é, meu velho. Que coisa feia para um chefe de família, né?

-É vero. Os filhos devem ter vergonha do pai.

-Engraçado. Tatuagem, que é uma febre aqui na praia, eles não têm.

-Quem exibi um negócio esquisito na orelha, tem coragem de fazer tatuagem. Vai ver que está bem escondida. 

-Olha, meu velho. A mulher passou a mão na orelha do marido.

-Será que ela não gosta do troço e quer tirar?

-Acho que não. Espia. Ela passou o dedo de novo e limpou na toalha. Espera aí. Deixa-me colocar os óculos. Agora vi direito. Não é piercing.

-Então, o que é?

-É uma bola de filtro solar.

-Minha velha, vamos deixar essa família pra lá. Você quer trocar comigo?

-Trocar o quê?

-O jornal pelo caça-palavra.

Anna Célia Dias Curtinhas