terça-feira, 7 de junho de 2011

MEMÓRIA. DE INFÂNCIA

            Quando o dia do meu quarto aniversário me aflora na lembrança, silencia todo o tempo posterior pelo qual já passei.  Papai chegou em casa, na hora do almoço, trazendo-me um velocípede como presente. Mesmo sem ter visto eu afirmo, meus olhos brilharam. Estava todo enrolado, cada parte estava envolvida por uma tira de papel. Vera, Évila e eu com todo afã e ansiedade, rasgávamos o papel que certamente jogávamos pelo chão cabendo a mamãe ou a secretária, se ela tinha, recolher tudo depois.
Velocípede desenrolado, montei no selim e sai pedalando pela casa, principalmente, por uma varanda que havia ao lado, enquanto Vera e Évila pisando naquela parte horizontal que sustenta as rodas traseiras, revesando-se ou ao mesmo tempo “iam pongadas”. Alegria total! Vejo o velocípede como se ainda hoje estivesse à minha frente. Até a marca que assimilei depois qual era, pois, quando aprendi a ler, vi em algum. Um homem no centro, o bandeirante, e o nome em circulo. Era um Bandeirante. Era deveras lindo e era meu!
Ninguém duvide que nas mentes de crianças se cravam acontecimentos que uma vez fotografados, apenas adormecem. Nesse adormecimento forjam atitudes que dependendo da influência sofrida produzem resultados que consciente ou inconscientemente, geram reações na exata dimensão da influência exercida ou despertarão simplesmente, com toda força um dia, para permanecerem para sempre, fazendo valer a pena sonhar de novo.  
Claro que educar criança é muito mais que ensinar a ler e a escrever. Daí ser importante vigiar sobre as cenas que lhes proporcionamos, sobre o que oferecemos para que se lembrem mais tarde. Por exemplo, se o filme é recomendado apenas para acima de 14 anos, criança não pode assistir. É verdadeiro delito dizer: isto é besteira.
O subconsciente é um artífice que não pára, tudo armazena e de tudo faz princípio de reações ou ações. Não há uma única atitude humana surgida do improviso. Todas se devem ao armazenamento de habilidades, de um adestramento, de um tornar-se capaz, seja do que for.
Sartre, como Freud, acreditava que nos primeiros sete anos de vida arquivamos algumas experiências emocionais reprimidas que temos dificuldade de colocar para fora. Dentro de nós há uma criança que exige reparos por tudo o que viveu. (A Cury).
Um brinquedo desejado poderá ser uma ótima lembrança, mas o será muito mais o dispensar de amor e de ternura, de atenção e de presença, na dose a mais justa.
É assim que se constrói gente!

7/6/2011 09:08