segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ENTREVISTA À FOLHA ACADÊMICA

A FOLHA ACADÊMICA, jornal de São Mateus, me entrevistou esclarecendo que a proposta da matéria era apresentar as contribuições de algumas pessoas para a construção da história da cidade.  

Pedi que me mandassem por e mail e procurei fazer o melhor possível. Aqui vai a íntegra, porque jornal todo mundo sabe como é, não coloca tudo que se diz e até não deixa de acrescentar o que o entrevistado não disse.


FA -  Há quantos anos mora em São Mateus? É filha da terra?   

MPD - Antes de tudo quero registrar que me sinto como quem leva um tremendo puxão de orelha. Isto porque, quando convidada para esta entrevista fui esclarecida que me encontro entre pessoas escolhidas, ao menos, como prováveis contribuintes para a construção da história de São Mateus. 

Construir a história é edificar e de tal forma que ao ouvir seu nome ressoe como de bons ventos que possam ter semeado por essas plagas, sementes que uma vez deitadas ao solo, venham germinar, crescer, produzir frutos.     

Só com um bom exame de consciência é possível responder, mas vou tentar.

Nasci em São Mateus, bem do lado da Igreja de São Benedito, naquela casa da esquina, hoje só loja, terei gargalhado ao ouvir o bimbalhar os sinos? Nunca me disseram...

Cresci na Rua do Alecrim, alfabetizada por D. Dadosa, estudei no “Amâncio Pereira”, tomei banho no Corguinho, aquele que está gemendo e quase acabando. Aliás, por onde passava, não passa mais.        
   
Como todo mateense canto as palmeiras que só conheci através de fotografias e que margeavam o rio, sou fascinada pela curva do Cricaré, gosto da cidade, sou devota do Glorioso e gosto muito de mateensear.  
 
FA - Quais as contribuições para a transformação do municÍpio, em termos políticos, econômicos e sociais? Qual é a sua história com a cidade? 
 
MPD - Meio desconcertante esta pergunta, requer colocar a modéstia de lado. Meu primeiro ofício foi professora e nisto envidei todos os esforços, despendi todas as forças físicas e da alma ensinando português. Severa, talvez demais, os alunos tinham até certo medo de mim.

Morreria sem saber, se de muitos não ouvisse, quando o tempo passou, tanto reconhecimento da parte de tantos. Sem que nada perguntasse, um aluno me revelou ter saído da escola por minha causa. Adulto, no trabalho, teve que voltar a estudar e reconhecia ter perdido tempo, por não me ter compreendido, “você tinha razão”, me disse ele. Duas outras resolveram desafiar-me de uma forma mais que salutar,  estudavam muito para obterem os melhores resultados. 

Nesse contexto, fui musa também, guardo poesias que adolescentes cometeram para mim, cheguei a paraninfar duas turmas de professorandas, enfim, sem orgulho, mas em verdade posso dizer que plantei e colhi graças a Deus.     

FA - Em que áreas atua e qual é o envolvimento e correlação do trabalho realizado para a consolidação de uma cidade desenvolvida?                            

MPD - Depois, tornei-me advogada e como Defensora Pública fui guerreira a ponto de incomodar não só os ex adversos, mas quem fazia parte do sistema do judiciário e não gostava de ver tanto caso de pobre ocupando espaços em suas mesas, não havia isso antes de mim. Ardorosa defensora contra toda e qualquer injustiça muitas vezes em dor, nunca abandonei uma causa.           
Eleita vereadora, não transigi nunca com coisas erradas, e claro, desagradava e como! Um Presidente da Assembleia Legislativa chegou a me aconselhar que aliviasse. Não o atendi, nem entendi.       
Assim, foi procurando fazer bem tudo que fizesse que acho que contribui para minha terra ser mais respeitada e querida.        
 
FA - Como se sente em ser representante de parte de uma história tão rica como a de São Mateus?
 
MPD - Representante de parte de uma história tão rica são palavras suas. Chego a estremecer! Depois do magistério estadual, fui parar no Ministério Público Estadual. No meu discurso de posse afirmei que tudo faria para que depois de mim a Instituição fosse melhor, porque eu teria passado por ela. Ali também dei o melhor de mim. Travei grandes batalhas, enfrentei, nada menos que corrupção, autoritarismo, mas nunca me verguei. Às vezes, ainda me pergunto o porquê de alguns acontecimentos e outra dúvida volta a pairar: se eu não atinava com a motivação não seria inveja?  Mesmo sem respostas eu só queria trabalhar e muito.        
Realizei como Promotora de Justiça tudo que planejei. Jamais saberia o que significa plena realização profissional se não tivesse passado pelo Ministério Público. E foi tudo tão intenso que eu mesma não me surpreendo por não sentir saudades.         
Acho que é isto. Fazer história, como notado ou anônimo é desincumbir-se bem do seu ofício, fazer a sua parte, pois cada um é parte da engrenagem com que o Estado se move para servir bem ao destinatário da sua razão de ser, o povo.         
 
FA - Deixe a sua homenagem, os parabéns à cidade no aniversário de 470 anos.

MPD - No dia em que o Povoado do Cricaré completa 470 anos de história só posso desejar que encontre ainda mais prosperidade e desenvolvimento, que nossos governantes preservem o que temos e destinem da melhor forma os recursos orçados para tanto, sobretudo, que cada  mateense tenha o que merece, a atenção devida na satisfação de suas necessidades básicas, o respeito a todos os seus direitos, ao mesmo tempo que não se omita quanto aos deveres e como sempre, saiba que pode sempre contar com essa conterrânea convicta que a todos quer bem.        


Omiti minha atividade atual, em relação à literatura.