domingo, 30 de setembro de 2012

SUBI ÀS ALTURAS E NÃO VI DEUS


Pe. Domingos Oliveira
*24.03.1942 + 22.08.2012
Escrito pelo Pe. Domingos, 40 dias antes de sua morte.

“Subi às alturas e não vi Deus...”.   Assim falou o astronauta russo.

Na ‘baixeza’ de minha dor eu também não vi o Todo-poderoso, o Velhinho de barba branca sentado no trono com o cetro na mão, nem Jesus sentado à direita do Pai, nem Jesus com barba de destemido profeta fazendo sermões, nem Jesus fazendo solenes liturgias com lindas vestes sacerdotais, nem o Espírito Santo em forma de pomba fazendo acrobacias sobre os ares, nem Maria nem os Apóstolos dando show. Não vi nada disso.

Em compensação, vi Jesus se debruçando sobre mim, me carregando para todos os lados que precisei... Vi Jesus na família que carinhosamente me acolheu... Vi Jesus sempre acordado e vigilante para despejar o xixi sem nunca precisar chamar. Vi Jesus disfarçado em faxineiras, enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas, doutores. Vi Jesus me anestesiando para não sentir dor. Vi Jesus no jovem médico que me operou e nos amigos... Vi Jesus me cuidando através de incontáveis mãos de anjos, fazendo curativos, dando banho, mãos solidárias, mãos amigas intercedendo e mostrando amizade e solidariedade. Assim eu pude dar o maior presente a minha irmã Naty e minha sobrinha Anita e, através delas, a todos os meus parentes em Portugal e na França: o presente da solidariedade brasileira.

Não, não via Deus nas alturas; não vi o Altíssimo cheio de majestade. No mais profundo de minha ‘baixeza’, vi o Baixíssimo me sustentando e carregando através das mãos de tantos anjos. Depois que o Altíssimo se esvaziou de tudo e se fez o Baixíssimo, inútil procurá-lo nas alturas; só na ‘baixura’. Como cantava P. Duval: “vós que procurais Deus sobre as nuvens, jamais encontrareis seu rosto humano”.

Vitória, 11 de julho de 2012.