sexta-feira, 27 de julho de 2012

REFLEXÕES AO POR DO SOL


Decidi viajar. Coloquei algumas roupas numa pequena mala e, não, não foi para nenhum lugar além de 215 quilômetros,  Vitória X São Mateus. Entardecia, quando superei a passagem por Linhares. Olhar atento a frente, quem dirige não pode facilitar.
Mas eis que de repente, a cor do céu me desperta atenção, o azul transformara-se em ouro, a minha esquerda, punha-se o sol. A visão era esplendida!
A primeira, daquele por de sol se deu através de uma estrada perpendicular que se desenhava como sobredito à esquerda, o caminho que oferecia integrou-se à composição da paisagem, acrescentando-lhe magia. Desde a entrada tudo se desenhava em harmonia, às margens, árvores e outros componentes faziam alas, alguns animais como que tudo compreendendo se deixavam ficar por ali, não passava nenhum humano. No fundo, o sol distribuía entre as nuvens seu tom áureo limitando-se naquele momento à  exibição apenas de um quarto de sua grandeza. Quando pensei em fotografar já me distanciara e curvar para voltar em uma BR tem suas complicações, até porque um pouco mais a frente, caminhoneiros em manifestação de protesto obstaculavam a passagem dos demais veículos.
Tanto quanto pude deixei-me contemplar. Ora a miragem se mostrava apenas em reflexo sobre casas, mais a frente através de coqueiros e o ápice daquele momento se fez, depois, pouco a pouco através de galhos, delirantemente.
Como seria ver esse por de sol na Lagoa Juparanã? Volta-me o assedio da contemplação e penso parar ali, mas como se trata de momento único no dia, tão lindo quanto mais fugidio, ao divisar parte do espelho de suas águas que se divisa da estrada, provei da melancolia da saudade. O céu retomara quase por inteiro sua cor de fim de tarde depois que o sol nos diz até amanhã.
Prossegui embalada pela lembrança que seria substituída por outros pensamentos, quando o trânsito para e mais a frente entendo porquê, havia uma manifestação dos caminhoneiros. O trabalho deles é exaustivo e quem de direito resolveu condicionar seus horários a seis horas diárias com um repouso de trinta. Protestavam pois não ganhariam o suficiente para pagar as próprias contas. O que será, será.
O sol que nasceu para todos e a todos aquece e cumpre sua jornada, despedindo-se em esplendor cumpre fielmente seu horário, faz sua parte, mesmo quando as nuvens se fazem densas e ofuscam sua luz, por sobre elas ele permanece a brilhar, registre-se, sempre intensamente.
Pobres homens que não se contentam, querem sempre mais e quem mais alcança quer ainda mais e absorve com o excesso a parte que já seria de um outro. É assim que caminha a humanidade entre lutas e passividades, entre vitórias e fracassos, entre ambições e comodismos, entre querer o que não pode ter e desfazer do que pode saborear.
Ah se fôssemos como o sol, que se já não brilha aqui é porque, por ordem do giro da terra se foi para uma outra parte dela onde, registre-se, continua a brilhar, persevera impávido e nunca deixa de fazer o que deve fazer e de ser o que é.

Marlusse Pestana Daher
Mateenseando em 27 de julho de 2012