![]() |
Imagem do que foi. |
Fiquei sabendo que o
Secretário de Cultura, Maurício Silva, pretende deixar em São Mateus um marco
de sua passagem pelo honroso cargo. Para
tanto, ele tem não uma única, mas também outra razão, sua amada nasceu
naquela terra. Ele mesmo tem seu nome escrito nas páginas da vida cultural mateense.
O local seria o casarão
(onde S. Dodo Rios teve uma venda) ao lado daquele, da esquina, (dos Jogaib) já
reconstruído. Mas só resta a fachada e fundos para o Rio Cricaré.
Eu sei porquê. O Porto? Há um misticismo que envolve aquela terra... um rio que corre para cima... e quando o vento sopra desenha velhas figuras na sua superfície espelhada. Ao passar por entre as folhas das árvores, canta um canto, inaudível embora.
![]() |
À espera de navio. |
O velho Porto continua
sendo envolvido de sacrossanto misticismo ou mistério, pela prosperidade que
assegurou à região, no tempo em que navios como o Lóid, aportavam ali. Tempo em
que sua chegada levava toda uma comitiva de gente bem vestida à espera.
Ao lado disto, quem não
sente ternura pela lembrança daquele mercado onde havia algumas vendas, açougue
e malandragem, onde se bebia muita “pinga”, conversava-se alto e se dizia...
cada palavrão!
A sua frente, eternizava-se o Menino com lata d’água na cabeça, o chafariz, cuja generosidade era devida às seis fontes de água nascidas lá na Biquinha.
Mas há quem prefira do
Porto, a lembrança de uma constelação de mulheres prostituídas às quais se deve
agradecer a ainda que precária, conservação dos casarões. É o que acham. Depois
que elas espontaneamente ou constrangidas se foram, os casarões tombaram e veio
o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que o restante tombou, isto é,
declarou o conjunto como sendo: patrimônio cultural.
![]() |
O mercado. |
A casa da esquina
seguinte, ora, era a venda do tio Zé Daher, no cruzamento das Ladeiras de São
Mateus, mais íngreme e que na extensão, passava a se chamar Rua Sete, com a
ladeira de São Benedito, mais extensa e mais transitada, de onde se contemplava
o serpentear do rio e onde cegos – dos piores porque não quiseram ver –
permitiram construções e nunca mais uma criança desceu por ali fazendo a
descida de escorregador, sentado numa folha de coqueiro.
Gente de posses morava no Porto, havendo quem de tal forma teria
pressionado um Prefeito da época que o mesmo cometeu o crime do qual ficaria
sem perdão por todas as gerações. Por ouvirem falar das palmeiras imperiais que
margeavam o cais e da beleza que tinham e que foram cortadas, sentem de tal
forma a prepotência daquela lembrança e se indignam que ainda visualizam os
grandes troncos que jogados no rio para serem levados pela correnteza,
resistiam em se apartar do solo onde haviam crescido.
No porto, uma garotada
traquinas encontrava o lugar dos banhos de rio. Deliciava-se com saltos
incríveis do trampolim do trapiche de S. Ermelindo. Infelizmente, dessas
oportunidades há registro de quem não voltou. Terá sentido câimbra ouvia-se dizer e o fato é que “no verde dos
anos” se foram dessa vida.
O Porto foi berço da
cidade de São Mateus, os primeiros palpitares da vida mateense aconteceram no Porto.
A palavra é dura, mas é verdadeira, foi quando se deu a decadência portuária
que as famílias foram subindo e acabou que “lá em baixo” só ficou, quem não
tinha outra opção.
A certa altura, tudo
despencava. Foi conseguida uma verba federal para proceder à revitalização do
Porto. Alguma coisa foi feita, mas de tudo que o Porto foi, agora é apenas um
lugar que luta em busca de recuperação não se diga de todo apogeu de um tempo,
mas ao menos, relativamente.
Vez ou outra, os tambores
de congo ainda se ouvem por lá, um artista sonhador daqui e dali refugia-se nas
lembranças e onde encontra um espaço, abriga-se, como pode. Sente como que
obrigação de cantar loas aos casarões, num faz de conta que tudo ainda é igual
como fora antes.
Visitantes que descem a
ladeira, continuam se deslumbrando, afinal de contas, por ali, um rio de águas
mansas continua passando rumo ao mar, não sem dar uma certa impressão de que
vez ou outra, talvez para se juntar ao
contingente das águas que caminham atrás, como que volta.
Há quem por alguma mágoa
desvinculou-se do velho Porto. Sem desvalorizar suas realidades, mas também sem
ver razão para “mover uma única palha” que seja, pró recuperação ou para lhe
assegurar atualidade.
Se emparelhado, você
caminhar com o rio, chegará no Vale do Cricaré, de uma vegetação de verde
verdíssimo, beleza de se ver. Por ai, vai ficar mais longe, mas se continuar
caminhando, chegará à Barra Nova, onde o rio se entrega ao mar.
Eis, são argumentos num
intervalo de tempo, digamos de sessenta minutos. Pinceladas entre encantos que
não só geram, mas se fazem a própria poesia.
Entendo quem em São
Mateus, quer sempre colocar algo que diga respeito à cultura no velho Porto, em
uma das casas que existem ou que ainda possam ser reerguidas, mas, permitam-me
que diga ou sugira: quer fazer faça, mas não se esqueça que os tempos passaram
e mudaram tudo.
Um teatro, por exemplo?
Então antes, torne o lugar mais atraente e mais frequentado, não só por quem
quer ver, mas por muitos que caminhem pra cá e para lá, que se mexem, que circulam
por um objetivo, que trabalham, produzem, vivem e convivem.
Mais gente, mais infraestrutura,
saúde e educação. Teatro é representação do dia a dia, sem dia a dia, como ter
teatro? Representar o quê, por que
questionar.
Um teatro novinho, no meio
de quase tudo velho no entorno, acabará
por não ser usado e se terá feito um gasto inútil, só porque se deu
ouvido apenas à voz do coração.
Marlusse Pestana Daher
Vitória, 12 de dezembro de
2013
22:55