segunda-feira, 5 de junho de 2017

CARTA DO CACIQUE SEATLE EM RESPOSTA AO GOVERNO DOS EEUU

A CARTA DO CHEFE INDÍGENA SEATTLE - (1854)

Resposta do Cacique Seattle ao Governo dos Estados Unidos que tentava comprar as suas terras (1854):

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?

Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.

Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós.

O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.

Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.

Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.

Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.

E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.

O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.

Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.

Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.

Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.

Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.

O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.

Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e ferí-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.

Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnadas do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.

Onde está o arvoredo?  Desapareceu.

Onde está a águia?  Desapareceu.

É o final da vida e início da sobrevivência. O que significa dizer adeus ao pônei ágil e a caça. Guardem na memória a recordação deste país tal como está no momento em que o tomam. e com toda a sua força, todos o seus pensamento, todo o seu coração, preservem-no para os seus filhos e amem-no como Deus nos ama a todos.

Assim iremos considerar a sua oferta de compra a nosssa terra. E se aceitarmos será para estar seguros de receber a reserva que nos prometeram. Lá talvez poderemos terminar as  breves jornadas que nos restam  viver, segundo os nossos desejos. 

E quando o último homem vermelho tiver desaparecido desta terras e que a nossa lembrança não for mais do que a sombra de uma nuvem flutuando na planicie, estas margens e estas florestas abrigarão ainda os espíritos do meu povo. Pois eles amam esta terra como o recém-nascido ama o batimento do coração da sua mãe. Assim se  nós lhes vendermos nossa terra, amem-na como nós a amamos. Tomem conta dela como nós o fizemos.

Nós sabemos de uma coisa: nosso Deus é o mesmo Deus. Ele ama esta terra . O próprio homem branco não pode escapar ao destino comum.  Talvez sejamos irmãos. Veremos. 








Se  gostar, leia TERRA DOS MIL POVOS, de Kaká Werá Jacupé, índiio txucaramãe  que conta o que ouviu dos seus ancestrais.

Para baixar em pdf: 
https://www.fnlij.org.br/.../download/12_8bfdb96a7adca13a92f5d142d3eda631.html



A QUESTÃO É A CASA

Escrevi este artigo em 2010. Menciono Kyoto, cujo protocolo acaba de ser insensatamente, abandonado pelo Presidente dos EEUU. Deixo como está também para que se façam comparações e se veja se alguma coisa mudou.



Porque hoje, 5 de junho, é                                                                                                                                                                                                                            Dia Internacional do Meio Ambiente.

Caparaó

Casa de Pedra - Caparaó

Sim,  a casa! Aquele “eco” que vem do grego “oikos” componente da palavra ecologia, quer dizer casa. Você sabia?

        A preocupação com a nossa casa fez surgir uma consciência mundial da necessidade de todos os povos contribuírem na redução da emissão na atmosfera, de gás carbônico considerado o principal causador do “efeito estufa”,  que ameaça o aquecimento do planeta em até três graus Celsius, em cem anos, derretendo geleiras, causando alterações climáticas, repercutindo em ainda pior qualidade de vida dos que no futuro viverão.

Buscando amenizar, realizou-se  em  Kyoto,  no Japão, (1997), uma conferência, no curso da qual ficou definido que os países mais desenvolvidos, líderes, por ironia,  na emissão desse gás, deveriam diligenciar para que entre  2008 e 2012  tal emissão esteja reduzida em uma média global de 5,2%. Feito o cálculo do investimento respectivo resultou que são necessários bilhões e mais bilhões de dólares.

Surgiu portanto um outro questionamento,  quem vai pagar a conta?  E este foi,  sem resultado satisfatório e sem unanimidade na conclusão, objeto da  Conferência de Haia, encerrada na sexta-feira da semana que passou. O certo é que tem que ser feito. O desenvolvimento que já não se concebe sem o qualificativo sustentável,  impõe o encontro dos meios, é  problema de inadiável solução. E para dar continuidade ao debate, a VIIª Conferência se realizará no Marrocos, já no próximo ano.

        O Brasil foi representado por  Fábio Feldman, secretário executivo do “Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas”. Por Luciana (16) de Brasília e por Martim (15) de Pelotas. É consolante  constatar que  as questões ambientais estão em pauta e são capazes de reunir gente do mundo inteiro e de toda idade.

O meio ambiente fascina! Carecemos de vontade inquebrantável, que impeça o desrespeito a bem que depois de ferido, nunca mais será o mesmo,  é o caso do “Penedo”, na Baía de Vitória. E não foi por falta de fazer ver “que um filho teu não foge a luta”,  porque sabemos dos esforços ingentes envidados por Beatriz Abaurre e seus colegas do Conselho Estadual de Cultura,  quando ela estava  presidente, no sentido de impedir. Inclusive, por se tratar de bem tombado. Quem sabe a ameaça que representa para o ecossistema mar, em Aracruz, a implantação Thotam?  Está na Justiça, esperamos que ela não seja tão cega!

        Notícias recentes nos chegam de que se pretende melhor proteger o Parque Nacional do Caparaó,(criado por Decreto de 24 de maio de 1961, asinado pelo então presidente Jânio Quadros) o que  se traduz no aumento de sua área de entorno. Embora devidamente indenizada, significa destruição de lavouras de café.  E ai coloco uma  questão: tudo bem, proteger o meio ambiente é uma aspiração humana e justa, aquela beleza merece, mas não consigo entender, que  a solução preservar, passe exatamente por arrancar o que com muito trabalho alguém plantou.

        Há muito mais meio ambiente sendo degradado por aqui, esperando solução muito mais urgente do que o entorno de Caparaó e não se diga que faltam recursos, pois, pelo visto, quando a vontade é forte, o dinheiro sempre aparece. Logo, não é por falta de recurso que não se faz.

Marlusse Pestana Daher
her27/11/00


Veja o relatório atual.  http://biblioteca.cebds.org/the-business-end-of-climate-change?utm_source=google%20&utm_medium=cpc&utm_content=bussiness_climate&utm_campaign=biblioteca_cebds&gclid=CjwKEAjwgtTJBRDRmd6ZtLrGyxwSJAA7Fy-h18or4tYaxbG1okWxKXxkS-muSKh3BGgGFYBEyPF6nBoCo4Dw_wcB