Despertei mais cedo e
assim, sem outra coisa para fazer, decidi por uma caminhada que médicos sempre
recomendam. Deveria tomar gosto.
Optei por sair pela
direita que me levou à travessia pela ponte “Airton Sena”, onde há sempre alguns
pescadores. É a primeira parada. –Bom dia! estica-se a conversa, mostram-me a
lata onde colocaram pequenas arraias, umas três ou quatro, cada um. Mais um dedinho de prosa e prossigo com um
clássico augúrio: boa continuação de pescaria,
sorrimos.
Como sempre, pequenos
barcos de pesca ancorados e dispersos pelo canal, dão à paisagem um tom de mais
beleza, que a luminosidade do sol projetando-se sobre as águas, acrescenta
majestosamente.
Nestas primeiras horas da
manhã, o sol é também benfazejo, pelo que sua incidência sobre a pele chega a
ser agradável, talvez pela certeza inclusive
do bem que faz.
Os bares estão fechados,
também, só há pouco viram sair o último freguês, hoje é sábado e só dois dias
após o Natal.
Chego à praia e atinge meu
olfato odor fétido, era o caminhão de lixo que passava. Voltei, certa de que
meus passos pela direção a baixo, não o ultrapassaria e assim estaria totalmente
fulminado, o agradável de caminhar.
Caminho, caminho, sento
num banco, deixo o sol se encarregar de nutrir a região das minhas costas com
seus raios ultravioleta. E então observo. Crianças não, mas adultos há de toda
idade.
Chama-me a atenção, o
balançar não comum de mãos e braços de um octogenário e o compasso firme e
célere dos seus passos. Não me passa despercebido que a perna direita não tem o
mesmo movimento da outra, indício de precedente desagradável, que certamente
motivou-o à prática de exercícios matinais e o alegram pela conquista.
Lá vem outro homem, nossa,
que barriga enorme... a bermuda está
cintada abaixo dela... Passa exatamente à minha frente. Desvio o olhar da
barriga para sua face e deparo-me com uma expressão de quem não se sente
diferente pela barriga que tem e que convive perfeitamente, normalmente com
ela. A admiração fica comigo.
Desisto da contemplação do
mar, posto que sempre provo uma pitada de nostalgia causada pela incidência,
mar a dentro, do porto de Tubarão que da altura em que me postei, até parece
que fechou o mar, transformando aquela porção de água em nada menos que simples
baía.
Em direção oposta, ah,
eles, os arranha-céus! São muitos de diversas cores, variam também, ainda que
não expressivamente, em altura. Vitória ficou pequena, derrubaram-se quase
todas as casas da Praia do Canto e em seus lugares, construíram-se edifícios,
eles permitem no mesmo pedaço de chão, morada de mais gente.
O homem tem sede de bem
viver e com dinheiro vai pensando que está comprando seu bem estar.
Que bonita vai-se tornando
sempre mais esta Vitória!
Já no ponto onde espero
que o sinal se feche para atravessar a rua, surge ao meu lado, um metro e quarenta, por aí, com uma velha
bermuda molhada, auricular a posto, telefone na mão, dança tranquilamente ao
som da música que ouve.
Atravesso a rua, prossigo,
ao final do segundo quarteirão, ouço peculiar arrastar de chinelo de borracha
no cimento da calçada, não precisei voltar-me, já passava ao meu lado, aquele “hominho”
caminhando e dançando, em frente, até onde lhe desse na telha e depois voltar?
A rua é pública, mesmo que
seja da Praia do Canto, é que sob o sol há sempre lugar para todos e a ninguém
se veda passar.
Marlusse Pestana Daher Vitória, 27 de dezembro de 2014 9:40