terça-feira, 18 de outubro de 2011

QUERER E SABER CONTER-SE

       Existem palavras que aprendemos a usar em único e determinado sentido. De repente, deparamo-nos com uma delas em frase na qual causa ainda melhor efeito, sem abandonar sua perfeição semântica.
        Estou-me referindo à palavra “conter-se”, ouvida em explicação de Sílvia Popovic num programa de Hebe, que apenas por aquele instante me reteve ante o televisor. Prefiro dar risada com Lady Kate a ouvir só coisas.
        Falavam sobre “guarda de segredos”. E antes de prosseguir, ouvida da minha avó materna, tenho que repetir trova que acaba de despertar do sono em que hibernava em mim, surgida essa oportunidade: Quem tiver os seus segredos / não conte à mulher casada / a mulher conta a marido / e o marido ao camarada.
        Voltando ao tema. Conter-se: contive o pranto, isto é, não chorei,  parei de chorar; a vasilha contém biscoitos; foi contido pelo susto; etc, etc, mas o que é conter-se no sentido que me chamou atenção? É como segredo, segredo é segredo e segredo é para ser guardado, debaixo de sete chaves, como se guardam os amigos, segundo Milton.
        Basta que você seja detentor do “mistério” o que mais pretende é desvendá-lo. Todos somos assim e exatamente por isso, todos somos um pouco filósofos, investigadores da verdade, não nos contentamos com o simples ser-ai. Quase como num ímpeto de partilha, até porque ninguém pode ser só, sente-se a necessidade de comunicação com o outro e muitas vezes dessa necessidade nem mesmo o que é segredo escapa.
        Mediante o clássico: vou contar só pra você lá se vai o que sabemos, ouvido de outra pessoa, que contou só a gente. Nem olvidemos que é difícil ser fiel à primeira versão, acaba-se verificando aquela hipótese: quem conta um conto, aumenta um ponto, o segredo, posto que é de segredo que aqui se falam, na trajetória percorrida dificilmente se manterá com a  primeira versão.
        Na busca da verdade, contrariamente a como se comportavam os filósofos nos seus misteres, que para tanto se despojavam de tudo, realizando epochè, agimos embalados pelo som de todos os ruídos e vozes, na contemplação de todas as imagens, figuras e cores, ao sabor de todas as influências, chegamos a um ponto qualquer, mas não a verdade que procurávamos. Mas porque ignoramos aspectos de um método, contentamo-nos com o que tiver sido alcançado, afinal de contas algum esforço foi despendido, caminhou-se até o fim da estrada, objetivo cumprido, satisfação encontrada.
        Entre as muitas virtudes que contribuem para o engrandecimento do espírito está o saber conter-se, não dar asas às sensações provadas como ao impulso de proferir a palavra que deve ser calada, ao invés, usar potencialmente toda energia para externar toda solidariedade que importa ser prestada, a misericórdia que se traduz em acolhimento.
        Não convém despender forças em querer dominar os outros e as coisas, antes importa ser senhor de si, querer e saber conter-se.