Em visita sucessiva ao
Projeto Araçá, em São Mateus, fui presenteada com um livro, no qual foram
reunidos diversos textos de apresentações teatrais protagonizadas por alunos.
Trata-se de ocupação em
que jovens atores veem-se desenvolvendo sempre mais e, com sempre mais exuberância,
“fazem explodir” o talento dos quais são dotados.
E meu pensamento voou aos
anos sessenta, quando fui “atriz” em diversas produções da Profª Norma Zuliani
Rios que no tempo, não avaliei, mas agora fiquei pensando, como é que ela fazia
tanta coisa? Da produção à apresentação, tudo se devia a ela.
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Igreja Velha |
O teatro era o “cinema de
S. Fernando”, parecia uma sala imensa, o palco no centro, de que tamanho
poderia ser não sei, mas nos movimentávamos muito bem, na ribalta. Nas paredes,
a maestria do artista, Cyro Sodré, imprimiu com óleo e pincel, imensos quadros. Imensos? Bem não deveria ser tanto, mas
ocupavam as paredes laterais. Claro, eu disso me lembro muito bem: um, a curva
do rio Cricaré, outro, a Igreja Velha, os dois maiores símbolos paisagísticos
de nossa cidade.
O Cricaré e suas curvas |
Quando se entra hoje no
restaurante ali existente, fica-se a imaginar: quão pequeno é esse espaço! Mas
o cinema parecia tão grande!
Ali, Norma produzia suas
peças e enchia a sala. Havia detalhes no cenário de acordo com o texto e a
população comparecia. Depois de organizar tudo nos bastidores, ela ficava “no
ponto”, a tudo, atentíssima.
Certa feita, a peça tinha
um mordomo (Toninho Carvalho) de quem a governanta da casa (eu) era enamorada.
Fomos maquiados para “amadurecer”. E como se tratava de amor não correspondido,
ela aprontava todas pra cima dele.
Tio Jorge não sabia que a
sobrinha estava “representando” e divertiu-se ainda mais, ao constatar que “aquela
governanta” era ela. Na plateia, dava as mais gostosas gargalhadas. Parece que
o vejo.
De outra feita, acho que
era isto, fui uma menina que adormeceu debruçada numa pedra e sonhou com Nossa Senhora. A pedra
foi um papel pintado de preto. E dai aconteceu o estrago.
Mamãe preparou um vestido
branco, muito bem engomado, eu o vestia. Quando a menina acordou e levantou-se,
o vestido estava todo sujo de preto, braços e rosto também. Imagine se foi
evitado o riso ou até gargalhada de alguém o que, com certeza, quebrou o clima esperado.
Se com os grandes
acontece, imagine-se com amadores.
Havia sempre uma
apresentação no final. Norma me achava capaz de tudo. Escolheu-me para ser a
odalisca que dançaria para um sultão (Jorginho Daher) e começaram os ensaios na
casa dela. A música era o bolero de Dante Santoro e Ghiaroni, tema de uma
novela. (Partiu na caravana da ilusão, que tem o ouro, para comprar o seu
amor...).
E foi ai que veio o
complicador, eu não sabia rebolar de jeito nenhum, algo como a “dança do ventre”,
Norma insistia e nada. Maria Helena Neves foi então chamada, sucesso total!
Era tão bom, alegro-me por
acabar de registrar mais esta bonita lembrança e com ela presto sincera
homenagem a Norma Rios, ícone da cultura Mateense.