Da cepa brotou a rama,
Da rama brotou a flor,
Da flor nasceu Maria,
De Maria, o Salvador.
Baseado
em Lucas, 1,16 ss.
Embora sempre implorassem
juntos ao Senhor o advento de um filho, penso que de certa forma entendiam, que
o tempo de Deus não é o nosso, sabiam que os pensamentos de Deus não são os
nossos. Os planos de Deus estavam bem traçados, o filho que gerassem, seria
precursor do Messias cuja chegada era estimada para a “plenitude dos tempos” o
qual ainda não chegara. A pobre Isabel provavelmente terá provado uma certa humilhação
perante o marido, personagem de destaque, fazia parte da equipe dos sacerdotes
de Abias.
Competia a eles oferecerem os sacrifícios e holocaustos a Javé,
únicos autorizados a entrar no “santo dos santos”. O povo permanecia na área
externa do templo. Era assim o rito litúrgico à época. Mas o que me faz refletir melhor,
no entanto, foi pensar o quanto era feliz a Virgem Maria, “bendita entre todas
as mulheres ... porque acreditou nas coisas que da parte do Senhor lhe foram
ditas”, que, ao invés de se orgulhar por
ter sido escolhida pessoalmente por Deus para protagonizar o fato mais importante, eficaz e duradouro
pelos séculos e séculos sem fim, “conceber do Espírito Santo e dar a luz, o Filho
de Deus que se fazia homem, para salvar a todos”. Considerou como pura
misericórdia o ato de “o Senhor olhar para a humildade de sua serva”. E a salvação
compreendia a geração que já passara, da que vivia, e as futuras, hoje, e os
que ainda estão por vir.
Tudo se deu enquanto no silêncio
– diz-se que foi encontrada ajoelhada - se entregara a oração. Absorta na
contemplação dos mistérios abissais de Deus, tem sua atenção desviada para
improvisa aparição de um Arcanjo que se apresentou como emissário do senhor
para revelar-lhe uma missão a cumprir e para tanto, obter seu consentimento
livre, no uso da liberdade da qual o
mesmo Deus dotou todos os filhos seus.
A saudação tinha caráter
absolutamente insólito e ao mesmo tempo
exclusivamente usada em relação a ela, não pelo interjetivo. “salve”, mas pelo que foi acrescentado a seguir: “cheia
de graça”.
Ave! Salve! Olá! Shalon! Tudo
bem? Como vai? Nada disto, mas “cheia de graça”. Realidade extraordinária e que
além do mais só a ela foi dirigida por
ordem e desígnio do que governa terras, mares e céus.
Mas é natural que quisesse
um esclarecimento: “como se dará isto”? O Arcanjo lhe responde: “o santo que
nascer de ti, será chamado Filho de Deus”. E nada mais se fez necessário para
que generosamente respondesse em promessa que jamais seria descumprida: “eis
aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a Sua Palavra”.
Foi desde sua conceição,
imaculada, o pecado que “emporcalha” todos os descendentes de Adão e que só
pela força do batismo é apagado, não penetrou nela, não a atingiu e quando de
Anna e Joaquim foi concebida esta nova vida, cumprido o tempo da gestação, num oito
de dezembro, nasceu um serzinho que se chamaria, simplesmente Maria. Seus pais
ainda que virtuosos, não tinham olhos capazes de vê-la além da aparência, era
igual à, de todo ser humano; ou que, olhando-a divisassem naquela menina alguma
diferença ou distinção de outras, suas
coetâneas.
Pais verdadeiros em
família exemplar estavam sempre atentos, sempre vigilantes em tudo que lhe
dissesse respeito. E tão compenetrados da realidade, costumes vigentes naqueles
tempos, ainda que fosse tão jovenzinha, não consta que se tivessem oposto ao
seu casamento com um homem bem mais velho que ela. De virtudes reconhecidas,
mas mais velho e mesmo reunindo as qualidades do que lhe deu o título de “homem
justo”, e claro, principalmente, por também ele, ter sido predestinado à missão
de Pai putativo do Filho de Deus encarnado. Protagonizavam os acontecimentos,
mas era Deus a determinar tempo e hora do que quer que fosse que podia
acontecer, sem que disso se rendessem conta, de como se deviam comportar.
E aconteceu o “arranjo”
para as núpcias entre os dois. Mesmo que o período fosse de noivado, fala-se
que estavam desposados (uso a expressão para fidelizar a nomenclatura da época)
como constam das escrituras.
Imensurável “o silêncio de
Maria”. E surgiu um complicador em seguida. Foi promovida a Anunciação,
enquanto a fase da vida entre os dois era, como sobredito, o de noivado. E
apesar de não lhe passarem despercebidos os sentimentos que perpassavam a
reação de José, ainda assim: “conservou no coração as coisas que da parte do Senhor
lhe revelara o arcanjo” Não se tratava de algo comum, mas da gestação do
verdadeiro Deus, Aquele que ela carregava em seu ventre era Deus feito homem.
Dai foi, como é comum, o
surgimento das interrogações. Não podia esconder que estava grávida, “mas como?
de quem”? Não se lê a aflição pela qual certamente
passaram seus pais, por não ter condição de negar a verdade que a ninguém
passava despercebida e no meio do povo, aquelas “conversinhas fiadas e
maldosas”: quem diria hem? Eta santinha
do “pau pioco”...[1]
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Maria enconrta Isabel |
A
conclusão?
E qual foi minha conclusão,
e que, eu sei, não chega a ser novidade?
Assim me expresso porque foi como fui dominada durante a reflexão: Deus é
absolutamente o Senhor, razão porque “toda língua deve confessar isto, para a
glória de Deus Pai”. (Fil. 2,11). Sendo Senhor, é Ele que determina cada
momento de nossas vidas, como já dissera Jeremias 1,5: “antes que te formasse
no seio de tua mãe, te conheci, antes que dele saísse, te santifiquei e te
entreguei para seres profeta das nações”. Não dá para se ter a menor dúvida de
que somos absolutamente conduzidos por ele, sempre que escolhemos a estrada santa, aquela que nem mesmo os loucos
ao trilharem-na, correm o risco de errar.
(Is. 35,8).
Ele projeta o curso dos
nossos dias, tudo que devemos fazer, colocando à nossa disposição as graças
para que executemos o melhor dos melhores possíveis, tudo devidamente
cronometrado. E ainda mais, para
redimir-nos do pecado permitiu que seu Filho humilhando-se se entregasse à
morte na cruz.
Se Ele assegurou: “batei e
abrir-se vos há” (Mt. 8) ... quando chegar o tempo...
Quer saber mais, confira
com o Salmo 138, de Davi.
Marlusse Pestana Daher Vitoria, 12 de janeiro de 2019 23:47