II
FESTIVAL LITERÁRIO CAPIXABA
Vitoria, 23 de maio de 2015 – sábado
O
IMPULSO CRIATIVO NA PRODUÇÃO POÉTICA
A
palavra impulso[1]
X
Estampido
de um tiro.
Anotações para o desenvolvimento da fala.
A ideia de impulso, no
contexto em que a examinamos, logicamente, associa sua exteriorização à do
objeto contido. No caso da poesia _ nosso casso _ se trata daqueles sentimentos
que se foram acumulando não se sabe bem por quanto tempo, em alguém-poeta.
Ou se pode dizer da
presunção de um impulso que se origina num momento interior do poeta e que uma
vez brotado não pode ser contido ou só resta externar. Exemplo prático nos foi
revelado pelo poeta Horácio Xavier. Ele publicou no facebook:
Horácio
Xavier - 15 de maio às 21:33 · E não é
que quando ia me recolher e preparar, a danada da Poesia me pegou?
INSTROSPECÇÃO
Sozinho
/ É o canto do menino / Solitário /
É o estar sem companhia Vazio / É o sentimento lascivo / Assim como a tarde sem guia /
Assim como o dia que alucina
/ Calado / É o coração deixado de lado /
Emudecido / É o corpo largado e partido /
Sofrido / É o desprazer estampado nas frontes /
Esquecido de todos e de tudo /
Esquecido de muitos e de montes / O jorro do medo / Faz o inverso das fontes
Ser poeta é um dom.
Quanto me esforço par
definir poesia a primeira coisa que faço e passar a mão direita sobre o braço
esquerdo (não inventei, é a representação
clássica de traduzir o arrepiar-se.
Acrescento poesia é aquela
sensação de beleza que embarga sua voz e deixa em êxtase ou em estado de
contemplação.
Quis fazer dessa fala algo
muito perto, e assim, de poetas com quem convivemos é que me vali.
E de tanto me encantar com
as poesias reunidas em um livro que já tinha, de me encantar com as trovas que
ele publica no fb, perguntei ao poeta Matusalém Dias de Moura:
-
Desde quando poeta?
Ao ler minha pergunta, enviada via mensagem, para não esquecer, improvisamente, ele
me respondeu: Desde muito cedo, menino ainda, escrevo meus poeminhas. E até
hoje sinto uma necessidade imensa de
continuar escrevendo. Do poeta Jorge Elias, aqui ao lado, ouvi exatamente o
mesmo. Escrever é uma necessidade,
Continuou Matusalém: Penso
que o que me faz poeta é a minha maneira
de olhar o mundo, não é a maneira de olhar o mundo que o faz
poeta, é o ser poeta que o faz olhar o mundo como olha, de
pensar e refletir sobre a beleza da vida e, ao mesmo tempo, me inconformar com
as maldades mundanas, destruidoras do ser humano, "imagem e semelhança do
Criador", o Poeta das poetas.
Por isto sempre se disse que
o poeta é um sofredor.
Sinto-me bem e feliz ao
assumir e dizer, em voz alta, dessa minha sensibilidade. Embeveço-me, com
facilidade com a beleza que encontro pelos caminhos. Às vezes, chego mesmo ao ponto de, chorando, esquecer de mim próprio,
indiferente às minhas responsabilidades sociais e profissionais, para ficar
ali, diante de uma flor, minutos e mais minutos, distraído, em estado de contemplação,
alimentando-me da poesia da vida.
Ante a dor alheia, sinto-me
pequeno, sofro as mesmas dores os sofredores e me dirijo a Deus, em prece e poesia, clamando misericórdia.
HUMILDADE: Sei
que nada me pertence aqui na terra, que nem sequer o meu próprio corpo é meu: a
morte tira-me dele a qualquer tempo e eu tenho que partir.
Mas gostaria de que a
minha passagem por este planeta servisse para minorar o sofrimento de meu
semelhante. Sou inconformado om as impiedades do mundo.
Quando
a técnica, creio que não tenho nenhuma especial. como poesia é arte, procurei ao longo da
vida me aperfeiçoar na composição de meus poemas.
DESTACANDO
TRÊS POETAS
Com o subsidio
generosamente partilhado por Matusalém selecionei três poetas e me permiti
analisar o impulso poético de cada um.

Lendo sejam poesias, ou
crônicas de Matusalém provei verdadeira sensação de quem faz um passeio de
bicicleta, sorvendo o ar fresco de uma manhã cheia de sol.[3]
Escritor, poeta, Matusalém
é referência na literatura capixaba.
O convívio com a
simplicidade de Beatriz Monjardim Faria
Santos Rabelo, elegi-a também para o mesmo fim. Deparei com sua alma
poética de quem os anos não roubaram o encanto progressivo das descobertas que
continua fazendo delas os ais que constituem seus impulsos poético.
Na
evocação: da família poesia p. 5 Sementes de
Sonhos do esposo amado; dos filhos
Facilitando
minha tarefa fomo emprestados versos do poema que lhe dedicou Nelson Monjardim
Faria Santos p. 13 Semente de Sonhos.
É tangida pela
saudade p. 19 saudade / dor maior da perda / sofrimento
Dor profunda e profunda
religiosidade – A ti Jesus p. 22
Maria Antonieta Tatagiba
1694 13/3/1928
Foi a primeira mulher a
publicar um livro no Espírito Santo “FRAUTA AGRESTE” (POESIAS)
Como escreveu Karina
Flleury: Maria Antonieta Tatagiba foi uma poetisa de produção intensa que apesar de
ser aclamada por seus pares, em sua
época, o silêncio
da história insistia em se fazer viva sobre sua voz de tempos
em tempos.
Deixo à curiosidade de
quem ainda não a conhece vir a conhecê-la. A Amaletras se encarregou de
reeditar seu livro Frauta Agreste, acrescido de outras poesias, do seu único
conto encontrado em pesquisa de sua estudiosa K F.
A poesia de Tatagiba é um consoante
diálogo com o criado, com as pessoas com o amor. Os seus impulsos foram os
mesmos.
Poetou sobre tardes chuvosas, fez bom uso de onomatopeias mas sem
dúvida extravasa toda sua emoção de poeta no poema Ruyzinho de cuja morte nunca se curou, o
pranto nunca cessou, chegando a ser dito que a tuberculoso que lhe ceifou a
vida aos 32 anos de idade foi colhida nas manhãs frias de São Pedro de
Itabapoana ao levar flores a sepultura
do filhinho.
Alguém
me insinuou sobre a não oportunidade de reedição de sua obra pela linguagem que
os jovens não adotam
Tive que responder com a
estupefação que causo, quando digo: eu
também não gosto de Drumond.
A linguagem de Antonieta é
sim rebuscada sabendo mesmo a preciosismo não a justificasse o tempo em que os
bons poetas não dispensavam o uso de palavras difíceis, de uso não comum.
Mas não foge ao impulso
poético que se constitui em escolha do tema abordado nesta II Flica.
RUYZINHO
Maio... Ressoam
no ar as harmonias
Dos bronzes e
das longas litanias...
Foi em maio...
há um ano que partiste...
E este mesmo
sino que risonho, agora,
Tange, na tarde
em que foste embora
Soava num dobre
compassado e triste.
Tudo revive com
o dulçor do outono...
Só tu jamais te
acordas desde sono...
Há um frescor de
verduras orvalhadas,
Pelos campos de
um lindo verde-gaio,
O mais suave
azul no céu de maio,
Lírios se
abrindo á beira das estradas...
Maio voltou
florindo os matagais,
Só tu partiste
para nunca mais!
Quando entardece
para a ermida à pino
No alto do
outeiro, vejo rumorosas
Ledas crianças
carregando rosas...
É vazio o teu berço
pequenino...
Quanta
alegria!... O sino lembra um monge
Rezando a missa
nova... E tu... ai! Longe...
Tudo vibrando
alegre como um guizo...
E em meio deste
rir que no ar espoca
Visse eu
sorrindo a flor da tua boca
Que a terra me
seria um paraíso!
Maio... cantam
os sinos... não despertas!
As faces
brancas; de livor cobertas,
Adormeceste
lindo, um rubro manto
Recamado de
estrelas cor de ouro,
Um diadema no
cabelo louro
Entre círios e
flores qual um santo!
Não tens saudade
do teu doce lar,
Quando na terra
tudo anda a cantar?
Dessa existência
de horas passageiras
Que tiveste? Da
casa onde era um fio
De música o teu
leve balbucio,
E onde os lírios
te olhavam das floreiras?
De quem te
acalentava com carinho,
Quando o luar
descia, cor de linho,
E estrelas de
ouro lá no céu de bruços,
Dormir te viam
cheias de meiguice?
Daquela voz tão
doce que te disse
O ultimo adeus
cortada de soluços?
Tudo revive com
o dulçor do outono...
Só tu não deixas
este longo sono...
Maio voltou
florindo os matagais
E enquanto expira
a tarde azul e pura,
De rosas cubro a
tua sepultura,
Porque partiste
para nunca mais!
Para sentir impulso poético é preciso ser poeta.
[1]
Mas não se pode falar em impulso que não esteja em alguém.
[2]
Comecei lendo Bilac, Álvares de
Azevedo, Guilherme de Almeida, Raimundo Correia; depois, os modernos,
principalmente Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, J.
G. de Araújo Jorge, dentre muitos outros brasileiros.
Também
li (e releio vez ou outra) os grandes mestres da poesia universal: Petrarca, Dante,
Virgílio, Homero, Camões, São João da Cruz, Fernando Pessoa, T.S. Eliot, Walt
Whtman, Bashô e muitos outros... E continuo lendo e aprendendo, tentando
melhorar minha produção poética.
Também leio poetas ruins: com eles aprendo como não se deve
escrever um poema.
Ouvir música também me ajuda muito e, às vezes, me
inspira alguns versos. Gosto muito da música clássica, tanto instrumental
quanto operística. Mas também gosto de música caipira: ouvindo uma canção
sertaneja, reencontro-me, pois minha origem é camponesa. Saí do campo aos 16
anos de idade.
De
tudo que escrevo, tenho um pouco mais de afeição pelos poemas que escrevo em
homenagem à minha mãe. Sempre me comovo ao falar dela. Certo é - não posso
negar - que gosto mais de uns que dos outros, mas me é impossível enumerá-los
aqui, neste instante.
[3]
Comecei lendo Bilac, Álvares de
Azevedo, Guilherme de Almeida, Raimundo Correia; depois, os modernos,
principalmente Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, J.
G. de Araújo Jorge, dentre muitos outros brasileiros.
Também
li (e releio vez ou outra) os grandes mestres da poesia universal: Petrarca,
Dante, Virgílio, Homero, Camões, São João da Cruz, Fernando Pessoa, T.S. Eliot,
Walt Whtman, Bashô e muitos outros... E continuo lendo e aprendendo, tentando
melhorar minha produção poética.
Também leio poetas ruins: com eles aprendo como não se deve
escrever um poema.
Ouvir música também me ajuda muito e, às vezes, me
inspira alguns versos. Gosto muito da música clássica, tanto instrumental
quanto operística. Mas também gosto de música caipira: ouvindo uma canção
sertaneja, reencontro-me, pois minha origem é camponesa. Saí do campo aos 16
anos de idade.
De
tudo que escrevo, tenho um pouco mais de afeição pelos poemas que escrevo em
homenagem à minha mãe. Sempre me comovo ao falar dela. Certo é - não posso
negar - que gosto mais de uns que dos outros, mas me é impossível enumerá-los
aqui, neste instante.
[4] Ib
p. 17, 37, 39