domingo, 24 de maio de 2015

O IMPULSO CRIATIVO NA PRODUÇÃO POÉTICA

II FESTIVAL LITERÁRIO CAPIXABA
Vitoria, 23 de maio de 2015 – sábado
O IMPULSO CRIATIVO NA PRODUÇÃO POÉTICA

A palavra impulso[1]
X
Estampido de um tiro.

Anotações para o desenvolvimento da fala. 


A ideia de impulso, no contexto em que a examinamos, logicamente, associa sua exteriorização à do objeto contido. No caso da poesia _ nosso casso _ se trata daqueles sentimentos que se foram acumulando não se sabe bem por quanto tempo, em alguém-poeta.
Ou se pode dizer da presunção de um impulso que se origina num momento interior do poeta e que uma vez brotado não pode ser contido ou só resta externar. Exemplo prático nos foi revelado pelo poeta Horácio Xavier. Ele publicou no facebook:

Horácio Xavier  - 15 de maio às 21:33 · E não é que quando ia me recolher e preparar, a danada da Poesia me pegou?

INSTROSPECÇÃO

Sozinho / É o canto do menino  /  Solitário /  É o estar sem companhia  Vazio /  É o sentimento lascivo /  Assim como a tarde sem guia  /  Assim como o dia que alucina  /  Calado /  É o coração deixado de lado  /  Emudecido  /  É o corpo largado e partido  /  Sofrido  /  É o desprazer estampado nas frontes  /  Esquecido de todos e de tudo  / Esquecido de muitos e de montes  /  O jorro do medo  / Faz o inverso das fontes

Ser poeta é um dom.

Quanto me esforço par definir poesia a primeira coisa que faço e passar a mão direita sobre o braço esquerdo (não inventei, é a representação  clássica de traduzir o arrepiar-se.

Acrescento poesia é aquela sensação de beleza que embarga sua voz e deixa em êxtase ou em estado de contemplação.


Quis fazer dessa fala algo muito perto, e assim, de poetas com quem convivemos é que me vali.

E de tanto me encantar com as poesias reunidas em um livro que já tinha, de me encantar com as trovas que ele publica no fb, perguntei ao poeta Matusalém Dias de Moura:

- Desde quando poeta?

 Ao ler minha pergunta, enviada via mensagem, para não esquecer, improvisamente, ele me respondeu: Desde muito cedo, menino ainda, escrevo meus poeminhas. E até hoje sinto uma necessidade imensa de continuar escrevendo. Do poeta Jorge Elias, aqui ao lado, ouvi exatamente o mesmo. Escrever é uma necessidade,

Continuou Matusalém: Penso que o que me faz poeta é a minha maneira de olhar o mundo, não é a maneira de olhar o mundo que o faz poeta, é o ser poeta que o faz olhar o mundo como olha, de pensar e refletir sobre a beleza da vida e, ao mesmo tempo, me inconformar com as maldades mundanas, destruidoras do ser humano, "imagem e semelhança do Criador", o Poeta das poetas.

Por isto sempre se disse que o poeta é um sofredor.

Sinto-me bem e feliz ao assumir e dizer, em voz alta, dessa minha sensibilidade. Embeveço-me, com facilidade com a beleza que encontro pelos caminhos. Às vezes, chego mesmo ao ponto de, chorando, esquecer de mim próprio, indiferente às minhas responsabilidades sociais e profissionais, para ficar ali, diante de uma flor, minutos e mais minutos, distraído, em estado de contemplação, alimentando-me da poesia da vida.

Ante a dor alheia, sinto-me pequeno, sofro as mesmas dores os sofredores e me dirijo a Deus, em prece e poesia, clamando misericórdia.
HUMILDADE: Sei que nada me pertence aqui na terra, que nem sequer o meu próprio corpo é meu: a morte tira-me dele a qualquer tempo e eu tenho que partir.
Mas gostaria de que a minha passagem por este planeta servisse para minorar o sofrimento de meu semelhante. Sou inconformado om as impiedades do mundo.

Quando a técnica, creio que não tenho nenhuma especial. como poesia é arte, procurei ao longo da vida me aperfeiçoar na composição de meus poemas.
E como fiz isso? Lendo os outros poetas. [2]

DESTACANDO TRÊS POETAS


Com o subsidio generosamente partilhado por Matusalém selecionei três poetas e me permiti analisar o impulso poético de cada um.



Matusalém Dias de Moura que consegue transpor para a poesia a transparência de sua alma poeta forjada no eito, no cabo de uma enxada e que depois sem nenhum desprezo pelo que se ocupava aceita carona nas nuvens que passam e vai galgando as alturas que a sua frente descortinam.
Lendo sejam poesias, ou crônicas de Matusalém provei verdadeira sensação de quem faz um passeio de bicicleta, sorvendo o ar fresco de uma manhã cheia de sol.[3]
Escritor, poeta, Matusalém é referência na literatura  capixaba.


O convívio com a simplicidade de Beatriz Monjardim Faria Santos Rabelo, elegi-a também para o mesmo fim. Deparei com sua  alma poética de quem os anos não roubaram o encanto progressivo das descobertas que continua fazendo delas os ais que constituem  seus impulsos poético.
Na evocação:     da família poesia p. 5  Sementes de  Sonhos do esposo amado;     dos filhos

Facilitando minha tarefa fomo emprestados versos do poema que lhe dedicou Nelson Monjardim Faria Santos  p. 13 Semente de Sonhos.
                        É tangida pela saudade  p. 19    saudade / dor maior da perda / sofrimento
                        Dor profunda e profunda religiosidade – A ti Jesus p. 22

 
Maria Antonieta Tatagiba 1694          13/3/1928
Foi a primeira mulher a publicar um livro no Espírito                                        Santo “FRAUTA AGRESTE” (POESIAS)
Como escreveu Karina Flleury: Maria Antonieta Tatagiba  foi uma poetisa de produção intensa que apesar de 
ser aclamada por seus pares, em sua época, o silêncio
da história insistia em se fazer viva sobre sua voz de tempos
em tempos.

Deixo à curiosidade de quem ainda não a conhece vir a conhecê-la. A Amaletras se encarregou de reeditar seu livro Frauta Agreste, acrescido de outras poesias, do seu único conto encontrado em pesquisa de sua estudiosa K F.

A poesia de Tatagiba é um consoante diálogo com o criado, com as pessoas com o amor. Os seus impulsos foram os mesmos.

Poetou sobre tardes  chuvosas, fez bom uso de onomatopeias mas sem dúvida extravasa toda sua emoção de poeta no poema  Ruyzinho de cuja morte nunca se curou, o pranto nunca cessou, chegando a ser dito que a tuberculoso que lhe ceifou a vida aos 32 anos de idade foi colhida nas manhãs frias de São Pedro de Itabapoana   ao levar flores a sepultura do filhinho.

Alguém me insinuou sobre a não oportunidade de reedição de sua obra pela linguagem que os jovens não adotam

Tive que responder com a estupefação que causo, quando digo: eu também não gosto de Drumond.

A linguagem de Antonieta é sim rebuscada sabendo mesmo a preciosismo não a justificasse o tempo em que os bons poetas não dispensavam o uso de palavras difíceis, de  uso não comum.

Mas não foge ao impulso poético que se constitui em escolha do tema  abordado nesta II Flica.

RUYZINHO     

Maio... Ressoam no ar as harmonias
Dos bronzes e das longas litanias...
Foi em maio... há um ano que partiste...
E este mesmo sino que risonho, agora,
Tange, na tarde em que foste embora
Soava num dobre compassado e triste.

Tudo revive com o dulçor do outono...
Só tu jamais te acordas desde sono...
Há um frescor de verduras orvalhadas,
Pelos campos de um lindo verde-gaio,
O mais suave azul no céu de maio,
Lírios se abrindo á beira das estradas...

Maio voltou florindo os matagais,
Só tu partiste para nunca mais!
Quando entardece para a ermida à pino
No alto do outeiro, vejo rumorosas
Ledas crianças carregando rosas...
É vazio o teu berço pequenino...

Quanta alegria!... O sino lembra um monge
Rezando a missa nova... E tu... ai! Longe...
Tudo vibrando alegre como um guizo...
E em meio deste rir que no ar espoca
Visse eu sorrindo a flor da tua boca
Que a terra me seria um paraíso!

Maio... cantam os sinos... não despertas!
As faces brancas; de livor cobertas,
Adormeceste lindo, um rubro manto
Recamado de estrelas cor de ouro,
Um diadema no cabelo louro
Entre círios e flores qual um santo!

Não tens saudade do teu doce lar,
Quando na terra tudo anda a cantar?
Dessa existência de horas passageiras
Que tiveste? Da casa onde era um fio
De música o teu leve balbucio,
E onde os lírios te olhavam das floreiras?

De quem te acalentava com carinho,
Quando o luar descia, cor de linho,
E estrelas de ouro lá no céu de bruços,
Dormir te viam cheias de meiguice?
Daquela voz tão doce que te disse
O ultimo adeus cortada de soluços?

Tudo revive com o dulçor do outono...
Só tu não deixas este longo sono...
Maio voltou florindo os matagais
E enquanto expira a tarde azul e pura,
De rosas cubro a tua sepultura,
Porque partiste para nunca mais!


Para sentir impulso poético é preciso ser poeta. 








[1] Mas não se pode falar em impulso que não esteja em alguém.

[2] Comecei lendo Bilac, Álvares de Azevedo, Guilherme de Almeida, Raimundo Correia; depois, os modernos, principalmente Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, J. G. de Araújo Jorge, dentre muitos outros brasileiros.
Também li (e releio vez ou outra) os grandes mestres da poesia universal: Petrarca, Dante, Virgílio, Homero, Camões, São João da Cruz, Fernando Pessoa, T.S. Eliot, Walt Whtman, Bashô e muitos outros... E continuo lendo e aprendendo, tentando melhorar minha produção poética.
Também leio poetas ruins: com eles aprendo como não se deve escrever um poema.
 Ouvir música também me ajuda muito e, às vezes, me inspira alguns versos. Gosto muito da música clássica, tanto instrumental quanto operística. Mas também gosto de música caipira: ouvindo uma canção sertaneja, reencontro-me, pois minha origem é camponesa. Saí do campo aos 16 anos de idade.
De tudo que escrevo, tenho um pouco mais de afeição pelos poemas que escrevo em homenagem à minha mãe. Sempre me comovo ao falar dela. Certo é - não posso negar - que gosto mais de uns que dos outros, mas me é impossível enumerá-los aqui, neste instante.

[3] Comecei lendo Bilac, Álvares de Azevedo, Guilherme de Almeida, Raimundo Correia; depois, os modernos, principalmente Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, J. G. de Araújo Jorge, dentre muitos outros brasileiros.
Também li (e releio vez ou outra) os grandes mestres da poesia universal: Petrarca, Dante, Virgílio, Homero, Camões, São João da Cruz, Fernando Pessoa, T.S. Eliot, Walt Whtman, Bashô e muitos outros... E continuo lendo e aprendendo, tentando melhorar minha produção poética.
Também leio poetas ruins: com eles aprendo como não se deve escrever um poema.
 Ouvir música também me ajuda muito e, às vezes, me inspira alguns versos. Gosto muito da música clássica, tanto instrumental quanto operística. Mas também gosto de música caipira: ouvindo uma canção sertaneja, reencontro-me, pois minha origem é camponesa. Saí do campo aos 16 anos de idade.
De tudo que escrevo, tenho um pouco mais de afeição pelos poemas que escrevo em homenagem à minha mãe. Sempre me comovo ao falar dela. Certo é - não posso negar - que gosto mais de uns que dos outros, mas me é impossível enumerá-los aqui, neste instante.

[4] Ib p. 17, 37, 39