sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Setembro Mês da Bíblia 2013



Discípulos missionários a partir do Evangelho de Lucas

"Alegra-vos comigo encontrei o que havia perdido"

Escrito por: Prof. Odalberto Domingos Casonatto
Depois do estudo dos quatro evangelhos para conhecer a pessoa de Jesus Cristo e sua mensagem em preparação ao novo milênio retornamos 10 anos depois com o estudo dos evangelhos, mas agora com outros enfoques e desafios. Assim como foi estudado no mês da Bíblia de 2012 o evangelho de Marcos este ano estamos estudando o evangelho de Lucas.
A proposta agora é conhecer o Evangelho de Lucas sob o olhar do discipulado-missionário, conforme o enfoque do Projeto de Evangelização: O Brasil na missão Continental assume o tema do mês da Bíblia de 2013. O tema para o mês bíblico 2013 se alia a caminhada do ano Litúrgic, o ano C, em que privilegia o evangelho de Lucas relevando os cinco aspectos fundamentais do processo do discipulado:
- o encontro com Jesus Cristo;
- a conversão;
- o seguimento;
-a comunhão fraterna;
- e a missão propriamente dita.
O lema para este mês Bíblico que foi indicado pela Comissão Bíblico-Catequética da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) é: "Alegrai-vos comigo, encontrei o que estava perdido" (Lc 15).
Quem é o autor do evangelho de Lucas?
Desde os primeiros séculos os autores consideram que o evangelho seja de Lucas. Muitos comentaristas atribuem ao evangelista Lucas à profissão de médico (cf. Cl 4,14) e o identificam com o discípulo e colaborador e secretário de Paulo (cf. Fm 23ss, 2Tm 4,11). Possivelmente tratou Paulo em suas enfermidades.
As narrativas que encontramos no evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos indicam que Lucas possui vasto conhecimento da língua e cultura grega sendo influenciado pelo estilo dos historiadores de sua época (Lc 2,1-2) dos poetas gregos; utilizando a tradução grega da Bíblia e conhecendo bem o Império Romano, mas quase nada da Palestina. No seu Evangelho muitas vezes as informações sobre a Palestina carecem de um conhecimento mais profundo, fato este comprovado no decorrer da narrativa.
Época? Lugar onde foi escrito? Qual era seu objetivo?
O Evangelho de Lucas deve ter sido escrito entre os anos 80 a 90 e não há uma precisão exata sobre o lugar onde foi escrito. Se admite que estaria entre a Grécia ou Ásia, ou mesmo a Antioquia da Síria.
Fato notório nos escritos de Lucas é a prioridade dada aos cristãos provenientes do paganismo de cultura grega e aos judeus que moravam fora da Palestina (na diáspora). Eram comunidades de origem Paulinas, com imensas dificuldades de adaptação. Os escritos de Paulo confirmam este aspecto.
Diante da catástrofe que foi a guerra judaica (70 d.C.), do cerco e destruição da cidade de Jerusalém por Tito e 4 legiões romanas,da destruição e incêndio do Templo de Jerusalém, da conquista de Massada 73 d.C., dos conflitos internos e externos que transparecem no texto, o Evangelho de Lucas passou a fortalecer a fé das comunidades e reforçar o seu papel na história da salvação e assim, mantendo-as corajosamente no seguimento a Jesus Cristo. 
Estrutura do Evangelho Segundo Lucas
Existem várias formas de estruturar o Evangelho de Lucas, podemos afirmar que cada comentarista elabora uma estrutura segundo aquilo que desenvolve. Optamos para a proposta de subdividi-lo em seis partes, poderão seguir outras.
A primeira parte (Lc 1,1-4). Consta do prólogo, no qual o autor explica os motivos que o levaram a escrever o Evangelho, apresenta o método utilizado e o dedica a Teófilo. Esta abertura é muito interessante e mostra o que verdadeiramente Lucas se propõe.
A segunda parte (Lc 1,5-4,15). Lucas apresenta um paralelo entre o nascimento e a infância de João Batista e Jesus. Acontecimentos que envolvem a João Batista como a pregação e encarceramento de João Batista contrapondo o ministério público de Jesus (batismo, sua genealogia e as tentações – (Lc 3,1-4,13).
A terceira parte (Lc 4,14-9,50) o autor relata o Ministério de Jesus na Galileia, o acontecimento na sinagoga de Nazaré a rejeição, as atividades se centralizam em Cafarnaum e no lago; discussões com os fariseus, ensinamentos, milagres, parábolas e questões referentes à sua identidade. A parte conclusiva deste período de vida de Jesus conclui-se com a transfiguração, no monte Tabor, onde ele vai com Pedro Tiago e João seus testemunhas.
A quarta parte (9,51-19,27). Lucas narra a viagem de Jesus, com seus discípulos a Jerusalém. Eles percorrem o caminho da Samaria, entre as montanhas. Os judeus não faziam este trajeto, pois não se davam bem com os samaritanos, preferiam o caminho do vale do Rio Jordão até Jericó e depois subiam a Jerusalém, pela antiga estrada romana do deserto da Judéia. Jesus aproveita esta caminhada para instruir seus discípulos e discípulas, as exigências no seguimento e os pontos fundamentais que dariam a base do Reino de Deus.
A quinta parte (Lc 19,28-21,38) Jesus em Jerusalém com a entrada e atividade na área do Templo e o discurso escatológico. Tudo se prepara para o desfecho final.
A sexta parte (22,1-24,53) aparecem as narrativas da paixão, morte, sepultamento de Jesus (22,1-23, 56a), as aparições de Jesus ressuscitado (23,56b-24,35) o episódio do túmulo vazio e da conversa com os discípulos de Emaús a caminho de Emaús (24,13-35); e finaliza com a ascensão ao céu (24, 36-53).
Pontos fundamentais da Teologia Lucana.
Na leitura do evangelho de Lucas destacamos os pontos fundamenta da Teologia Lucana. Dar importância a estes pontos ajudam a termos uma compreensão mais rápida e profunda: Seus escritos buscam acentuar sempre a Teologia da História da Salvação, destacando os títulos cristológicos de Jesus Cristo e ressaltando a importância de Jerusalém. Outros pontos teológicos se consideram colunas fundamentais: mostra um Jesus que reza e ensina a rezar, Lucas não tem medo de ressaltar o papel e a importância das mulheres no seguimento, a contraposição entre pobreza e riqueza (comunidades paulinas que surgem nas periferias das grandes cidades portuárias do Império Romano), como uma das características da ética Lucana e a presença forte do Espírito Santo, podemos dizer que o evangelho de Lucas seja o evangelho do Espírito.
Chaves de leitura do evangelho de Lucas a partir dos pontos fundamentais.
Em Lucas aparece uma Teologia da História.
A Teologia Lucana é marcada por uma ênfase na história da salvação, que é dividida em três períodos:
1) o tempo da preparação, ou período da promessa, que seria  a história de Israel (AT), representado pelas personagens Zacarias, Isabel e João Batista;
2) o tempo do cumprimento da promessa que é o tempo da vida de Jesus; e
3) o tempo do anúncio, da Igreja, retratado no Livro dos Atos dos Apóstolos.
Uma peculiaridade na concepção histórico-salvífica de Lucas é sua abertura universal. Portanto, a salvação atinge todo o tempo e todas as pessoas, a humanidade (cf. Lc 2,30-32; 3,6; 9,52-53; 10,33; 17,16). Com isso, nos aponta para outro ponto fundamental que é o tema da Salvação.
Em Lucas a Salvação e para todos.
A salvação que Lucas demonstra em seu evangelho acontece na história. A compreensão da Teologia Lucana, demonstra que os termos salvação e libertação são equivalentes. Para os pequenos, pobres, marginalizados do Império Romano, a proposta de Jesus é avassaladora. Iria mudar suas vidas iria fazê-los senhores da própria história. A totalidade da pessoa humana seria salva. Nesse sentido, Jesus é o nosso "Salvador" (Lc 2,11; cf. At 5,31; 13,23), supera todas as propostas vinda da "paz Romana" e a ilusão de que o Imperador traria uma nova forma de vida.
Em Lucas Jesus Cristo se mostra misericordioso.
Teologia Lucana apresenta Jesus Cristo como compassivo e misericordioso (cf. Lc 7,13; 10,33; 15,20); Jesus profeta escolhido pelo Pai recebe uma missão de levar a Boa Nova aos pobres, aos pequeninos, aos que se encontram nas periferias das grandes cidades portuárias romanas (Lc 4,16-30; 7,36-50; 13,32-34). Em Jesus se realiza a revelação de Deus (Lc 1,42). Assim aparece no batismo, assim se manifesta na transfiguração do monte Tabor. No ministério público Jesus é apresentado como o Messias enviado por Deus, para salvar o seu povo (Lc 1,47; 2,11.30-32).
Lucas em sua narrativa mostra um Jesus que vai ao encontro dos samaritanos, valoriza os publicanos em Lc 5,27: Levi e em Lc 19,2-10: Zaqueu, dos pecadores (Lc 7,36-50; Lc 15,11-32); da viúva (Lc 7,11-17), enfim dos marginalizados e excluídos da sociedade. O Jesus de Lucas veio para todos e quer salvar a todos. Seu plano de evangelização começa com aquilo que é menosprezado e rejeitado pela sociedade.
Jesus ama a cidade de Jerusalém
O evangelho de Lucas dá grande destaque a cidade de "Jerusalém". Tudo começa e termina em Jerusalém (1,5-23; 24,53). Jesus não se omite de participar das festas de preceito realizadas no templo, em Jerusalém (2,22.42), e metade do evangelho de Lucas narra ou em viagem para Jerusalém ou em estadia nessa cidade (9,50-21,38). Concluindo podemos afirmar que a cidade de Jerusalém é o ponto de chegada de Jesus para realizar a obra (Lc 17,11; Lc 19,28-38) e o ponto de partida para as comunidades assumirem após a ressurreição, a continuidade de sua missão (Lc 24,52).
Jesus vive em Oração..
Lucas coloca em destaque a vida de oração de Jesus a tal ponto que o evangelho se entrelaça com os momentos de oração de Jesus, são muitos textos. Os momentos mais importantes de sua vida, as decisões mais radicais são preparadas pela oração. (Lc 1,10-11.13; 3,21; 5,16.33; 6,12; 9,18.28; 11,1.2-8; 18,9-14; 22,32.41; 23,46).
Em Lucas encontramos um Jesus que reza, nos mostra qual é conteúdo da oração (Lc 10,21-24; 22,42; 23,46), atende o pedido dos discípulos e ensiná-los a rezar (Lc 11,1) mostra que a eficácia da perseverança na oração tem resposta de seu Pai (Lc 18,1-8; 19,6-8; 21,36).
A ética Lucana.
A ética que Lucas apresenta em seu evangelho é voltada para os pobres e marginalizados. Existe uma contraposição entre pobreza e riqueza sendo um dos aspectos centrais do seu programa ético.
Priorizando esta ética Lucas reforça a dimensão do despojamento, como uma exigência do seguimento a Jesus (Lc 5,11; 6,29-36; 9,58; 12,33-34; 14,33; 18,22.25; 21,1-4). Desta sua compreensão ele pede as comunidades confiarem na providência divina (12,29-30).
As mulheres são discípulas de Jesus.
Possivelmente por influência da cultura grega o evangelista Lucas cita um número maior de mulheres seguidoras e discípulas de Jesus dos outros evangelistas. É considerado o Evangelista das mulheres. (Personagens). Não esta apegado a estrutura patriarcal da família Judaica e do menosprezo do judaísmo pela mulher que as consideram impuras. A religião Judaica impõe duramente o sistema do "Puro e do Impuro" Em Lucas a mulher participa da evangelização, acompanha o grupo dos discípulos atua na obra de Jesus.
Maria, mãe de Jesus para Lucas é aquela que se dispõe a participar da história da salvação. É nela que começa a se manifestar o mistério do Deus encarnado. Maria passa ser o modelo do discípulo/ da discípula, pois acolhe Jesus, está presente no seu ministério (4,16-30), discurso inaugural da sinagoga de Nazaré. Além de Maria encontramos ao longo do evangelho de Lucas outras mulheres: Maria, chamada Madalena, Joana, mulher de Cuza, Suzana, que seguem Jesus desde a Galileia (Lc 8,1-3), elas estão presentes na sua morte e são as primeiras testemunhas da Ressurreição (Lc 22,27 e 23,50-56), as mulheres Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Também são narradas várias curas e encontros significativos, nos quais as mulheres são protagonistas: a sogra de Pedro, a mulher pecadora, a mulher com fluxo de sangue.
O Espírito Santo tem prioridade.
A presença do Espírito Santo como força que acompanha, conduz e inspira a missão de Jesus e da Igreja. Ele age em Jesus, Zacarias, Isabel, João Batista, Maria, Simeão, profetisa Ana e muitas outras pessoas.
Ser Alegre é seguir a Jesus Cristo.
A última chave de compreensão do evangelho é o tema da alegria. O autor reforça a certeza de que a verdadeira alegria nasce do seguimento de Jesus, do agir misericordioso, do desprendimento constante, do se deixar guiar pelo Espírito, da experiência profunda de que Jesus Cristo morto e ressuscitado é a Boa-Nova para toda a humanidade.
A proposta para os círculos bíblicos no mês da Bíblia setembro 2013.