Ali, entre duas palmeiras, modestamente, também se pode ver a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que vai testemunhando tempo a fora a existência daquelas irmandades, sonhadas primeiro como forma de libertação para os escravos, ou em forma de enlevo espiritual, permitir esquecer as agruras pelas quais cotidianamente passavam.
Por todos os lados, águas,
às vezes menos, outras, mais revoltas, a certo ponto, cooperando generosamente
com a vida existente em outros ecossistemas contíguos, marulham em acordes
únicos produzindo sempre sinfonias inacabadas ou desenham na superfície, traços
sempre novos que não permanecem, tocadas, momentaneamente se espalham e em
seguida, retornam ao conjunto inseparável. Beijam-lhe em rito permanente as
extremidades, sem afetar-lhe as bordas.
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Pela sua conformação ou
aspecto com que aos olhos criativos de alguém se apresenta já recebeu diversos
epítetos. Cidade presépio, visto que
os morros que se mostram exuberantes por toda parte sempre guardaram inúmeros
casebres que, à noite, iluminados pela luz elétrica sugeriam os arrabaldes de
Belém onde Deus se fez homem como nós, ao nascer de uma Virgem que
aceitou o projeto daquele em que depunha suas certezas e as consequências de
uma gravidez tão pródiga, aos olhos de tantos, improvável. Cidade sol de um céu sempre azul. Pode ser este o mais próprio de
todos, visto que ao sorriso do astro rei, como que raios se projetam nas águas
do seu entorno e refletem por toda parte a magia da luz. Ilha do mel. Ilha sim, mas por que do mel um líquido doce que
resulta do labor de numerosas colmeias. De onde vem o doce que sugeriu tal
qualificativo? Talvez do resultado harmônico de tudo quanto sua beleza provoca
em corações que adocicados só reste explodir em exclamativos ou dizeres de
qualquer coisa.
O poeta a incrusta no seu
verso inspirado, o compositor a amalgama nas notas melodiosas do seu canto,
todos se apossam de ambos para externar o amor que lhe devotam.
E se é para falar de
sabores capixabas, nem se olvide a frase mais célebre vazada da inspiração de
Cacau Minijardim que definindo o que com peixes em toda parte se faz, saiu-se
com esta: “moqueca só a capixaba, o resto é peixada”.
É uma cidade ilha esta
Vitória! Pequenina, vestiu trajes de gente grande, abriga mais gente do que o
recomendável para a tal qualidade de vida.
É berço de gentes de todo
porte, de toda expressão, de qualquer sorte. É tudo e de tudo tem para quem a
escolheu como morada. Viu-se constrangida pelo que já não detém, porque a
modernidade roubou, ou em nome do desenvolvimento se fez.
Nem assim perdeu qualquer daqueles
atributos, tal qual eternizada nos versos de Pedro Caetano: Cidade Sol, com o céu sempre azul / Tu és um
sonho de luz norte a sul / Meu coração te namora e te quer / Tu és Vitória um
sorriso de mulher / Do Espírito Santo, és a devoção / Mas para os olhos do
mundo, és uma tentação / Milhões te adoram, e sem favor algum / Entre os
milhões, eis aqui mais um.
Marlusse Pestana Daher
12 de novembrode 2015 17:00