quarta-feira, 25 de junho de 2014

A ALQUIMIA DAS PALAVRAS

A interrogação nos dá novas e infinitas prerrogativas, porque ela concede a chance de um eterno recomeçar.


A interrogação nos dá novas e infinitas prerrogativas, porque ela concede a chance de um eterno recomeçar, independentemente de o assunto já ter - até mesmo, em muito - se esgotado. A pergunta rebobina o assunto, e a resposta faz uma releitura. Quando uma pergunta ecoa, o universo se abre para uma nova etapa. A etapa de uma nova resposta. Um novo sim, um novo não, ou uma nova alguma outra coisa qualquer. Qualquer coisa.

As perguntas nos respondem e nos instigam, nos espetam, nos revelam. Cada pergunta passa o bastão da palavra e, quem tem a palavra, tem o mundo inteiro. Pelo menos naquele momento. Pelo menos para nós, que gostamos de escrever, de ler e que reverenciamos a palavra (impiedosa vocação). O pensamento como matéria-prima em uma alquimia singular.

No trato dessa matéria, interferência sensorial, conjunção astral, alinhamento dos planetas. Acreditamos que pingo é letra e que o que há transcende o que sempre houve. Porque o momento se expande quando pensamos, o pensamento congela o instante, e a palavra tipifica. E registra.

Ela marca o momento, assim como o beija-flor fica parado em pleno voo, sustentando-se sobre a aparente estática de seu bater de asas mais rápido que nossa simplória percepção. Nós acreditamos no poder da palavra, como uma música hipnótica, encantadora de serpentes. E em sua utilidade, como ferramenta que operacionaliza os diversos tipos de comunicação. À parte a semântica e a semiótica, é na dança do sopro divino que a caneta desenha a letra, aquela insolente, por sobre o papel.

A palavra é a rede de caçar borboletas que escolhe e captura, no ar, um pensamento esvoaçante que, como o beija-flor, reluz aos raios de sol. E que no papel toma pouso, se aquieta e se amolda. Tempestade cerebral, metamorfose criativa. Porque a mágica está no sentimento, na interpretação, no personalístico, na infinidade de possibilidades, onde a intuição é a mãe, as palavras obedecem e isso dá vida ao cenário. O cenário é o mundo, esse tabuleiro de xadrez. E o mundo todo é branco ou preto, simples e sem graça como um código binário.

O que colore é a energia que existe em cada vida, em cada transformação, na comunicação. E na força dos elementos. Porque o mundo pulsa ao pulsar de cada coração, e o cenário se modifica a cada batida de asas de um pensamento azul, ou verde e amarelo (minha sutil homenagem à Copa). A cada insight, a cada palavra ou a cada gota de orvalho solta na natureza. E o enxame das possibilidades se vai com a mesma leveza que viera, e se dissipa em questão fracionária de segundo, dando espaço para outro que se aproxima. E roda a engrenagem. E realimenta o ciclo. Um ciclo que se fecha à luz de cada ideia, na força da palavra e na leveza do pensamento. E faz o mundo girar.