terça-feira, 17 de maio de 2011

SA SÃO - M A MA - T H Ê TEUS

Todos conhecemos histórias interessantes e até engraçadas dos nossos predecessores principalmente, moradores da Aldeia em que nascemos, extensas territorialmente muitas e muitas vezes, mas com poucos habitantes. As famílias eram na maioria pobres, mas sobreviviam bem, outras sem dúvida, podiam cantar: “faltava tudo, mas a gente nem ligava o importante não faltava seu sorriso, seu olhar” e outras coisas mais.
Entre detalhes interessantes e bem lembrados, se contam sensações que tínhamos das distâncias que representavam certos pontos. No meu São Mateus, por exemplo, estando na Praça de São Benedito e olhando em direção à Chácara do Estado, Ave Maria! era uma lonjura... o Sernambi era muito longe, o Ribeirão mais ainda,  mas curiosamente, eu que tinha essa impressão não hesitava em sair da casa na Rua do Alecrim onde morávamos e ir à venda de papai no Porto, lá na rua antiga do “Trole”, no qual minha mãe, que trabalhou na Serraria de S. Lolô, no 47, deslocou-se muitas vezes.  
O trole era um carro com rodas sobre trilho de estrada de ferro, empurrado por impulso de braço com uso de uma vara. Não conheci o veículo foi mamãe que contou.
Saindo de casa, dobrava a esquina de tia Chiquinha, passava em frente de Sá Mariquinha, não sem gritar: “bença Sá Mariquinha”, continuando a caminhar, era suficiente o tempo para ouvir sua voz que vinha lá de dentro, certamente da cozinha, onde sentada no banco ela rezava o terço,  atravessava o corredor, e através da janela da sala, cuja parede era repleta de quadros de santos repetia: Deus te abençoe! Passava na frente da casa de S. Arquimino que sempre estava à janela ao lado de D. ?  dona.... dona... esqueci o nome dela... Depois pergunto a Nice Lyrio que é cria do casal, chegava à esquina do Banco do Brasil – do outro lado, estava a venda de tio Jorge, e eis a Praça de São Benedito, - o point das noites de sábado e domingo, era onde estava o coreto onde a Banda tocava...onde quase sempre colhia uma folha de filco que enrolada estrategicamente, juntadas as pontas, produzia um assobio fantástico ou eram portadas em algum lugar da roupa ou entre esta e o corpo, as vezes presa com um alfinete,  para não cair nas garras da pessoa com quem “se  ficasse de folhinha verde”.  Atravessada a praça, passava na frente do Bar que antes de a Zeca Taurino não me lembro  a quem pertenceu. E a poucos passos, ao lado do Bar de Ericson e Edson Pessanha que levaram a primeira fábrica de picolé para a cidade e que nos primeiros dias fazia-se fila para comprar,  depois de alguns degraus de uma escadinha de cimento começava-se a pisar grandes pedras que cobriam a ladeira mais curta, entre a cidade alta e a cidade baixa.
A parada seguinte era no curso dela em frente da Pharmacia de Roberto Silvares. Na lateral havia uma grande janela, protegida por uma grade, ali passei horas olhando o farmacêutico andando pra lá e pra cá, preparando as fórmulas prescritas por Dr Guilherme para curar os doentes, fazendo ele mesmo consultas. Havia sempre gente circulando ao seu redor o que não  parecia incomodá-lo. 
Prosseguia o caminho pela continuação com o entroncamento, a Ladeira de São Benedito, onde se descreve uma curva, pois, não convinha descer aquela da venda de S. Moacir ali tinha aquelas mulheres... (Coitadas). Depois do entroncamento com a Ladeira de São Mateus, seguia-se em frente, um duzentos metros, à  direita ficava a venda de tio Zezé que tinha uma caminonete marca Ford, da qual guardo memória que outro dia vou contar. Passava também em frente da agência do "Banco de Crédito Agrícola do Espírito Santo", mas eu já transitava pelo outro lado da rua, pois bastava virar a esquina para chegar na venda de papai, uma garagem improvisada em estabelecimento comercial, em muito contrastando com o prédio de dois andares em frente, de S. Dodô Rios, residência em cima, comércio em baixo, aos fundos, caudaloso perenemente passava o Cricaré.
Mas já escrevi quase bastante e ainda não contém o caso, origem do título desta crônica. Ouvi de Zeno Gomes, às gargalhadas,  na casa de suas irmãs, as Maritinhas.
S. Nicanor Motta, tio de Zeno, foi líder político  inato segundo os parâmetros do tempo e do lugar. Tinha uma venda na esquina da Rua na altura do hoje BANESTES. O balcão era também sua mesa de trabalho. Cuidava carinhosamente, pacientemente, de propiciar a quem não tinha, alistamento eleitoral. E era necessário requerer.
Pois bem, aos semi analfabetos era preciso ditar letra por letra e ele o fazia. Por exemplo:São Mateus: escreve assim, meu coração: sa são; e o desejado eleitor não conseguia. Sua paciência porém,  não findava. Vamos, meu coração, vamos escrever de novo: s a  são, m a – ma – the teus, tantas vezes quantas necessárias.
Não sei se soube contar como ouvi e me fez rir tanto, mas fica o registro.  
S. Nicanor chegou a representar-nos por um período na Assembléia Legislativa e absolutamente nada mais, mas seu nome ficou na história.