Escrito depois do terremoto de 2010. E quando ainda não se tinham recuperado, nova destruição.
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Sofre sem entender. |
Já era o mais pobre país
do planeta, de gente martirizada, à margem da cultura, do desenvolvimento, da
história. Mas um terremoto se abateu sobre ele, fez ainda mais estragos e roubou
mais de 200 mil vidas. Então virou manchete de todos os jornais do mundo. Agora
todos falam do Haiti.
Situa-se num
conjunto de arquipélagos entre as duas Américas, ocupa o terço ocidental da Ilha de São Domingos, possuindo uma das duas
fronteiras terrestres da região, a que faz a leste com a República Dominicana. Acapital é Porto Principe.
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É só devastação. |
95% da população é negra, 4,9% mulata e tão somente
0,1%, branca. 80,3% dos haitianos professam a religião católica. Não se
negue contudo a forte influência africana com suas práticas religiosas
semelhantes a dos denominados cadomblés. Foi o primeiro território americano a ser descoberto por Cristóvão Colombo, cedido à França pela Espanha em 1697. No século XVIII,
chegou a ser a mais próspera colônia francesa na América, com a exportação de
açúcar, cacau e café. Trata-se da primeira colônia de maioria negra, mediante
revolta de escravos, a conquistar a libertação, em 1794. Mas no mesmo ano, a França
dominou a ilha. Um ex escravo Tousasaint Louverture tornou-se Governador Geral
em 1801, redigiu uma Constituição para o país em cujo artigo 1º esculpiu o
comando: “A escravatura está para sempre abolida, não podem existir escravos
sobre este território.” Mas
não durou, foi deposto e morto pelos franceses. Em 1803, outro líder, Jacques
Dessalines, organiza o exército e derrota os franceses. Declarada a
independência, o próprio Dessalines proclamou-se Imperador.
Tamanha coragem valeu ao
Haiti 60 anos de bloqueio comercial imposto pelos escravistas
europeus e estadunidenses. No governo de Jean Pierre Boyer, cercado pela frota
da ex-metrópole, constrangido, assinou tratado pelo desbloqueio, sendo imposto
ao país a título de indenização à França, a quantia de 150 milhões de francos,
reduzidos para 90 milhões, o que não impediu nada menos que, o exaurimento da
economia do país.
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Sabem mas não têm escolha. |
Depois do terremoto as Nações se
mobilizam e centenas de aviões carregados de alimentos, roupa e água foram
mandados para o Haiti, de todas as partes do mundo.
Além do que já foi, o governo
brasileiro prometeu doar US$ 15 milhões ao Haiti, 14 toneladas de produtos
alimentícios, entre sardinha, leite em pó, açúcar cristal e água.
Releva ser
dito que a precariedade do país, máxime pela destruição sofrida, dificulta a
chegada das próprias ajudas. Não há estradas, aeroporto destruído, linhas
telefônicas interrompidas, ainda é precário o contato pela internet.
Órgãos
governamentais e ONGs disponibilizaram contas bancárias para receber doações. O
Banco do Brasil abriu uma conta (SOS Haiti - agência 1606-3, c/c 91.000-7) para
o recebimento dos recursos que serão administrados diretamente pela Embaixada
do Haiti no país.
Entretanto,
o Haiti não precisa só de pão e água. Clama por desenvolvimento, clama por ser
capaz de superar suas dificuldades e se tornar deveras uma Nação Soberana,
mediante a liberdade merecida pelo seu povo, gente como qualquer outra, todos
filhos de Deus, igualmente feitos á sua imagem e semelhança.
Em artigo intitulado "Lamento junto a Deus pelo Haiti", desabafa Leonardo Bofff: Em cada haitiano que sofre soterrado ou que morre de sede e de fome, morremos um pouco também todos nós junto com eles. Finalmente somos irmãos e irmãs da única e mesma família humana. Como não sofrer?”
Em artigo intitulado "Lamento junto a Deus pelo Haiti", desabafa Leonardo Bofff: Em cada haitiano que sofre soterrado ou que morre de sede e de fome, morremos um pouco também todos nós junto com eles. Finalmente somos irmãos e irmãs da única e mesma família humana. Como não sofrer?”
Ante a indigência
haitiana o Prof. Ricardo A. S. Setenfus que integrou a missão da ONU/OEA no
Haiti em 1993 afirmara: “A idéia de que cada sociedade deva resolver de forma
autônoma seus dilemas nacionais – sustentáculo do princípio da não intervenção
– é absolutamente inaplicável em certas situações como, por exemplo, no caso
haitiano. Jamais este país conheceu ao longo de sua história sequer vestígios
de democracia. A vontade da maioria sempre foi esmagada pela força. ...uma cruel realidade. ... Nada é mais
desumano que a demonstração de indiferença frente ao sofrimento de outrem.”
Ante o sobredito, importa
que as Nações – seu povo - se predisponham a ajudar o Haiti, de mãos dadas com
sua gente, atentas aos seus grandes anseios, até porque o país que não tem nada
para dar, precisa tudo receber. Que se
entenda isso. Que o Haiti se inclua nos projetos desenvolvimentistas nacionais.
Nada mais soa atual no
momento, que proêmio da Constituição Gaudium
et Spes, (Vaticano II): “As
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje,
sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há
realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”.
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Ninguém tem o direito de apagar esse sorriso. |
“Eles sofrem, nós sofremos”. “Guiados pelo Espírito Santo. Eco no coração. A Igreja sente-se real e
intimamente ligada ao gênero humano e à sua história”.