domingo, 26 de junho de 2011

PAI NOSSO

Pai Nosso que estás no céu, na terra e em toda parte, faze que quando eu disser: seja feita a tua  vontade, todo meu ser esteja unido à minha vontade; que todo o meu ser se una aos meus lábios e brote do mais profundo de mim o propósito de que “assim seja”. 

Eu sei que nem sempre é fácil!

Não é fácil porque nosso entendimento humano é desproporcionalmente menor que teu desígnio de amor e assim não alcança tudo que queres.

Essa constatação, no entanto atesta a importância da fé sem a qual se torna impossível comungar com a tua vontade. Dá-nos pois de fazer por onde esta fé que é dom cresça em nós.

Quando o mistério ultrapassa nossa inteligência só mediante uma fé profunda é possível prosseguir sem vacilar. Precisamos ter fé.

Pai, no dia em que fomos batizados enxertados no Corpo de Cristo e passamos a ser da sua própria natureza, infundiste em nós o dom da fé, asseguraste assim que mediante  o exercício de tal virtude nos fosse possível  saber dar valor a tudo que nos dás. Que não nos afastemos de teus caminhos, que não nos tornemos surdos a tua voz e que cumpramos com dignidade teu mandamento de amor.

Com Maria, nossa mãe terna e boa, queremos aprender o dom da humildade e não obstante a diferença que existe entre nós criaturas e Tu que és Deus, acreditemos no teu amor!

Para que em seguida partamos para onde quer que esse amor nos convide para dizer aos outros da alegria que nos invade por tanto favor e partilhemos o privilégio indecantável de “termos sido tornados dignos de estar em Tua presença e TE servir”.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

D. DUNINHA


Ela não tinha água encanada em casa, mas também já superara o tempo de lavar roupa à beira do rio. Pernas dentro dágua, uma prancha de madeira sabiamente colocada um pouco em terra, a outra na água, à passagem de águas límpidas, sem poluição de qualquer sorte, as lavadeiras colocavam peça sobre peça, depois de molhá-las. Passavam sabão na primeira e esfregavam uma por uma. A espuma que desprendia de uma peça, passava para a outra e claro, se revertia em economia.
Roupa toda ensaboada era colocada no “corador”. Geralmente, uma extensão coberta de grama verde. A sabedoria ensinou que primeiro se usava o centro e pouco a pouco até chegar “na beirada”, para não pisar em nenhuma peça.
Ali, haurindo os efeitos do sol, as roupas clareavam de dar gosto ver. Depois de um tempo eram recolhidas para o enxágüe, quando então se dava inversamente, eram apanhadas de fora para dentro. Muitas vezes, ainda estavam quentinhas... e eram habilmente enxaguadas.
No princípio o “floc floc” que era mais intenso, havia mais sabão, sumia e a peça podia ser torcida.
Mas D. Duninha que conheceu esse processo, já lavou roupa à beira de cisterna. Retirava água, mediante acionamento de manivela que trazia o balde cheio enchendo grandes bacias, onde o processo de esfrega se repetia. Passava ao “corador”. Mesmo tempo de espera, até o enxague e estendimento.
Roupa seca, vinha a hora de passar e não era fácil,  mas ninguém reclamava. O ferro de ferro mesmo, era acionado pelas mãos num movimento pendular dos braços, melhor se de encontro ao vento para que ficasse quente a contento.
“Não se assopra ferro perto da roupa, as faíscas podem queimá-las”. Ainda convém uma outra coisa, cuidado ao assoprar o ferro, pode dar tonteira, a pessoa cair e se queimar. 
Foi Deolinda que na manhã de hoje falou-me de D. Duninha, sua avó,  curiosamente, ao mesmo tempo em que me falava, se questiona: “acho que naquele tempo não tinha amaciante” ao que respondo: tinha não, as mãos das lavadeiras eram de tal forma sensíveis aos misteres desempenhados que sem errar sabiam quando o sabão já fora  todo retirado.
A roupa lavada e passada era muito bem dobrada e envolvida numa peça maior, formava uma trouxa. “Minha avó colocava na cabeça para carregá-la até a casa da dona, não caia de jeito nenhum, ela até dançava”.
E aqui fiquei eu pensando numa senhora de pouco mais de cinquenta anos, que pelas circunstâncias, máxime as da época, parecia ter muito mais, que percorria boas distâncias, com uma trouxa na cabeça, em equilíbrio singular e que chegando à portaria do edifício onde seriam entregues, a pedido do porteiro e de quem mais estivesse por ali, não se fazia de rogada, dançava alegremente ritmos baianos, evoluindo de forma incrível, mas muito natural, como aprendera ainda menina lá no sertão onde nasceu.
22/6/2011 15:31

MÃE INDIA

            Ganhei um calendário deste ano, pequeno, desses que vai-se virando as páginas à medida que os meses passam.  Tem sempre uma figura ilustrativa e abaixo, o mês que transcorre.
Cada figura representativa de mulher vai demonstrando a grandeza dessa espécie do gênero humano. Todas muito lindas, mas a que mais me impressionou, tocou, silenciou, fez refletir, foi a que representa uma índia despida, agachada, na coxa esquerda o filho de meses que ela segura; com a outra mão, a direita, segura com carinho um pequeno animal que avidamente lhe suga o peito.
Não há qualquer indicação de quem fotografou ou pintou em tela aquele momento mágico, mas que importa, se o que importa é a certeza de que alguém tendo estampado tal momento o fez com uma índia, não com qualquer mulher branca, ou de outra raça diversa da sua. Só ela por sua natureza de tal gesto é capaz.
Sinto sempre uma grande pena dos índios que se deixaram civilizar, daqueles que se tornaram milionários e como outro empresário qualquer, precisa de viver em casa com muros altos, cachorros bravios soltos circulam em volta, além de também bem alta cerca elétrica, para que ninguém ouse penetrar onde guarda um tesouro.
Cacique Seattle
A perda de identidade desses povos significa perda irreparável para a raça humana, para a vida, para a biodiversidade, para a sustentabilidade. Dificilmente, se encontrará um outro autor que crie um outro Cacique Seatlle que seja suficientemente audaz diante de um Presidente egoísta que lhe quis comprar floresta, terras, espaço a quem respondeu: Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.        
É essa identidade com a terra o sentir-se parte dela que faz a mãe índia repartir do próprio peito o leite com que alimenta o próprio filho. É a certeza de que      a terra é dom de Deus e os frutos que ela produz são de todos.     
Ao menos tivéssemos colhido os tesouros da identidade índia perdida, a terra não estaria em agonia.

                                                                 (Nova postagem por ter sido cancelado por engano).

domingo, 19 de junho de 2011

Deus amou tanto o mundo...

de Edmilson Schinelo

Sexta-feira, 17 de junho de 2011 - 16h24min
Ampliar imagem
Deus amou tanto o mundo,
que deu o seu Filho unigênito,
para que não morra todo o que nele crer,
mas tenha a vida eterna.
De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo
para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por ele.
Quem nele crê, não é condenado,
mas quem não crê, já está condenado,
porque não acreditou no nome do Filho unigênito.
(Jo 3,16-18)
Um termo bastante interessante no evangelho de João é o conceito "mundo". Jesus amou tanto o mundo, mas ao assumir a sua realeza diante de Pilatos, teria dito: "Meu reino não é deste mundo" (Jo 19,33). Para o Evangelho de João, o que é o mundo? É o espaço no qual estavam jogadas as comunidades cristãs, infelizmente tomado pela maldade, dominado pela cobiça do Império Romano.
No intuito de justificar seu comportamento religioso teoricamente apolítico, pessoas e grupos "espiritualizam" o movimento de Jesus. Ao dizer que seu reino não é deste mundo, Jesus estaria pensando no pós-morte ou estaria se apresentando como "rei espiritual" dos judeus. Infelizmente, muitos dos que defendem essa postura, se líderes religiosos, vivem atrelamentos vergonhosos com políticos e empresários. E, se políticos ou empresários, quase sempre pedem as bênçãos de um líder religioso para suas ações e seus empreendimentos financeiros.
Ora, ao afirmar a Pilatos que seu reino não é deste mundo. Jesus na verdade está apontando o dedo e afirmando: "Meu reino não é segundo este seu mundo". A proposta de Jesus não é de acordo com (melhor tradução do original grego) o mundo do império.
Se para o império não há espaço para misericórdia e salvação, para o Reino, conforme o Evangelho de João, sempre há espaço para o perdão: "Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele." A salvação do mundo, entretanto, depende de duas coisas extremamente escandalosas: a partilha (JO 6) e o poder exercido como serviço" (Jô 13)
Amar esse mundo para transformá-lo significa ter coragem de viver o escândalo da cruz como dizia Paulo: o escândalo da partilha! 

sábado, 18 de junho de 2011

SANTÍSSIMA TRINDADE

19 de junho: Festa da Santíssima Trindade
A festa da Santíssima Trindade se repete a cada ano, no domingo seguinte ao de Pentecostes. Refletir sobre a Santíssima Trindade é confessar o quanto Deus é grande, posto que, sendo Único e não teremos outro Deus ao qual adorar (Isaias. 44,8), na Sua onipotência faz-se três pessoas iguais e realmente distintas: o Pai que nos criou, o Filho que nos salvou, o Espírito Santo que nos santifica.
Logo no início a carta de Paulo aos coríntios, associa-nos à indivisibilidade da Trindade. Diz o Apóstolo: Há diversidade de dons, mas é um mesmo o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas é um mesmo o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.
Mergulhemos na grandeza desse mistério, deixemo-nos envolver por ele, sejamos acessíveis a essa comunhão com a Santíssima Trindade e também entre nós. Cada um tem seus dons pra que se complete com os demais, para que os disponibilize suprindo a lacuna do outro ao mesmo tempo, recebendo o que o outro tem para nos doar.
Cada um de nós tem uma tarefa a cumprir, cada um de nós exerce uma profissão ou ofício, é fundamental que seja desempenhado em espírito de serviço, não atrase, não retarde porque tudo tem seu tempo certo debaixo do céu. Sobretudo, disponibilizemos nossos dons, exerçamos nossos misteres, convictos de que é Deus quem nos dirige, é Deus quem se serve de nós para estar presente na comunidade humana. Ele se vale de nós para fazer o que deve ser feito.
E tudo isto, para que tenhamos real percepção do mundo em que vivemos, entendamos que somos profetas e nos compete ajudar para que este mundo, ao menos um pouco, se torne melhor.
Temamos o Senhor que passa e pode não voltar mais. (S. Agostinho).
E como resgatados pelo Amor, professemos nossa fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos na unidade nosso Deus onipotente.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

LAÇOS DE AFETO

Do poeta e escritor gaúcho Mário Quintana, encontramos uma
preciosidade que fala sobre algo muito simples: um laço. Escreveu ele:
 






 Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... Uma fita... Dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola. Vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando... Devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah, então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!
*   *   *
Tem toda razão o poeta em sua analogia. Amor e amizade são sentimentos altruístas.
Quem ama somente deseja o bem do ser amado. Por isso, não interfere em suas escolhas, em seus desejos.
Sugere, opina, mas deixa livre o outro para a tomada das próprias decisões.
Quem ama auxilia o amado a atingir seus objetivos. Nunca cobra o ofertado, nem exige nada em troca.
Quem ama não aprisiona o amado, não o algema ao seu lado. Ama e deixa o amado livre para estender suas asas.
Assim crescem os dois, pois há espaços para ambos conquistarem.
Na amizade, não se faz diferente o panorama. O verdadeiro amigo não deseja que o outro pense como ele próprio pois reconhece que os pensamentos são criações originais de cada um.
Entende que o amigo é uma bênção que lhe cabe cultivar e o auxilia a realizar a sua felicidade sem cogitar da sua própria.
Sente-se feliz com o bem daquele a quem devota amizade. Entende que cada criatura humana é um ser inteligente em transformação e que, por vezes, poderão ocorrer mudanças na forma de pensar, de agir do outro.
Mudanças que nem sempre estarão na mesma direção das suas próprias escolhas.
O amigo enxerga defeitos no coração do outro, mas sabe amá-lo e entendê-lo mesmo assim.
E, se ventos diversos se apresentam, criando distâncias entre ambos, jamais buscará desacreditar ou desmoralizar aquele amigo.
Tudo isso, porque a ventura real da amizade é o bem dos entes queridos.
Um laço que ata... Um laço que se desata.
Aqueles a quem oferecemos o coração, poderão se distanciar, buscar outros caminhos, atravessar outras fronteiras.
Eles têm o direito de assim proceder, se o desejarem. De nossa parte, lembremos da leveza do laço e cuidemos para que não se transforme em nó, que prende e retém.
Eliane, obrigada por tão bela mensagem.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

DESIDERATA


Siga tranquilamente, entre a inquietude e a pressa,
lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.

Tanto quanto possível, sem se humilhar,
mantenha boas relações com todas as pessoas.

Fale a sua verdade mansa e claramente e ouça a dos outros,
mesmo a dos insensatos e ignorantes,
pois também eles tem sua própria história.

Evite as pessoas escandalosas e agressivas;
elas afligem o nosso espírito.

Se você se comparar com os outros,
você se tornará presunçoso e magoado,
pois haverá sempre alguém superior
e alguém inferior a você.

VOCÊ É FILHO DO UNIVERSO,
IRMÃO DAS ESTRELAS E ÁRVORES.
VOCÊ MERECE ESTAR AQUI.

E mesmo sem você perceber,
a Terra e o Universo vão cumprindo seu destino.

Desfrute das suas realizações, bem como dos seus planos.

Mantenha-se interessado em sua carreira,
ainda que humilde, pois ela é um ganho real
na fortuna cambiante do tempo.

Tenha cautela nos negócios,
pois o mundo está cheio de astúcia;
mas não se torne um cético, pois a virtude sempre existirá.

Muita gente luta por altos ideais
e em toda parte a vida está cheia de heroísmos.

Seja você mesmo.
Principalmente, não simule afeição,
nem seja descrente do amor,
porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto,
ele é tão perene quanto a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos
e seja compreensivo com os
arroubos inovadores da juventude.

Alimente a força do espírito,
que o protegerá no infortúnio inesperado,
mas não se desespere com perigos imaginários.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão,
e, a despeito de uma disciplina rigorosa,
seja gentil para consigo mesmo.

Portanto, esteja em paz com Deus,
como quer que você O conceba.

E quaisquer que sejam seus trabalhos
e aspirações na fatigante confusão da vida,
mantenha-se em paz com sua alma.

APESAR DE TODAS AS FALSIDADES,
FADIGAS E DESENCANTOS,
O MUNDO AINDA É BONITO!

SEJA PRUDENTE: FAÇA TUDO PARA SER FELIZ !!

Antiga inscrição, datada de 1684, descoberta em uma igreja de Baltimor

terça-feira, 14 de junho de 2011

TEMPO DE PENTECOSTES

Pentecostes é um dos momentos mais fortes na vida da Igreja. A encarnação de Jesus trouxe a história dos homens o Salvador do mundo. Seu nascimento e sua vida pública revelaram a Boa Nova. Jesus ensinou com a Palavra proclamada, com o exemplo de sua vida a viver como a Deus é agradável. Instituiu a Eucaristia mediante a qual se deu em alimento; padeceu de forma horrível a dolorosa paixão, assegurou que mandaria o Espírito Santo para vivificar sua Igreja, iluminá-la no seu caminho para a Terra Prometida, enfim, para saber orientar-se em cada momento da vida, seguindo os seus passos.
O Espírito Santo que é Espírito de Deus ilumina e santifica a Igreja; com seus sete dons permite que cada um de nós tenha na hora certa a inspiração certa do nosso viver do nosso agir.
Não tenhamos dúvidas em deixar que seja o Espírito Santo quem conduz nosso viver. Peçamos a Ele que as palavras nunca saiam da nossa boca sem o hálito de sua inspiração; que todos os nossos gestos sejam ditados pelo seu sopro, enfim, que seja Ele mesmo a agir através de nós.
A presença do Espírito Santos se consolidou mediante o prodígio operado nos Apóstolos que se tinham acovardado e esconderam-se por medo dos judeus, após receberem o Espírito Santo se tornaram corajosos e audazes. Ninguém mais os pode conter, por todos os lugares anunciavam o nome de Jesus.
E foi por anunciarem o Nome de Jesus que todos foram mortos.
A partir do domingo (12 de junho) começamos a viver o tempo de Pentecostes.  Uma das indicações estará nas leituras que serão proclamadas, na cor dos parâmetros que o Sacerdote usa nas celebrações da Eucaristia, em toda a liturgia e culto.  
Tratemos de disponibilizar todo nosso ser para que o Espírito se aposse de nós e nossa vida seja reflexo de sua presença.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

CHUÁ, CHUÁ


Só para ilustrar.
Recebi um belíssimo PPs. Do tipo que vale a pena despender um pouco de tempo para contemplar. Foi Rosali (que gostaria muito de conhecer) quem o produziu.  Trata-se de arte e só pode resultar de alma de poeta, aquele ente capaz de captar as profundezas não só da alma, mas de um fato e em prosa, verso ou também em ilustração é capaz de compor, delicia quem vê, comove quem sente, dá paz a quem precisa ter.
O ambiente consta de uma extensão verde sem imperfeições, mediante um solo gramado. No entorno, visão de floresta ainda densa, de encosta de morro que imprime com seu marrom avermelhado um tom de paisagem que a cidade não tem, máxime, aquelas que priorizam o desenvolvimento econômico, àquele que compatibiliza-se com a beleza e a sustentabilidade em harmonia total.
Em algum ponto, uma casinha branca, tinha que ser branca, pequenina, revela presença de pessoas que no contexto não se veem.  Tudo coberto por um céu de azul imenso onde a presença de nuvens apenas compõem o cenário, são transparentes.
O rio que passa por ali permite a projeção em suas águas de tudo que se vê. A cena é dupla e tudo une pelos pés.
Depois de apenas dedilhadas as cordas plangentes de uma viola, do revezar vindo de cada lado do cenário de imagens igualmente lindas como a que foi descrita ouvem-se os sons desse clássico do cancioneiro do Brasil: Chuá, Chuá. E mais que sons de viola, ressoa onomatopaicamente, o som do canto de cachoeira.
E nesse compasso por fim se ouvem as vozes de Bethânia e Joana que se revezam.  Um espetáculo, verdadeiramente inaudível.

Chuá, chuá                                                                                

(Pedro Sá Pereira e Ary Pavão)
Deixa a cidade formosa morena
Linda pequena e volta ao sertão
Beber da água da fonte que canta
E se levanta do meio do chão
Se tu nasceste cabocla cheirosa
Cheirando a rosa, no peito da terra
Volta pra vida serena da roça
Daquela palhoça no alto da serra

E a fonte a cantar, chuá, chuá
E as água a correr, chuê, chuê
Parece que alguém que cheio de mágoa
Deixaste quem há de dizer a saudade
No meio das águas rolando também

A lua branca de luz prateada
Faz a jornada no alto do céu
Como se fosse uma sombra altaneira
Na cachoeira fazendo escarcéu
Quando essa luz na altura distante
Loira ofegante no poente a cair
Dai essa trova que o pinho descerra
Que eu volto pra serra que eu quero partir
Quem sabe por que a formosa morena quis deixar o sertão, deixar de se dessedentar na fonte? Por que preferiu abandonar o cheiro da rosa que nasceu sorvendo, não há sentido em ter feito tal escolha?  Como abandonar a vida serena da roça, daquela palhoça no alto da serra, onde o amor acontecia e tudo era paz e poesia. Palhoça de paredes embarreadas e coberta com folhas de palmeira, onde o chão era de chão mesmo.
Para sua auto consolação o amante acompanha o curso da jornada que a lua branca descreve no céu projetando-se sobre a cachoeira que explode de emoção e a manifesta em escarcéu e faz do seu desejo a hipótese que mais consola: o de que quando a lua ao fim da jornada e já ofegante se projetar no poente ao som do prosa que o pinho interpreta será ouvido o que mais anseia,  a voz da morena que decidiu: volto a serra, eu quero partir.
Medeia as duas estrofes um estribilho tradutor do ânimo de quem se desvela: a fonte continua a cantar, as águas continuam a correr e traduzem o que vai no peito onde um coração cheio de mágoas ali deixado, entrega ao curso das águas a saudade que não pode conter.
Quantas vezes ouvimos e cantamos, quantas vezes nos passou despercebida a mensagem, a beleza dos sentimentos interpretados nessa canção. Foi o que pensei em fazer, escrevendo esta crônica. Compartilho com meu leitor e se ninguém sentir nada é porque ao som plangente de uma viola que eu não toquei já senti tudo. Amém.

13/6/2011 10:15

sábado, 11 de junho de 2011

FOGO DE PENTECOSTES

 Edith Stein

Quem és tu, luz que me enches
e que iluminas
as trevas do meu coração?
Tu me guias
como a mão de uma mãe,
e se tu me largas,
não poderei mais dar um só passo.
Tu és o espaço
que envolve meu ser
e o abriga em seu seio.
Abandonado por Ti
ele desapareceria
nos abismos do nada,
de onde Tu o tiraste
para levá-lo ao ser.
Tu, mais próximo de mim
do que eu de mim mesmo
e mais íntimo
que o âmago de minha alma,
e, entretanto, inatingível e inefável,
fazendo brilhar todos os nomes:
Espírito Santo – Amor eterno…
És Tu
o canto do amor
e do santo respeito
que ressoa eternamente
em redor do trono de Deus,
que nele une
o canto puro de todos os seres.
A harmonia
que une os membros à cabeça
é nela que cada um
descobre com êxtase
o sentido íntimo do seu ser
e cheio de alegria derrama-se nas tuas ondas,
Espírito Santo – Eterna alegria…

terça-feira, 7 de junho de 2011

MEMÓRIA. DE INFÂNCIA

            Quando o dia do meu quarto aniversário me aflora na lembrança, silencia todo o tempo posterior pelo qual já passei.  Papai chegou em casa, na hora do almoço, trazendo-me um velocípede como presente. Mesmo sem ter visto eu afirmo, meus olhos brilharam. Estava todo enrolado, cada parte estava envolvida por uma tira de papel. Vera, Évila e eu com todo afã e ansiedade, rasgávamos o papel que certamente jogávamos pelo chão cabendo a mamãe ou a secretária, se ela tinha, recolher tudo depois.
Velocípede desenrolado, montei no selim e sai pedalando pela casa, principalmente, por uma varanda que havia ao lado, enquanto Vera e Évila pisando naquela parte horizontal que sustenta as rodas traseiras, revesando-se ou ao mesmo tempo “iam pongadas”. Alegria total! Vejo o velocípede como se ainda hoje estivesse à minha frente. Até a marca que assimilei depois qual era, pois, quando aprendi a ler, vi em algum. Um homem no centro, o bandeirante, e o nome em circulo. Era um Bandeirante. Era deveras lindo e era meu!
Ninguém duvide que nas mentes de crianças se cravam acontecimentos que uma vez fotografados, apenas adormecem. Nesse adormecimento forjam atitudes que dependendo da influência sofrida produzem resultados que consciente ou inconscientemente, geram reações na exata dimensão da influência exercida ou despertarão simplesmente, com toda força um dia, para permanecerem para sempre, fazendo valer a pena sonhar de novo.  
Claro que educar criança é muito mais que ensinar a ler e a escrever. Daí ser importante vigiar sobre as cenas que lhes proporcionamos, sobre o que oferecemos para que se lembrem mais tarde. Por exemplo, se o filme é recomendado apenas para acima de 14 anos, criança não pode assistir. É verdadeiro delito dizer: isto é besteira.
O subconsciente é um artífice que não pára, tudo armazena e de tudo faz princípio de reações ou ações. Não há uma única atitude humana surgida do improviso. Todas se devem ao armazenamento de habilidades, de um adestramento, de um tornar-se capaz, seja do que for.
Sartre, como Freud, acreditava que nos primeiros sete anos de vida arquivamos algumas experiências emocionais reprimidas que temos dificuldade de colocar para fora. Dentro de nós há uma criança que exige reparos por tudo o que viveu. (A Cury).
Um brinquedo desejado poderá ser uma ótima lembrança, mas o será muito mais o dispensar de amor e de ternura, de atenção e de presença, na dose a mais justa.
É assim que se constrói gente!

7/6/2011 09:08