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Transfiguração |
O relato da transfiguração
de Jesus nos motiva a dar um mergulho nas coisas que dizem respeito ao “alto”
e, por isso, transcendem a nossa realidade terrena e nos levam também a experimentar
a glória do céu. Contudo, de antemão nós percebemos que só poderemos fazer esta
experiência se partirmos de uma condição que é essencial para que tudo isto
possa acontecer conosco: a vida de oração. O texto é bem claro: “Jesus subiu a
montanha para rezar” e “enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua
roupa ficou muito branca e brilhante”. A oração de Jesus abriu as portas do céu
e fez com que fossem desvendados, por meio dos profetas, os planos do Pai para
Ele, (pois conversavam sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém). Do
mesmo modo, em oração Jesus ouviu a voz do Pai dizendo ao mundo que Ele era O
Seu escolhido e O Seu Filho muito amado. Com certeza, aquele foi um momento
especial para Jesus e para a missão a que Ele se propunha realizar.
Os Seus discípulos ficaram
com medo e se assustaram com a manifestação vinda do céu, não entendiam nada.
Eles se confundiam na percepção dos mistérios do céu, pois não tinham o alcance
das coisas espirituais, visto que ainda não possuíam o Espírito Santo. Nós,
porém, já temos o Espírito Santo! O que pode significar isto para nós?
Significa que, assim como Jesus subiu a montanha para rezar e receber do céu a
orientação do Pai, nós também podemos fazer o mesmo para ter a visão das
realidades celestes, se nos entregarmos às sugestões do Espírito Santo. O nosso
momento de oração nos é propício para que entremos em sintonia com a vontade do
Pai para nós e, ao mesmo tempo, acolhamos o Seu amor por meio do Espírito Santo
que opera dentro do nosso ser. Em oração nós conseguiremos também a graça de
sermos instruídos acerca da missão que o Pai tem para nós e sentir a Sua glória
aqui na terra que consiste num estado de bem aventurança. É uma visão
espiritual e acontece dentro do nosso coração. São sinais dessa experiência:
paz, alegria, amor, tranqüilidade, contentamento, ternura, consolo, aconchego,
coragem, destemor, confiança, esperança. Precisamos alimentar em nós esse
desejo de transcender às coisas que nós vemos e tocamos a fim de percebermos
que o “tempo esconde o que é eterno”, isto é, que a nossa limitação humana pode
está nos impedindo de “ver e sentir” as aspirações de Deus para nós. E mais
ainda, devemos ter os ouvidos em sintonia com a Palavra do Pai, pois por meio
Dela Ele também diz a cada um de nós: “você é meu filho, minha filha,
escolhido, escolhida e muito amado, amada”.
Com certeza, foi o amor
que tornou o rosto de Jesus resplandecente. Enquanto estava rezando, ele entra
em contato com o Pai, e o amor entre eles é tão grande que chega a alterar a
aparência de Jesus. Os três apóstolos que o acompanhavam certamente ficaram
perplexos ao verem esta mudança. E ainda mais quando viram que “dois homens
conversavam com Jesus: Moisés e Elias”. Moisés, que guiou o povo de Israel da
escravidão do Egito à libertação dada por Deus; e Elias, que foi assunto ao céu
numa carruagem de fogo (2 Rs 2,11). Os dois, que representam toda a história de
Israel, aparecem na montanha para conversarem com Jesus. Mas, qual era mesmo o
assunto da conversa deles? “Conversavam sobre a morte que Jesus iria sofrer em
Jerusalém”. Eles falavam da paixão de Jesus, o que estamos, neste tempo de
Quaresma, nos preparando para celebrar.
Entretanto, quando os
apóstolos perceberam que Moisés e Elias estavam se afastando, Pedro faz uma
bela proposta: “Mestre, é bom estarmos aqui! Vamos fazer três tendas! Uma para
ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro tem razão: deve ter sido muito
bom mesmo estar ali imersos na luz do amor entre o Pai e o Filho, escutando o
diálogo com Moisés e Elias. Era tão bom que Pedro queria que aquele momento
nunca acabasse. É por isso que ele propôs fazer três tendas. Normalmente,
quando as pessoas vão a uma montanha para acampar, ou seja, querem passar mais
tempo lá, levam e armam suas barracas.
Porém, enquanto Pedro
fazia a sua proposta, saiu uma voz do céu com outra indicação: para saborear
aquele momento extraordinário, não era preciso armar as tendas, mas ter um
coração atento para ouvir a Palavra de Jesus. De fato, o Pai diz: “Este é meu
Filho, o escolhido. Escutai o que Ele diz”. Não faz muito tempo que ouvimos a
mesma declaração no Batismo de Jesus. E este é um detalhe muito interessante,
pois o Pai está dizendo que aquele Filho que começou o ministério no Jordão é o
mesmo que está prestes a morrer crucificado. A força da voz do Pai deve ter
sido um dom belíssimo para os apóstolos, a ponto de não quererem falar por
muito tempo este episódio, guardado no coração.
A força da voz do pai deve
ter sido um dom belíssimo para os apóstolos, a ponto de não quererem falar por
muito tempo este episódio, guardado no coração: “Escutai!” Escutar! É a melhor
maneira para se preparar para a Páscoa: escutar a Palavra que Jesus veio nos
dar. Escutar com os ouvidos, mas, sobretudo, escutar com o coração. Só assim
podemos ficar com o nosso rosto transfigurado. Infelizmente, hoje, o rosto de
Jesus aparece mais desfigurado que transfigurado. Desfigurado em tantos rostos
humanos por causa da pobreza extrema. Jesus sofredor aparece desfigurado no
rosto de crianças doentes, abandonadas, desfrutadas; no de jovens
desorientados, perdidos; no dos excluídos da sociedade; no de desempregados, no
de idosos abandonados até mesmo pela família. São muitos os desafios que os
missionários de Jesus têm de enfrentar. Coragem!
É assim que você se sente?
– Você já percebeu em você mesmo (a) os sinais da presença de Jesus? – Você tem
subido a montanha para orar? – Como tem sido os seus momentos de oração?
Padre Bantu Mendonça