sábado, 21 de abril de 2012

ENSAIO SOBRE O AMOR

Na obra “A Arte de Amar” do poeta Italiano Ovídio, que nasceu em 43 A.C. diz que  “É com arte que se manejam a vela e os remos que faz com que os barcos naveguem céleres; é a arte que permite aos carros correrem velozes; e a arte deve governar o Amor;”.   Se o amor é governado pela arte, tudo o que amamos, fazemos com arte, e a apreciação e o exercício da arte nos deixa mais aptos a realizar qualquer coisa que amamos com mais destreza. 

Sem arte, não há vontade, e sem vontade, não há vida. Refiro-me aqui à vontade de fazer qualquer coisa. No meu caso, uma boa aula, uma boa tradução, a arte de atender bem as pessoas ...  Nesse sentido, somos todos artistas, porque tenho certeza que se todos os indivíduos, artistas profissionais ou não, exercessem a arte em suas vidas e carreiras, viveríamos em um mundo bem melhor.

 Nos tempos de hoje, tenho visto pessoas com a fronte espremida, o olhar vago e fundo, com uma interminável pressa de que o dia termine, de que o ano termine, e inconscientemente, de que a vida termine. Para esses
homens “sérios”, que acham que a arte é distração, refresco, bobagem,
Nietzsche diz no prefácio de “O nascimento da tragédia”: A esses homens sérios, sirva-lhes de lição o fato de eu estar convencido de que a arte é a tarefa suprema e a atividade propriamente metafísica desta vida”

Vez por outra, tenho também encontrado homens e mulheres sérios e responsáveis, que na maioria das vezes cumprem com suas tarefas e obrigações, mas não se esqueceram da graça da vida, da alegria, do riso, dos devaneios, da gentileza, do amor ao próximo.  Isso é algo extremamente precioso que torna a vida desses indivíduos muito mais rica e valorosa. Valor que acaba transcendendo suas existências e alcançando o mundo de tantas outras pessoas que acabam absorvendo e reproduzindo esse amor.

Para falar desse sentimento, vou contar com a ajuda do poeta americano Walt Whitman. Nada melhor que o maior dos transcendentalistas, para falar disso. E ele disse assim nas primeiras três linhas do poema “Song of Myself” (Canção de Mim Mesmo):
 “Eu celebro o eu, num canto de mim mesmo,
E aquilo que eu presumir também presumirás,
Pois cada átomo que há em mim igualmente habita em ti.”
 O trecho fala que somos feitos dos mesmos átomos, ou seja, da mesma matéria humana, independentemente da existência individual . O que fazemos conosco, não afeta só a nossa vida, mas a vida de todos os que nos cercam, e mesmo indivíduos que nem sonhamos que vamos afetar. Alguns cineastas têm retratado essa cadeia de ações e reações, como nos filmes “Crash” de Paul Haggis, e “Amores Perros” e “Babel” de Guillermo Arriaga.

A expressão artística oferece não só bonitas palavras e sons que agradam aos ouvidos, ou imagens que agradam os olhos.  Por exemplo, quantas vidas transformará um professor que exerce a arte de educar , ou os pais que fazem de seu lar um refúgio seguro para seus filhos, ou médicos que olham nos olhos de seus pacientes enquanto conversam com eles.

Hoje, a maioria de nós tem se esquecido de viver com base no amor, as pequenas delicadezas que cativam as almas, o “bom dia” e o “obrigado” que valorizam os trabalhos mais simples ou os mais complexos. Tudo que trata do amor é piegas, fora de moda, perda de tempo, bobagem. Sem a arte e o amor, nossos barcos seguem navegando sem rumo, espatifando-se uns nos outros e afundando num mar de rancor e tristeza. Somos robôs sem alma ou destino, perdidos em uma república platônica.

Fernanda Hott, membro da AFESL