domingo, 9 de fevereiro de 2020

O PORTO DE SÃO MATEUS


O navio apitou ao longe
e a cidade se agitou.
O Miranda ou o “Loid”,   
fosse qual fosse
a sua chegada
era sempre uma festa.

Âncora ao fundo 
Atracou aa nave.

Surge o comandante,alguém da tripulação.
Surgem também os Senhores,
ternos de linho branco
vestidos.

Damas em “taieur”,
chapéus na cabeça,
saltos finos de sapatos,
impecáveis.

Em terra, os Coronéis,
Alferes,
Majores,
Intendentes,
Por seu turno, os Prefeitos,
Interventores talvez.

Naquele tempo...

E dos porões,
emergem primeiro,
odores,
suores,
clamores
do negro que subsistiu.

Traz na pele,
A cor da não esperança,
Na cabeça,
A lembrança da terra de África,
dos gongos,
dos maculelês,
do tambor,
do tocador,                                   

do estupor,
da terra árida,
causticante e deslumbrante,
sedenta, avarenta...
mas sua terra!

Estão acorrentados pelo pescoço,
ligados,
manietados.
Vão servir na plantação,
Nas casas dos Senhores,
Às Sinhás, às Aiás.
Mas há sempre luz,
Mesmo nas trevas.
E num recanto
de rio,
ou de fonte,
como astro,
nasceu Zoroastro.
Como nasceu?
na casa de farinha?
no paiol, quem sabe?
Na cabana,
nasceu Zé de Ana.
Seus avós foram escravos,
escravos seus pais,
eles mesmos escravos seriam
não fosse a bondade
(hodiernamente posta em dúvida),
de candidata a Rainha,
que assinando a Lei Áurea,
à sua raça inteira
para sempre,
liberdade deu.

E Zoroastro cresceu,
e Zé de Ana cresceu
e dos seus,
cada um aprendeu,
o folguedo da marujada.
E saíram cantando,
ensinando aos de depois,
embaixadas, prisões,
repetem até versos
de Gil a Camões.
Um tanto mais novo,
canta jongo o Geraldino,
pelas ruas desertas
do velho porto,
de ruas estreitinhas,
de casarões a morrer,
onde passeia meu pensamento
que exulta em rever
reabrir-se o largo do chafariz
de um menino
que permanentemente vela
e carrega
lata d’água na cabeça...

Com fé em Deus,
dias se foram,
mas dias virão
e o comércio vai fervilhar de novo,
de novo, a população vai descer
e na curva do rio,
vai aparecer,
a mesma esperança
daquela
de quem espera e sempre alcança:
a meta,
a vitória,
a glória,
dos casarões,
dos luares,
dos lugares,
porque voltarão a soar hinos
e fará de novo a história,
o PORTO DE SÃO MATEUS!



 Disparei este poema num arroubo de amor, daquele que se sente pela terra que nos viu nascer.                                                                                               Já se passaram umas quatro décadas.   Ele se completa com um artigo que estou procurando nos meus arquivos, também sobre O PORTO.

Se tivesse que lhe dar um outro nome escreveria: SONHO QUE NÃO SE REALIZOU. 




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

CORALINAMENTE II


Cora,
coragem,
coração.
Cora, Lina
magia ensina
erguer-se sem calcular.
Ou sem saber realmente ,
se por seu tempo de vida,
ainda possível será.

Construir versos
recheados
de poesia e com eles
 o mundo encantar.

Voz enrouquecida
não perdeu a melodia.
Cora + Lina, Lina + Cora, = CoraCoralina

Menina esperta,
altiva guerreira.
Adolescente ativa, motivada.
Adulta sabe seguir seu coração,  
fazer sua própria vontade,
ser dona do seu nariz.

E quando, na constelação dos poetas
visível se fez,
conservou morada na velha casa
comprada por seu avô,
onde nasceu sua mãe
e ela mesma depois nasceu,
cresceu e viveu.

Embalada pelo murmúrio
entoado pelo rio
que passa Embaixo da ponte
desfilando preguiçosamente.
Não há outra medida,
outro modelo poético não há.

Tem que ser de novo Cora,
Coralinamente.


Marlusse Pestana Daher
São Mateus, 03 de dezembro de 2019.




Estátua de Cora inaugurada na Praça onde nasceu, poetou. fez doces e disse adeus.. Ao fundo. sua casa.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

É JUSTO QUERER


Toda nossa vida é uma busca constante.
Queremos alcançar objetivos, queremos realizar o que planejamos, queremos... queremos... Não é errado. “A vida é luta renhida, viver é lutar”. (Gonçalves Dias – Canção do Tamoio).Sim, quem não quer lutar se acomoda e não chega a lugar nenhum. Precisamos organizar nossas vidas, precisamos de uma casa para morar, precisamos de um trabalho que nos permita ter um salário digno para viver com dignidade, precisamos de nossa família. Dos amigos.

Nada cai do céu precisa ser conquistado. Jesus é nosso Pastor. Ele nos resgatou da morte e do pecado, fez-se nosso irmão e nos autorizou também a chamar Pai, um Pai que é só Dele.

Está sempre disponível a nos atender em nossas necessidades, alegrar-se com nossas alegrias, ser um de nós por isto pisou a poeira do nosso chão.

Deste modo, podemos concluir que viver pode ser muito simples, se entendermos nossos limites, se respeitarmos o espaço do outro, se não invadirmos territórios estranhos, se vivermos como quem sabe o que ensina o Apóstolo Paulo que “tudo é nosso, mas nós somos de Cristo e Cristo é de Deus”
Lutar por estar bem e viver dignamente, passa ainda pelo respeito que devemos a todos, ao meio ambiente do qual nos vem tudo de que precisamos para comer, beber, vestir, em síntese, viver.

Não nos podemos dar direito à insensatez e quebrar a harmonia impressa por Deus na criação do mundo, Ele mesmo ao  terminar, olhando-a, concluiu  como que perplexo que “tudo era bom”. Que fizemos para tanto, responda a si mesmo cada um.

Que Maria, Rainha, nossa Mãe, Mestra das nossas vidas continue nos ensinando a saber fazer “tudo aquilo que Jesus mandar”.



Do Programa COM MARIA PELAS ESTRADAS DA VIDA                                                                 Rádio América AM 690

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

CORA CORALINAMENTE (III)

Cora Coralina,
Coralina Cora.
Cora da casa da ponte,
cora que doces cora,
cora versos,
cora poesia,
cora a vida,
cora quem vê.

Coerente,
cativante,
confidente,
consistente,
contente.

Confirmada,
conformada,
consagrada,
complacente,
compassiva.


Com visão,
com paixão,
com loucura,
com amor,
com tremor,
com temor,
com gratidão,
com perdão,
com compaixão,
com tudo.

Com o melhor,
com quem vive,
com quem veio,
com quem está,
com quem se foi,
com todo meu afeto,
com doçura,
com encanto,
com meu canto
Canto Cora, de novo,
Coralina, Cora,
Coralinamente.




Marlusse Pestana Daher
Vitória, 3 de fevereiro de 2020.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

SAUDADES... SAUDADES? SAUDADES!

Ó Casimiro, eu não tenho saudades
“da aurora da minha vida,
“da minha infância querida,
“que os anos não trazem mais.

Se saudade é anseio de presença
de pessoas que amamos ou que perdemos
ou das quais tristes um adeus dissemos...
de coisas que nem sabemos onde deixamos.

Como hei de saudades ter,
do que já não pode, nem poderá
voltar a ser?
“Saudade é torrente de paixão
“emoção diferente”,
repercute ainda hoje na voz de Elizete (Cardoso).
E com ela concordo.

Emoção de diversas cores
de muitos sabores,
de muito sentir,
de sorrir e gargalhar,
de chorar e ver o pranto rolar.

De significado tão infinito
e motivação de muitos matizes,
por que continuar discorrendo hei de?

É assim esta tal de saudade
a qual me rendo por não saber
como e quando vou conseguir
sobre seu decantar ao fim chegar.

Canto, pois com Isolda
e com outros que em confissão,
também já cantaram
enlevados, encantados, de amor embriagados:
“Das lembranças que trago na vida,
“Você é a saudade que eu gosto de ter
“e assim, sinto você bem perto de mim,
“outra vez”



Marlusse Pestana Daher