Hoje faz um mês que minha
tia Idatília nos deixou. Ela quis partir no mesmo
dia dos nossos cinco anos sem
Hilda, quando continuo a repetir: e haja
dor e haja saudade. Dia 20 de maio a tia completou 100 anos, carinhosamente
comemorados com presença numerosa da família, ao menos mais três gerações
depois dela.
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Ela. |
Não sorria, achava que não
precisava ter festa, até porque muito, muito pouco de vista lhe restava, e isto
lhe dava uma certa tristeza. Ainda assim, não é que num ou noutro momento,
mesmo com tal idade, pudesse ensaiar algum passinho titubeante à audição de um
samba.
No dia 20 de setembro, li
em algum lugar que era “DIA DO TIO” e disse a mamãe. Vou visitar titia (era a
última, não é preciso citar nome). Mas não fui. Quando chegou o domingo, disse:
hoje eu vou. Era uma sensação de dever a cumprir e teria ido mesmo, já estava
tudo certo. Só não sabia que ela já estava hospitalizada, operada de uma fratura
na perna em virtude de queda e que nossa velhinha começara a apagar-se como se apaga uma velinha...
Uma prima me liga dando notícia (22/09/2013) de que estava internada, e porque ficou sabendo que ela não
estava nada bem. Como fiquei sentida! Cerca de uma meia hora depois, Eliane,
filha dela, me liga também e agora o veredito ouvido era o final. Chorei.
E fiquei remoendo meus
pensamentos. Puxa vida... como ela gostava de receber visitas... Quando ouvia a
campainha, lá vinha, procurando a chave da porta para abri-la e no rosto o mais
expressivo dos sorrisos.
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Despedindo-se de tio Durval (104 a) em Curitiba |
Gostava, gostava muito de
ser visitada. Telefonava com frequência para mamãe e ainda que de forma muito
menos intensa no último tempo, era ela quem dava as notícias de familiares ou
amigos e mateenses que pudessem interessar à família.
Ainda ralava coco para
fazer doce, cozinhava aquelas coisas boas para tomar café e gostava de servir essa
bebida às suas visitas. Tudo de forma
intuitiva, não via.
Por que não a visitei
antes?...
Em momentos semelhantes
nossa sensação é sempre de quem se arrepende por não ter feito algo, aquela
visita, dado aquele abraço, dito aquela palavra...
Uma parte é sim desatenção,
mas há outra que fica por conta das invariáveis contingências da vida. Para não
morrer de certa forma um pouco, o melhor é não ficar pensando tanto, ainda
melhor é que não se deixe de encontrar tempo para demonstrar afeto, para dar
alegria, para ir ao encontro de quem não pode mais ao nosso encontro vir. Fazer
tudo o que puder ser feito, consciente é certo de que ninguém pode mesmo tudo
fazer.
Ou como disse James
Greene: “Todo o bem que
eu puder fazer, toda a ternura que eu puder demonstrar a qualquer ser humano,
que eu o faça agora, que não os adie ou esqueça, pois não passarei duas vezes
pelo mesmo caminho."
Marlusse Pestana Daher
Vitória, 22 de outubro de 2013 14:00