terça-feira, 22 de outubro de 2013

LEMBRANÇAS DE TIA IDATILIA

Hoje faz um mês que minha tia Idatília nos deixou. Ela quis partir no mesmo
Ela. 
dia dos nossos cinco anos sem Hilda, quando continuo a repetir: e haja dor e haja saudade. Dia 20 de maio a tia completou 100 anos, carinhosamente comemorados com presença numerosa da família, ao menos mais três gerações depois dela.

Não sorria, achava que não precisava ter festa, até porque muito, muito pouco de vista lhe restava, e isto lhe dava uma certa tristeza. Ainda assim, não é que num ou noutro momento, mesmo com tal idade, pudesse ensaiar algum passinho titubeante à audição de um samba.

No dia 20 de setembro, li em algum lugar que era “DIA DO TIO” e disse a mamãe. Vou visitar titia (era a última, não é preciso citar nome). Mas não fui. Quando chegou o domingo, disse: hoje eu vou. Era uma sensação de dever a cumprir e teria ido mesmo, já estava tudo certo. Só não sabia que ela já estava hospitalizada, operada de uma fratura na perna em virtude de queda e que nossa velhinha começara a  apagar-se como se apaga uma velinha...

Uma prima me liga dando notícia (22/09/2013) de que estava internada, e porque ficou sabendo que ela não estava nada bem. Como fiquei sentida! Cerca de uma meia hora depois, Eliane, filha dela, me liga também e agora o veredito ouvido era o final. Chorei. 

E fiquei remoendo meus pensamentos. Puxa vida... como ela gostava de receber visitas... Quando ouvia a campainha, lá vinha, procurando a chave da porta para abri-la e no rosto o mais expressivo dos sorrisos.

Despedindo-se de tio Durval (104 a) em Curitiba
Gostava, gostava muito de ser visitada. Telefonava com frequência para mamãe e ainda que de forma muito menos intensa no último tempo, era ela quem dava as notícias de familiares ou amigos e mateenses que pudessem interessar à família.

Ainda ralava coco para fazer doce, cozinhava aquelas coisas boas para tomar café e gostava de servir essa bebida às suas visitas.  Tudo de forma intuitiva, não via.

Por que não a visitei antes?...

Em momentos semelhantes nossa sensação é sempre de quem se arrepende por não ter feito algo, aquela visita, dado aquele abraço, dito aquela palavra...

Uma parte é sim desatenção, mas há outra que fica por conta das invariáveis contingências da vida. Para não morrer de certa forma um pouco, o melhor é não ficar pensando tanto, ainda melhor é que não se deixe de encontrar tempo para demonstrar afeto, para dar alegria, para ir ao encontro de quem não pode mais ao nosso encontro vir. Fazer tudo o que puder ser feito, consciente é certo de que ninguém pode mesmo tudo fazer.

Ou como disse James Greene: “Todo o bem que eu puder fazer, toda a ternura que eu puder demonstrar a qualquer ser humano, que eu o faça agora, que não os adie ou esqueça, pois não passarei duas vezes pelo mesmo caminho."

Marlusse Pestana Daher

Vitória, 22 de outubro de 2013 14:00