segunda-feira, 25 de junho de 2012

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


Depois de seis anos da edição da lei que "previne" a violência doméstica, os números desmentem sua eficácia e atesta que o alarde promovido apenas comprova que não é o barulho que faz bem. Modestamente, reitero o equívoco do legislador na interpretação do § 8º, art. 226 da Constituição ao pensar que com aquela lei estaria criando mecanismos e coibindo a violência no âmbito das relações familiares.

Violência não tem recorte de gênero, mesmo que exercida predominantemente por quem tem mais força e necessita expor sua fragilidade: "você tem que me servir quando eu quero, senão te prendo e não vai mais nem à Igreja" (assistam a Gabriela). Não é só resultado de bebedeira, de cultura, ou congêneres. Violência nasce, cresce e prolifera no espírito deformado por causas.

Jens Hoffmann, psicólogo alemão, da Universidade Técnica de Darmstadt, especialista em casos de adolescentes que cometeram massacres em escolas, desenvolveu um software para a identificação preventiva de jovens com tendências homicidas e teria encontrado 32 fatores típicos de risco.

Esforço-me para entender, fui assaltada pelo temor de estarmos voltando, mediante equipagem moderna, à adoção de vetusta tese lombrosiana, mas subscrevo sua afirmação em entrevista à revista "Reader’s Digest; “um crime tão grave é sempre o final de um longo caminho que começa com humilhações, rupturas sociais e experiências de perda. Com frequência, ainda ocorrem conflitos no colégio”.

Convivemos numa sociedade de diferenças flagrantes, de desatenção para com os pequenos seres de qualquer espécie, de descaso para com necessidades humanas vitais, fazemos de conta que não vemos o olhar triste de muitas crianças, o choro que brota forte de sensibilidades feridas, o clamor pela ausência daquele cuidado que tem o condão de aconchegar mais que corpos, almas em busca de atenção, porque falta ética.

Vacilamos na tomada de decisões definitivas por políticas públicas que valham, que cumpram suas finalidades, sobretudo, que saiam do papel. Ao invés, fazemos de conta que estamos combatendo a violência doméstica, apenas uma entre as tantas manifestações de violência que existem.

Não precisamos de mais leis, precisamos de advogados que mediante pedidos bem fundamentados façam estremecer os tribunais, precisamos de juízes que decidam mediante as fontes de todos os gêneros já existentes e respondam ao apelo dos seus jurisdicionados com brevidade e eficiência. Violência é erva daninha que se espalha: “acabe-se com a violência que a violência doméstica acabará”. (Diana Morán).
Em A GAZETA do dia 18-06-2012