domingo, 2 de junho de 2013

MINHA GRÃ-MESTRA


 

Weber José Vargas Müller é membro                                                                    
das Academias Marataizense de Letras, Letras e Cultura e Guaçuí,                                   da CAPAZZ- Confraria de Artistas e Poetas pela PAZ,                   
 Membro da Academia de Letras de G.

Ser filho de professora é muito bom, principalmente no meu caso, em que fui aluno da minha mãe, por dois anos consecutivos e pude estudar com todos os professores e professoras que ela mesma escolhia e me matriculava na turma 
Weber Müller


em que percebia que eu me  adaptaria aos métodos e prática pedagógica dos mestres. Pois bem, assim o fez durante toda a minha vida acadêmica  no ensino fundamental, onde pude experimentar maravilhosos saberes e vivências pedagógicas de verdadeiros  educadores, que me  motivaram a alçar voos mais altos  e ilustraram as páginas da minha vida com magias, palavras, conhecimentos, afetos, dedicação e vocação pelo magistério.


Exatamente no ano de 1980, ainda aluno na Escola de 1º. Grau “Antonio Carneiro Ribeiro”- Colégio Estadual, deparei-me com inúmeros professores, dedicados, zelosos, porém fora amedrontado pelos alunos mais velhos e de séries mais adiantadas de que eu não gostaria de estudar com uma determinada professora porque ela era  brava demais, exigente, severa, rígida e eu iria passar muito aperto. O desafio estava lançado. Minha reação inicial fora a de pedir à minha mãe para me transferir de sala, querendo logo fugir dessa “cascavel”, procurando o caminho mais fácil, quer seja , o de livrar-me e estudar com um professor menos exigente. Minha mãe, com sua sabedoria magistral, tino de educadora  e astuta, foi logo dizendo-me que nem sempre o caminho mais fácil é o melhor. Advertiu-me e desafiou-me a enfrentar a professora, procurando me empenhar , estudar e mostrar a ela que quando nós queremos, nós podemos e conseguimos  vislumbrar sucesso, independente de quem seja o nosso mestre. Assim o fiz. Fiquei, a contragosto, naquela turma  e fui, pouco a pouco, me encantando e  fascinando pela tão temível professora de Língua Portuguesa.  Não perdia uma palavra, um gesto, um detalhe sequer de suas aulas. Tomava nota de tudo o que ela falava, registrava seus comentários, fazia todas as tarefas, copiava tudo o que ela escrevia e passava como exemplos no quadro-negro e fui, a cada dia, me aliando à mestra, desmistificando essa figura horrenda que havia sido formada em minha memória. Construí no meu coração uma nova imagem: o de uma mulher rígida, porém doce. Uma imagem de uma mulher brava e ao mesmo tempo carinhosa. A figura de uma professora  que destruía o aluno, foi posta por terra e ergui uma imagem de uma professora  construtora de castelos e admiradora de todos os talentos edificados por ela. Essa imagem foi me proporcionando o amor pelas letras e pela sua maestria  como educadora, terna e eterna em minha vida. Recordo-me de suas aulas de gramática, à luz dos ensinamentos de Domingos Paschoal Cegalla, onde viajava por horas em suas lições e socialização de conhecimentos  incorporados por sua vivência em sala de aula. Conclusão: aquela cascavel não era venenosa, nem tampouco ameaçadora. Era sim uma  ourives que lapidou pedras brutas e nos transformou em joias de pessoas, homens responsáveis, comprometidos e verdadeiros cidadãos. Seus saberes  iam além dos parâmetros curriculares exigidos. Ela não se prendia a métodos e paradigmas, ensinava-nos a ser estudantes, pois sempre dizia que essa era a nossa profissão e devíamos exercê-la com dedicação e compromisso. Jamais esquecerei de uma grande lição deixada por ela. Numa de suas aulas, de interpretação de texto, em que líamos silenciosamente o texto e depois era feita uma leitura por vozes alternadas. Durante a leitura silenciosa, deparei-me com uma palavra desconhecida e perguntei a ela o significado e a professora , sem titubear, respondeu-me. Prossegui a leitura e novamente outro vocábulo tornou-se pedra no meu caminho. Perguntei à professora o significado e percebi que aquilo começara a tirá-la do sério , mas mesmo assim respondeu-me, com exatidão. Ao dar sequência à leitura, mais uma vez me vi obstaculizado por uma palavra desconhecida , não me hesitei e fui logo perguntando:

- Professora, o que significa Grão-mestre? Ela  retirou os óculos, olhou-me com uma expressão severa , respondeu-me o significado . Aquele olhar  tinha a intencionalidade de fazer-me parar de perguntar e apenas fazer a leitura silenciosa. Mas eu não poderia continuar a ler, se eu não soubesse o significado de vocábulos, pois assim não conseguiria depreender do texto a mensagem desejada e, certamente, não haveria comunicação alguma.

Como aluno crítico e sempre questionador que fui, atrevi-me a perguntar à professora o feminino de grão-mestre, porque fiquei pensando:  a professora não pode ser grão-mestre....O que ela será?

Não imaginem vocês a reação da professora.... Respondeu-me: Grã-mestra!!!!   E disse-me mais: de hoje em diante, nunca mais pergunte a professor algum o significado de uma palavra. Todas as vezes que você se deparar com algum verbete que desconheça, consulte o dicionário. Se não encontrar o que deseja, consulte alguém mais experiente, mais sábio.

A resposta veio-me à ponta da língua imediatamente:

- É o que tenho feito, Grã-Mestra, desde o início da aula!!!!!



Essa Grã-Mestra, é minha querida, amada, entusiasta e incentivadora Comendadora Ivanete da Silva Glória Dalmácio, ou, essencialmente,   IVANETE GLÓRIA!
Esta crônica, valeu ao autor o titulo de Melhor Cronista, pela Academia de Goiás, com a outorga da Comenda Palma Dourada.