terça-feira, 17 de janeiro de 2017

TYNDALL, O ESPOSO, NOS VERSOS DE ELZA


Tyndall
Tyndall, esposo de Elza Cunha

 

Quando um grande amor falece,

embota o estro, a poesia.

A saudade fortalece

sob o véu da nostalgia.

 

Tenho o coração aquecido

pelas saudades sem fim.

Ao lembra-te meu querido,

que tristeza vem a mim.

 

Agora que já partiste,

não tenho inspiração.

Meu viver é sempre triste.

Saudades no coração.

 

 

O Que me Restou

( Em memória de meu  esposo José Tyndall Pires )

 

O que me resta da vida?

Pergunto ao espaço afora.

De tua visão encanecida

resta a dor, que sinto agora.

 

O que me resta da vida

                             Se quero escutar-te  -Em vão.                                           

De tua voz estremecida.

,o que me resta? - Solidão.

 
O que me resta da vida?

- Sinto do inverno a estação.

Já não me sinto aquecida

juntinha ao teu coração.
 

O que me resta da vida?

Da nossa felicidade?

De tua imagem querida?

O que me resta - Saudade...
 

Dos longos anos vividos,

um consolo me restou:

Bondosos filhos queridos,

sendo que, tu, Deus levou.

 

Lamento (I)

( A meu esposo )

 

Irrequieta, tristonha, coração opresso,

vislumbro nos lares música e alegria,

enquanto eu, à passos a solidão meço,

possuída de tédio e dura nostalgia.

 
Ano-Velho, adeus!... Ano-Novo te peço:

-dá-me tuas mãos, livra-me desta agonia!

Reconduza o júbilo de mim egresso,

que, tento deter e mais se distancia...

 
Amargurada, em vão procuro esquecer

o teu ser ausente, à noite da esperança!

Uma página que se vira, lembrança.

 
Plena de alegria, também o sofrer,

este, o companheiro errante que não cansa

de se fazer presente, e a todos alcança.

 

Frustração (III)

 

A infelicidade que em mim existe

com as lágrimas sempre a tremular,

são filhas da desilusão, que insiste

em dominar meu ser, estrangular.

 
Em torno de mim, é tudo tão vazio

de estímulo, idealização e carinho.

A alegria do viver me distancio,

arruinando o que é belo em meu caminho.
 

Muitas vezes, desejo a paz na morte.

Triste, mas, solução definitiva,

pondo término à minha infeliz sorte.

 
A máscara do riso, tombaria

para sempre. Esta, arma caritativa

que, com a dor, comigo finaria.

 

 

Retalhos da Alma (IV)

( A meu esposo)
 

Se meu coração cansado do amargor,

marcar o compasso da vida que se vai,

desejo calma, não quero pranto, a dor,

que esta alma parte, qual perfume que se esvai.

 
Acenando adeus, a lágrima da agonia

deslizará suave, conduzindo a paz,

iluminando por momento a face fria

liberta da vida que, lhe foi falaz.

 
Peço a Deus que no meu sono derradeiro

encontre a ventura, que sonhei acordada.

Almejo a quietude da eterna morada.

 
No silêncio da campa, quisera o cheiro

das flores, ouvir os pássaros cantores,

risos de crianças, tríduo de meus amores!

 

 

Tarde Sombria

(  A meu esposo José Tyndall Pires )

 

Numa tarde tristonha e sombria,

vendo teu corpo baixar à campa,

as lágrimas o meu rosto cobria

em sulcos, que só na dor se estampa.

 
Surpresos, amigos e parentes

passo a passo sufocam os seus ais.

Tudo consumado... Entrementes,

punhados de terra, dor, nada mais.

 
O véu da noite cai. A tarde encobriu.

Da solidão me fiz companheira.

Eras meu tudo, a morte destruiu.
 

Conturbada pela dor, olho o céu,

e vejo a lua de certa maneira.

Ela também chorava, e se escondeu.