Fran D. Menengussi São
Mateus - ES
E a minha
cicatriz ainda continuava aberta quando veio um novo corte.
Foi apenas no
ano passado que perdi minha filha, moça já criada e mãe de primeira viagem, se
foi sem me dizer adeus, nem aviso. Ruptura rude de um laço fraternal único,
cicatriz na alma forjada no fogo trazendo uma dor imensurável.
Como dizem,
sobrevivi ao ano catando cavaco e os cacos, lutando e aprendendo a ser mãe do
meu neto, sorrindo e o acariciando com o olhar para que aquele bebê de apenas
sete meses se sentisse amado duplamente, tentando estancar dores e lembranças
naquele pequeno coraçãozinho. Mentalizando sempre positivamente na busca por um
amanhã melhor.
E o amanhã
chegou contrariando as expectativas, cheio de medo, dor e luta. O câncer que
sempre vi como um atestado de óbito veio como me provando, me testando e
perguntando: até onde vai a sua fé...
E, vieram mais
cicatrizes internas e externas, três cirurgias, cti, cinquenta e quatro dias
resfolegando por vida. E Deus permitiu que eu voltasse, Ele, uma equipe médica
sábia e humana, amigos em constante oração e uma família amorosa. Como amo ter
no meu sobrenome a palavra Duarte, como esse povo maravilhoso e altruísta
consegue ser sustentáculo na alegria e na tristeza.
E os meus
cabelos caem por onde ando e vejo neles, espalhados pelo chão, a perda daquela
que fui um dia. E esse novo eu que não compreendo, não entendo e não controlo,
me apavora. Logo eu, que sempre fui um livro de autoajuda ambulante, com
respostas certas para as dores da vida, autoestima nas alturas, sou tomada por
tamanha fragilidade.
Quando o meu
olhar no espelho reflete esse novo eu, que desconheço, tento de todas as formas
conectá-lo, buscar parâmetros e referências para retomar a
posse daquela que fui. Mas, não reconheço o meu físico, perdi o estofamento do
corpo e da alma.
E como é
difícil ser piegas: olhe o horizonte, respira o ar, sorria para a vida,
bendizendo a todo instante a sua sorte de estar viva.
Mas, nesse
cruzamento da nova com a antiga, encontro perseverança, resiliência e uma fé
redobrada. Descobri no tempo, que cicatrizes vão se curando e modificando as
nossas histórias, que por mais sofridas que sejam tornam-se bonitas por nos
descobrirmos fortes e sobreviventes. Temos um apego tão grande com a vida que
aprendemos a conviver com elas. Mas nunca esquecê-las...