Em nossa casa, só uma única vez tivemos animal de estimação. E como era de estimação!
Papai, como sempre, só podia ser ele, chegou em casa um dia, trazia um recém nascido cãozinho que encheu-nos de encantos e desde então participou das nossas brincadeiras e fez muitas de nossas alegrias. Brincava conosco, corria atrás de nós seguidamente e não cansávamos. Era branco não completamente, tinha algumas manchas de preto e tinha abundante pelo que lhe dava um belo visual, nós praticamente o amávamos.
Como não lhe demos nenhum nome e desde o início do nosso convívio, o chamávamos simplesmente Cachorrinho, Évila que ainda não falava bem, chamou-o Choinho. Pronto, este passou a ser seu nome próprio.
Choinho acompanhava nossas andanças. Sempre fiel, atento, amigo. Não era um cão de guarda, era demasiado manso pra que se desse a tal afazer.
Lá pelos dez anos, Choinho ainda brincava, mas seus passos começaram a se tornar mais lentos. Já tinha 12 anos, quando um dia foi descoberto deitado e inerte. Silenciosamente, morrera.
Nosso pranto foi tanto e tanto durou que mamãe decidiu que nunca mais adotaríamos outro animal.
E quase que foi assim, até que um dia, não me lembro quem, presenteou-me com um Sagüi a que chamávamos Mico. Era lindo, comia banana e fazia trejeitos mil, uma diversão. Como eu gostava dele!
Mas eis que D. Terezinha, professora de Rachid, foi nos fazer uma visita. Gostou do Mico e para agradá-la, o presenteei a ela. Mamãe assistiu consternada a doação, prevendo como eu reagiria depois. Não deu outra.
Ao ver o Mico se distanciando no carona da bicicleta, chorei copiosamente. E a pobre da mamãe se pôs a cogitar o que fazer para pedir a D. Terezinha que me restituísse o Mico, esperava contar com a compreensão dela, certamente entenderia meu gesto de criança.
Proposta afinada, mamãe se pôs em ação enquanto eu me sentia aliviada por poder reaver meu bichinho.
E ai? E ai? Na mesma bicicleta D. Terezinha volta a nossa casa para anunciar cheia de compreensão e imenso pesar que quando chegava em casa, um cachorro do seu tio, voara sobre o indefeso Mico, pegou-o, sacudiu-o, estrangulou-o e ...
Entrou pela boca do pinto,
Saiu pela boca do pato,
Quem quiser que conte quatro.