quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

POBRE OFERENDA

                           
Deny Gomes


Queria te dar, menino,
o meu amor mais bonito,
o meu jeito mais maneiro
de aparecer na esquina
e sorrir para você.

Queria te dar, moreno,
a minha voz, minhas mãos,
aquele brilho em meus olhos,
minha gana de viver,
me consumir de paixão. 

Queria te dar, cigano,este feitiço, a magia
do meu bem-querer sem freios,
os meus cavalos de sonho
cobertos de pura prata.

Queria te dar, corsário,
o meu sangue, meus segredos
na palma da minha mão
e meu navio encantado
com tesouros no porão.

Olha, eu queria te dar
o meu perfume almíscar,
meu gosto de maresia,
para bulir com teus sentidos,
te fazer desatinar.

Eu queria te entregar
as cicatrizes profundas
que a vida riscou em mim
e pedir que me curasses
deste desespero mudo
de só te dar estes versos,
de não pode te dar tudo.



Poema no livro “O desejo aprisionado” –
2ª edição SECULT 2015