Da cepa brotou a rama,
Da rama brotou a flor,
Da flor nasceu Maria,
De Maria, o Salvador.
Baseado
em Lucas, 1,16 ss.
Na liturgia da Palavra do
domingo, 23 de dezembro de 2018, a passagem narrada pelo Evangelho como antes
nunca, me tocou profundamente. E sou
levada a fazer o que agora faço, escrevo, mas é a conclusão à qual cheguei e revelarei
no final, que se constituiu no objetivo, na associação que fiz entre aquele e os
outros momentos que poderiam estar acontecendo em vista das causas ou situações
que cotidianamente, vivenciamos.
Embora sempre implorassem
juntos ao Senhor o advento de um filho, penso que de certa forma entendiam, que
o tempo de Deus não é o nosso, sabiam que os pensamentos de Deus não são os
nossos. Os planos de Deus estavam bem traçados, o filho que gerassem, seria
precursor do Messias cuja chegada era estimada para a “plenitude dos tempos” o
qual ainda não chegara. A pobre Isabel provavelmente terá provado uma certa humilhação
perante o marido, personagem de destaque, fazia parte da equipe dos sacerdotes
de Abias.
Competia a eles oferecerem os sacrifícios e holocaustos a Javé,
únicos autorizados a entrar no “santo dos santos”. O povo permanecia na área
externa do templo. Era assim o rito litúrgico à época. Mas o que me faz refletir melhor,
no entanto, foi pensar o quanto era feliz a Virgem Maria, “bendita entre todas
as mulheres ... porque acreditou nas coisas que da parte do Senhor lhe foram
ditas”, que, ao invés de se orgulhar por
ter sido escolhida pessoalmente por Deus para protagonizar o fato mais importante, eficaz e duradouro
pelos séculos e séculos sem fim, “conceber do Espírito Santo e dar a luz, o Filho
de Deus que se fazia homem, para salvar a todos”. Considerou como pura
misericórdia o ato de “o Senhor olhar para a humildade de sua serva”. E a salvação
compreendia a geração que já passara, da que vivia, e as futuras, hoje, e os
que ainda estão por vir.
 |
Anunciação |
Tudo se deu enquanto no silêncio
– diz-se que foi encontrada ajoelhada - se entregara a oração. Absorta na
contemplação dos mistérios abissais de Deus, tem sua atenção desviada para
improvisa aparição de um Arcanjo que se apresentou como emissário do senhor
para revelar-lhe uma missão a cumprir e para tanto, obter seu consentimento
livre, no uso da liberdade da qual o
mesmo Deus dotou todos os filhos seus.
A saudação tinha caráter
absolutamente insólito e ao mesmo tempo
exclusivamente usada em relação a ela, não pelo interjetivo. “salve”, mas pelo que foi acrescentado a seguir: “cheia
de graça”.
Ave! Salve! Olá! Shalon! Tudo
bem? Como vai? Nada disto, mas “cheia de graça”. Realidade extraordinária e que
além do mais só a ela foi dirigida por
ordem e desígnio do que governa terras, mares e céus.
Mas é natural que quisesse
um esclarecimento: “como se dará isto”? O Arcanjo lhe responde: “o santo que
nascer de ti, será chamado Filho de Deus”. E nada mais se fez necessário para
que generosamente respondesse em promessa que jamais seria descumprida: “eis
aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a Sua Palavra”.
Foi desde sua conceição,
imaculada, o pecado que “emporcalha” todos os descendentes de Adão e que só
pela força do batismo é apagado, não penetrou nela, não a atingiu e quando de
Anna e Joaquim foi concebida esta nova vida, cumprido o tempo da gestação, num oito
de dezembro, nasceu um serzinho que se chamaria, simplesmente Maria. Seus pais
ainda que virtuosos, não tinham olhos capazes de vê-la além da aparência, era
igual à, de todo ser humano; ou que, olhando-a divisassem naquela menina alguma
diferença ou distinção de outras, suas
coetâneas.
Mas ao vê-la
desenvolver-se, pelos seus gestos, pelo modo com que se expressava o que só se
justifica pelo seu ser “cheio de graça,” acabaram por compreender sem que
sequer imaginassem o que fosse, que algo de especial havia naquela sua Maria.
Pais verdadeiros em
família exemplar estavam sempre atentos, sempre vigilantes em tudo que lhe
dissesse respeito. E tão compenetrados da realidade, costumes vigentes naqueles
tempos, ainda que fosse tão jovenzinha, não consta que se tivessem oposto ao
seu casamento com um homem bem mais velho que ela. De virtudes reconhecidas,
mas mais velho e mesmo reunindo as qualidades do que lhe deu o título de “homem
justo”, e claro, principalmente, por também ele, ter sido predestinado à missão
de Pai putativo do Filho de Deus encarnado. Protagonizavam os acontecimentos,
mas era Deus a determinar tempo e hora do que quer que fosse que podia
acontecer, sem que disso se rendessem conta, de como se deviam comportar.
E aconteceu o “arranjo”
para as núpcias entre os dois. Mesmo que o período fosse de noivado, fala-se
que estavam desposados (uso a expressão para fidelizar a nomenclatura da época)
como constam das escrituras.
Imensurável “o silêncio de
Maria”. E surgiu um complicador em seguida. Foi promovida a Anunciação,
enquanto a fase da vida entre os dois era, como sobredito, o de noivado. E
apesar de não lhe passarem despercebidos os sentimentos que perpassavam a
reação de José, ainda assim: “conservou no coração as coisas que da parte do Senhor
lhe revelara o arcanjo” Não se tratava de algo comum, mas da gestação do
verdadeiro Deus, Aquele que ela carregava em seu ventre era Deus feito homem.
Dai foi, como é comum, o
surgimento das interrogações. Não podia esconder que estava grávida, “mas como?
de quem”? Não se lê a aflição pela qual certamente
passaram seus pais, por não ter condição de negar a verdade que a ninguém
passava despercebida e no meio do povo, aquelas “conversinhas fiadas e
maldosas”: quem diria hem? Eta santinha
do “pau pioco”...
E o homem justo também foi
sufocado pelas indagações, atônito, toma uma decisão extrema, saiu da cidadela
em segredo, não tira satisfação, não comenta, não reprova. E começa sua
cansativa caminhada, “abandonando-a em segredo”. A certa altura, rendendo-se ao
cansaço, se acomoda em algum lugar como pode e dorme. É quando mais uma vez
entra no desenrolar dos fatos um Anjo o qual lhe diz: Vai embora não, José,
Maria é uma moça honesta, irreprovável, ou mais precisamente, “bendita entre
todas as mulheres, receba-a como sua esposa, pois tudo que aconteceu com ela, foi por obra
e graça do Espírito Santo”. Não consta que José tenha proferido a voz, mas com
ação imediata, pronuncia seu SIM a Deus e que por sua vez, não retiraria jamais. Empreende o
caminho de volta e esteve sempre ao lado dela, fazendo seu papel de “pai de
família” .
 |
Maria enconrta Isabel |
Voltando ao que sucedeu no
encontro das duas primas destaca-se o fato de que ante a proximidade daquele
que precederia e com expressa missão para tanto, confessou-o Isabel, porque foi
ela a sentir. Saúda Maria: Javé, meu Deus, o que está acontecendo, que merecimento
tenho eu para receber na minha casa, a Mãe do meu Senhor? E disso não tenho a menor dúvida porque apenas ouvida
a voz de sua saudação “o menino exultou de alegria no meu ventre”.
E revelando que não era
nenhuma bobinha e que nos seus silêncios sempre meditou sobre as escrituras,
Maria entoa o canto que a personificou, tornou-se o currículo de sua vida. A
primeira palavra é de gratidão, a segunda de louvor: “minha alma agradece o
Senhor, explode de alegria a minha alma em Deus, meu Salvador”.
E tiveram três meses para
compartilhar suas vidas, orarem juntas, agradecerem e louvarem os prodígios
operados por Deus em suas vidas. E João nasceu.
A
conclusão?
E qual foi minha conclusão,
e que, eu sei, não chega a ser novidade?
Assim me expresso porque foi como fui dominada durante a reflexão: Deus é
absolutamente o Senhor, razão porque “toda língua deve confessar isto, para a
glória de Deus Pai”. (Fil. 2,11). Sendo Senhor, é Ele que determina cada
momento de nossas vidas, como já dissera Jeremias 1,5: “antes que te formasse
no seio de tua mãe, te conheci, antes que dele saísse, te santifiquei e te
entreguei para seres profeta das nações”. Não dá para se ter a menor dúvida de
que somos absolutamente conduzidos por ele, sempre que escolhemos a estrada santa, aquela que nem mesmo os loucos
ao trilharem-na, correm o risco de errar.
(Is. 35,8).
Nada disso se aplica aos
que optam pela prática do mal, por matar centenas e até mais de pessoas
inocentes, por atos de terrorismo, pelos ditadores biliardários deixando o povo
à míngua, pelo poder e não fazer, pela indiferença frente aos males que
acontecem. “É onde há amor e caridade é
ai que Deus está”.
Ele projeta o curso dos
nossos dias, tudo que devemos fazer, colocando à nossa disposição as graças
para que executemos o melhor dos melhores possíveis, tudo devidamente
cronometrado. E ainda mais, para
redimir-nos do pecado permitiu que seu Filho humilhando-se se entregasse à
morte na cruz.
E nunca me esqueço do
exemplo dado pelo saudoso Pe. Carlos Furbetta, dos Missionários Combonianos,
numa aula de religião. “Estamos completamente em Deus. O peixe, por exemplo,
vive na água, mas no lugar onde o peixe está, a água não está, mas Deus está
dentro de nós, mesmo onde nosso corpo está, Ele está”. Ele sabe tudo a nosso
respeito, tudo que tem para nós é concedido no Seu tempo, na Sua hora, como e
onde Ele quer.
Se Ele assegurou: “batei e
abrir-se vos há” (Mt. 8) ... quando chegar o tempo...
Quer saber mais, confira
com o Salmo 138, de Davi.
Marlusse Pestana Daher Vitoria, 12 de janeiro de 2019 23:47