domingo, 19 de junho de 2016

SIMPLESMENTE QUERER


        Município é uma fração do estado. Compõe-se de um povo e um território delimitado. Pressupõe capacidade de sobrevivência independente dos circunvizinhos, aliás, só devem ser criados, quando houver prova de tal possibilidade. No Brasil, como em nenhuma outra parte do mundo, o município é de fato independente.

Sob a vigilância da Câmara de Vereadores é conduzido por um Prefeito Municipal, o qual pode e deve dirigir todos os departamentos que o compõem, deve coordenar todos os serviços que cumpre serem prestados: saúde, educação,  limpeza urbana, empreendimentos de toda sorte, quaisquer outras iniciativas  que promovam o desenvolvimento, norteando-se  para o bem de sua gente.

Para consecução de sua finalidade o município também está dotado da possibilidade de estabelecer suas metas, de elaborar suas leis, fazendo-as serem cumpridas.

        Por isto, o Chefe do Executivo seja da maior,  como da menor cidade brasileira, em reconhecimento da sua necessidade de sobreviver, é pago. Além de receber quanto lhe permite viver dignamente, assistindo sua família, o Prefeito conta com verbas para viagens, alimentação, para  toda e qualquer  exigência que decorre de sua função, sem que possa alegar sacrifício, até porque, trata-se de cargo que dá,  não apenas,  muita satisfação pessoal, “status” a quem dele estiver investido.

        Não precisa tirar de onde não deve, pagar o que não comprou, realizar conchavos e fazer “maracutaias”.

        Que somos um país que prima pelas desigualdades, ninguém duvida, mas é também verdade que  ninguém pode negar que as estruturas estão dotadas de meios que permitem, mediante uma administração sadia, colimar todas as metas, fazer tudo o que deve ser feito, no efetivo enfrentamento das questões sociais e a cada dia vir reduzindo a situação de indigência a que muitos estão relegados. 

         Não faltam verbas, falta honestidade no gerenciamento delas.

        É deveras lamentável o que além de passar de boca-em-boca, os jornais vêm noticiando: grande parte dos senhores prefeitos municipais que tomaram posse no primeiro dia do novo milênio depararam-se com verdadeiro caos instaurado nas respectivas prefeituras. Contas para pagar, principalmente salários atrasados, por vários meses, falta de absolutamente tudo, por exemplo, nem uma folha de papel, computadores quebrados, carros imprestáveis, cofres vazios...

        Assim, o dia seguinte ao da posse, constituído de inúmeros abraços, de gestos e manifestações várias, de cumprimentos, de pipocar infindável de fogos, de discursos eloquentes e de  aplausos calorosos, vem a dar vez, por mais que tenham sido feitos planos, à dura realidade de ter que escolher como solucionar  tantos problemas na falta do fundamental: verba.

        Último ano de um mandato  não pode ser tão diferente dos anteriores. Há um orçamento que tudo prevê ao qual  foi dado um valor que vem sempre sendo alcançado por antecipação, autorizando a crer que foi superado. Alguém deveria explicar o que aconteceu, mas não acontece. Enquanto isto, o que se sabe é que muitos mandatários municipais engordaram suas fortunas e suas contas, tornaram-se ricos, se eram pobres, milionários, se já eram ricos.

        Está na hora de o povo de fato vigiar o que fazem aqueles que constituíram seus representantes, participar da vida pública dizendo presente à cidadania. Não se crer insignificante, até porque em uma pequena cabine, sua mão se torna potencialmente dotada, a ponto de executar um gesto que por ser  breve, não exclui   suficiência  para  constituir um mandatário.

        Tomara que os prefeitos e vereadores do novo milênio queiram municípios sarados. O resgate social é possível. Os tributos que logram arrecadar, outros recursos que chegam,  bem usados, podem promover verdadeira redenção.

E que ninguém pense que para realizar isto seja necessário muito mais do que: simplesmente querer.






 Publicado em A GAZETA  de 15 de janeiro de 2001. com o título: SIMPLESMENTE QUERER.