Maria, Mãe da Misericórdia
Reparemos
que a nossa Igreja não inventou uma invocação como tema da Festa da Penha deste
ano. Quando rezamos, Salve ó Rainha, acrescentamos em seguida, mãe de
misericórdia.
Existe
uma íntima relação entre Maria Santíssima, a Mãe de Jesus, o mistério da
misericórdia divina e a prática da misericórdia. Maria está desde a sua
concepção envolta na misericórdia infinita do Pai, pelo Filho e no Espírito
(preservada do pecado e do demônio), ao mesmo tempo em que o seu agir – antes e
depois da sua Assunção – está assinalado pelo amor efetivo aos seres humanos
(especialmente pelos pecadores e sofredores).
Em
15 de agosto de 1983, a Igreja Católica aprovou oficialmente, o formulário da
Missa Votiva “Santa Maria, Rainha e Mãe de Misericórdia”, o que se constituiu
em importante marco para a história de sua veneração – sem nos esquecermos que
a 30/11/1980 o Papa João Paulo II na sua Encíclica Dives in misericordia destacou
que Maria é a “pessoa que conhece mais a fundo o mistério da misericórdia
divina” (n. 9). Anos depois o Catecismo da Igreja Católica (1997) dirá que ao
rezar na Ave-Maria: “rogai por nós, pecadores”, estamos recorrendo à “Mãe da
misericórdia” (n. 2677).
A
invocação “Salve, Rainha, mãe de misericórdia” destaca a qualidade do
olhar materno de Maria quando dizemos:
“esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”, e se conclui com o sentido
desta sua misericórdia: “ó clemente, ó piedosa, ó doce, Virgem Maria”.
O título
de “Mãe de Misericórdia” se crê que foi dado pela primeira vez a Maria por um
santo de nome meio estranho Santo Odão (+942), abade de Cluny. Maria lhe teria
dito em sonho e revelou: “Ego sum Mater misericordiae”
(Eu sou a Mãe de Misericórdia),
No mundo
oriental podemos encontrar testemunhos ainda mais antigos. O padre oriental da
Tiago de Sarug (+521), aplicou a Maria explicitamente o título de “Mãe de
misericórdia” (Sermo de transitu), o que é por muitos considerado como sua
primeira atribuição em absoluto.
O TÍTULO, MÃE DE MISERICÓRDIA
O título
“Mãe de misericórdia” que
reconhecemos a Maria se justifica no fato de ela ser a mulher que experimentou
de modo único a misericórdia de Deus – Ele a envolveu de modo desde a sua
Imaculada Conceição, passando pela Anunciação, como discípula fiel do seu
Filho, até o grande momento da Sua Páscoa (paixão, morte, ressurreição,
glorificação e Pentecostes). Ela é “cheia de graça”, ou seja, totalmente
transformada pela benevolência divina (cf. Ef 1,6).
Maria é a
mãe que gerou a misericórdia divina encarnada adquirindo uma relação
inimaginável intimidade com o próprio “Pai das misericórdias” (2Cor 1,3). A
partir do seu “eis-me aqui” e o seu “faça-se”, a misericórdia divina se faz
carne e entra na história!
Maria
profetisa, exalta a misericórdia de Deus –por duas vezes, no Magnificat: “a sua
misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”;
“socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia” (Lc1,50.54).
Maria é a
intercessora incansável do povo de Deus, a exemplo do que fez quando rogou
pelos esposos de Caná. Assunta ao céu, Ela “continua a alcançar-nos os dons da
salvação eterna”, praticando assim a
misericórdia, sobretudo para com os que padecem dos males da alma (pecadores),
mas também do corpo (todos que sofrem).
Maria é a
apóstola incansável da misericórdia divina – com permissão e o envio do seu
Filho, Maria visitou seus filhos ainda
peregrinos neste mundo, nas aparições (Guadalupe, La Salette, Lourdes, Knock,
Fátima etc.), convidando a todos a se aproximarem do “trono da graça” que é o
seu Filho. Com o seu coração compassivo de Mãe, não poderia permanecer
indiferente às mazelas dos seus filhos neste vale de lágrimas!
A Mãe de
Jesus e nossa merece, portanto, ser honrada como Mãe da Misericórdia e Mãe de
misericórdia! Ó Maria, Mãe que experimentastes e gerastes a Misericórdia, Mãe
que proclamais e exerceis a misericórdia, fazei de nós autênticos apóstolos
deste mesmo mistério de amor em nossos tempos. Amém.