
E
há um problema, em algumas circunstâncias, ficam devendo mais clareza, pois nós
outros, o povo, temos outras ocupações, não podemos seguir tudo, nem sempre
entendemos o que nos dizem ou o que significa mesmo, certas afirmações que
fazem.
Aconteceu
com Miriam Leitão, no programa “Bom Dia Brasil” da última sexta-feira, quando
depois de comentar as últimas turbulências... que turbulência! trata-se mesmo é
de tempestade, daquelas que devastam economias como a da nossa vizinha,
respingando em nós. Ao citar diversas reduções que em conseqüência se
processarão por aqui, etc, concluiu dizendo que o Brasil tem como vencer a
crise. Resta só esperar mais um pouco para se saber, quando e como se dará
a “quebra” da Argentina “com direito a calote e tudo”.
Não somos economistas e temos o direito
de ser mais bem informados. O Brasil tem como superar a crise? os Ministros demonstram serenidade? mas de
que é que se fala? ou não são tidas em conta,
certas estatísticas muito evidenciadas nos últimos dias, durante a realização
no Rio de Janeiro, de 6 a 8 do corrente mês, da “1ª
Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância” da qual saiu a “Carta do Rio”, com quase 300 propostas.
Tratou-se de uma prévia para a “Conferência Mundial contra a
Discriminação Racial” que a ONU promoverá em Durban, na África do Sul, de 31 de agosto a 08 de setembro
próximos.
Na oportunidade, lembrou-se
que em 1993, o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), fundação da Secretaria de Planejamento,
Orçamento e Controle da Presidência da República, apresentara um relatório com
os seguintes dados: “32 milhões de pessoas passam fome no Brasil; 9 milhões de
famílias possuem renda mensal que só dá para comprar no máximo, uma cesta
básica de alimentos; cerca de 2,7
milhões de crianças menores de 2 anos apresentam déficit nutricional; 7,2 milhões de indigentes residem no
Nordeste; 4,5 milhões dos famintos são "famintos urbanos" e vivem nas
regiões metropolitanas”.
Registrou-se
ainda ali, que Roberto Martins, atual presidente do mesmo IPEA, com base em dados próprios, cruzados com os
do IBGE, coletados em 1999, afirmou: “a pobreza no Brasil, tem cor: é negra. A
renda mensal dos brancos no país é de R$ 400 e a dos negros é de R$ 170. O
Brasil branco é cerca de 2,5 vezes mais rico que o Brasil negro”. No Brasil, 22
milhões de indigentes (que ganham até R$ 60 mensais), representam 13% da população. Esse percentual
sobe para 18% entre a parcela negra da população e cai para 8% entre os
brancos. Há diferenças também na área educacional: a taxa de analfabetismo dos
negros é de 16,5%; a dos brancos é de 9%.

Portanto,
vencer a crise passa pela solução de problemas que são mais sérios do que
possamos pensar, principalmente, porque ainda nos deixamos governar por aqueles
que “somente por fortuna se tornam Príncipes”. (Machiavelli, O Príncipe, cap
VII - início).
Memória
fraca, acabamos sempre por esquecer as crises a seu tempo, a duras penas
suportadas, não admitimos a realidade das desigualdades sociais em que vivemos;
que invariavelmente, a maioria sofre algum tipo de exclusão e como o Presidente Geisel, que certa feita o
afirmou, como pretexto para se recusar a receber uma delegação de negros, nos iludimos pensando que de fato e de
direito, todos somos brasileiros.
Escrito em 16 de julho de 2001