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Rubson Marques Rodrigues |
Diga-me, caro filósofo,
por que não se espantou
com a morte trágica do ancião,
figura notável da região?
Por que haveria de me espantar,
se estava encantado
com o nascimento da filha
de uma humilde família?
se estava encantado
com o nascimento da filha
de uma humilde família?
Então me responda,
por que passou ao largo,
sem esboçar admiração,
pelas folhas verdes do agrião?
por que passou ao largo,
sem esboçar admiração,
pelas folhas verdes do agrião?
É porque estava maravilhado
com a vida que se renova
em uma folha seca jogada
às margens de velha estrada.
com a vida que se renova
em uma folha seca jogada
às margens de velha estrada.
Estou mesmo assombrado
por não ter feito comentário
a respeito do trovão ensurdecedor
que a tempestade anunciou!
por não ter feito comentário
a respeito do trovão ensurdecedor
que a tempestade anunciou!
Arrebatava-me a bonança
que viria calma e serena,
e transformaria raios e ventania
em suave calmaria.
que viria calma e serena,
e transformaria raios e ventania
em suave calmaria.
Só você não ovacionou
o discurso empolgante
do homem poderoso e culto
que tem riqueza de vulto.
Desculpe-me, caro amigo,
estava muito concentradoo discurso empolgante
do homem poderoso e culto
que tem riqueza de vulto.
Desculpe-me, caro amigo,
no sorriso de um menino
cujo pai ganha salário mínimo.
Você é muito esquisito,
não tem os pés na terra,
de nada anormal se admira
e nas coisas raras nem se mira.
Espantar do incomum é normal,
ele tem em si um encanto natural,
mais vale se espantar do que é comum,
pois traz em si um encanto incomum.
Como se vê, meu caro amigo,
espanto e encanto movem o mundo:
O espanto é movido pela aparência,
e o encanto, pela essência.
O homem traz dentro de si
a capacidade de se espantar,
mas se tem um deus dentro de si
ele é capaz de se encantar.