sábado, 13 de julho de 2013

SÓ CRISTO IMPORTA

A ideologia cristã

É neste palco que surgiu o cristianismo, pregando, a partir da periferia do mundo de então, uma nova ideologia, uma "Boa Nova", que despertava muito a atenção do povo, sobretudo os mais pobres. O Apóstolo Paulo, pregando em língua grega em todos os grandes centros, consolidou um novo modelo de cristianismo que diferia do cristianismo Ortodoxo original, existente em Jerusalém e ao Judaísmo. A grande aceitação do cristianismo entre os gregos e romanos, os gentios,foi porque passaram a se perceber como "depositários da fé e filhos da Promessa".
Opondo-se ao pensamento grego racionalista e teórico, o pensamento semita afirmou a historicidade e dramaticidade da vida humana, o sujeito, a pessoa, a consciência, o sentimento, a irreversibilidade do tempo, a Providência de Deus Pai e a salvação para todos por um gesto misteriosamente eficaz de um "Deus-Homem", Jesus Cristo. Esta era a "Boa Nova" (em grego Evangélion) anunciada de cidade em cidade e que atraía milhares de adeptos bem como incomodava os círculos do poder.
Em Roma, o cristianismo emancipou-se depois de três séculos de contradições e perseguições. Qual seria o perigo que ele representava? Outra vez deixaremos as causas mais históricas e específicas para determo-nos em dois pontos: a pregação cristã e o culto a Cristo. A pregação cristã era dirigida sobretudo a periferia de Roma. A estes povos dominados, massacrados, tidos como "povinho" pela ideologia da superioridade romana; explorados, escravizados e constantemente ameaçados, o cristianismo prega: a igualdade de todos os homens, a filiação divina de todos, a criação e a paterna providência de Deus, a salvação de todos e a ressurreição, uma outra vida para os sofridos e pobres, a caridade para com o próximo e, sobretudo a repartição das riquezas, condição, para a conversão à comunidade "dos eleitos". Isto criou toda uma espiritualidade dos grupos perseguidos, que passou a chamar a atenção dos povos naquele tempo.
Esta plataforma pregada com a tenacidade e o testemunho da morte (Pedro e Paulo morrem em Roma crucificados e decapitados) tem efeito explosivo e transformador. As perseguições aos cristão são, sobretudo, pelo perigo que a sua pregação acarretava na decadente Roma dos séculos I e II d.C.. E o outro ponto importante é a pertença a uma comunidade, uma identidade religiosa onde todos "tinham tudo em comum e dividiam seus bens com alegria de modo que não havia necessitados entre eles".
O segundo ponto é o culto ao Christós, o filho de Deus, completamente puro de todo o pecado, título divino que os cristão tinham dado a Jesus de Nazaré, o Jesus histórico. Afirmar que o Jesus de Nazaré, histórico, é o "Christós" do universo e da sua vida é o primeiro ato da fé cristã, libertando-se do Judaísmo. Mas o importante é que o culto a Cristo é a negação do culto ao Augusto, título igualmente divino e prerrogativa de todos os Césares a partir de Otávio, que instituiu este culto, para todo o império, como suporte ideológico-político de sua dominação, paralelo ao culto dos demais deuses do panteão romano copiado dos gregos, Detenhamo-nos no seu aspecto político-religioso. Afirmar que o sol não era deus significava deixar inúmeros templos vazios e sacerdotes sem função, e mesmo deixar o Exército sem proteção. Afirmar que o imperador não é Deus é subversão política que as leis classificavam como crime de morte. Dizer que o imperador não é Deus é negar a sua efígie na moeda que corre, é negar os valores desta sociedade da qual ele é o símbolo e a sanção sagrada. Tudo isso é ser subversivo e as camadas dominantes rapidamente perceberam isto. Mas as perseguições, aliadas a outras causas internas e externas, aceleraram o processo de transformação do império romano. Do ano 50, quando chegou a Roma, o cristianismo sofreu quatorze grandes perseguições, até que em 313 foi proclamado "religião oficial do Estado" pelo imperador Constantino. Começou então uma nova época para o cristianismo, a união entre poder político e religioso que gerou a cristandade medieval. Era a superação da cultura romana elaborada em sua interioridade e o surgimento de nova síntese cultural: a "cristandade", que se opunha à superada "romanidade".
Nos dois séculos seguintes, IV e V, um outro fenômeno aconteceu em nível da religião (comunidade) e do império. Na comunidade surgiu uma crescente categoria que usurpou cada vez mais os poderes religiosos comunitários e concentrou os ministérios e funções em suas mãos: o clero. Desenvolvem uma ideologia (teologia) de justificação da função (O Cristo cabeça e a figura do Pastor) e aliam-se cada vez mais aos grupos dominantes. Deus Pai, que é amoroso e envia ao Mundo seu Filho para dizer que Ele quer salvar a Humanidade, é transformado em Deus carrasco que vê pecado em tudo e julga a humanidade com mão de ferro. Santo Agostinho é um dos teóricos deste movimento, propondo a divisão do poder em seu livro "Cidade de Deus e Cidade dos Homens", duas figuras básicas para explicar o poder da igreja e do Imperador. O papa, bispo de Roma com a justificação ideológica do primado de Pedro, toma o poder sobre os demais bispos e se configura em um novo "imperador" com palácios, títulos, vestes e bastão, símbolos de poder.

O triunfo histórico do cristianismo

Quando o Império Romano afundava sobre os ataques dos povos bárbaros, que vieram do norte, a Igreja já tinha poder suficiente para empreender a catequese destes povos. Faz do chefe bárbaro um imperador e impõe sobre ele a doutrina cristã, erigindo-se como a nova realidade do mundo: A Idade Média. Nessa época, com o surgimento de povos do norte que começam a invadir o Império Romano, o povo começa a fugir das cidades romanas. Os bárbaros povo de origem germânica, que não falava latim) que invadiam as cidades, saqueavam, violentavam mulheres, levavam jovens para ser soldados; incendiavam as cidades), foram responsáveis por mudanças no Império Romano. O povo com medo dos bárbaros fugia para os campos, chamados feudos (espécie de vilas ou fazendas) onde se ofereciam para trabalhar para os proprietários. Em troca do trabalho, moradia, alimentação e proteção, faziam um acordo de permanecer na terra do senhor enquanto vivessem e seus filhos da mesma forma. Este sistema, que se chamou de Feudalismo e permaneceu até surgir a Idade Moderna.
O cristianismo floresceu nesse meio. As vilas foram crescendo com a chegada cada vez maior de pessoas provindas das cidades. As vilas tinham o castelo do Senhor e o Templo, onde eram celebradas as missas; cumpridas as orações, da manhã, meio dia, anoitecer, sendo marcadas com o toque do sino. O povo devia obrigação de participar das orações e missa, confessar seus pecados, receber a hóstia, obedecer os mandamentos e dar as ofertas.