domingo, 9 de junho de 2013

O TEMPLO E A FORCA


Comentário de Ernesto von Eckhardt que se define livre pensador. Sua presença no Fb
é de quem sabe e  faz a hora.

Depois de "As Chamas na Missa", Santos Neves escreveu "O Templo e a Forca" que mereceu minha avaliação pública: O Templo e a Forca.
Luiz Guilherme Santos Neves na contracapa de seu romance antecessor As Chamas na Missa, com maestria, já conduziu o leitor ao âmago do conteúdo de seu livro O Templo e a Forca ao colocar nos lábios de um de seus personagens: Eis que me surge o Santo Ofício espalhando entre o povo sas serpentes do medo.

A Inquisição foi um terrível instrumento criado para garantir à Igreja Romana o domínio e predomínio de sua religião como única e verdadeira para a garantia dos poderes políticos, econômicos e sociais, ocultos, cerceando a liberdade de pensamento, não importando matar em nome de Deus. A Igreja Romana, na época, se sentia e pregava ser representante de Deus na Terra. A Inquisição permeia os dois romances.

Quando li o romance O Templo e a Forca, fiz a avaliação abaixo, publicada em A Gazeta, de nossa cidade, em 28 de novembro de 1999.

“Novo romance de Luiz Guilherme Santos Neves, recém lançado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, O Templo e a Forca é o elo de um capítulo em solo capixaba que poderia ser notável não fosse a ignorância e o terror dominante na época da epopéia do Queimado. A linha de pensamento do autor é fluente e transcendente.
Na página 28 lê-se “... Os cativos do Queimado e da Serra entram com seu trabalho para a ereção do templo, que é o que de melhor podem doar à glória do patriarca. Desta maneira, serão amparados por seus esforços e receberão a justa paga e a merecida compensação pelos sacrifícios que fizerem, porque Deus é o pai de todos nós, e São José o pai adotivo do filho de Deus, que olha por todos os homens”.

No discurso de recrutamento de ajuda financeira e de mão-de-obra para a construção de uma igreja branca contrastando com o verde da mata, frei Gregório usou de costumeiras metáforas que subentendiam, aos cativos, uma promessa de alforria. Os cativos alojaram no sacrário de suas almas a mensagem de liberdade com potencial sensibilidade.

Com felicidade, o autor embala o sopro de liberdade como suporte de na identidade de seus personagens. O homem livre é estável nos seus valores simbólicos enquanto a opressão constrói uma figura fantasma. É um romance com a história de lutas e frustrações quando ocorre a ruptura do encanto. O homem é uma força vital, desde o nascimento paramentado de liberdade, de igualdade e de direitos.
Frei Gregório não se revela sensível ao grito de liberdade! Não se importou com a verdade e com a dúvida da época. Para ele valiam as sensações e as percepções materiais numa mensagem religiosa.
Luiz Guilherme, um escritor apaixonado pela epopéia do Queimado, identifica-se com a emoção de seus personagens na habilidade de escrever bem, concentrado no episódio sangrento de uma luta impotente.

O romance adquire maior emotividade quando o templo é dado por pronto e acabado. É quando os cativos descobrem o logro: como recompensa cabia-lhes o céu e a vida eterna.

A decepção é narrada com vigor. O sacerdote se insere na conspiração da liberdade, sequer preocupado com uma resposta sutil.
O autor desperta o espírito e estimula a compaixão quando a liberdade teve tudo para se harmonizar com o emocional e o racional.

Vitória-ES, 26 de dezembro de 2010.