quinta-feira, 13 de junho de 2013

MOEDAS DE TROCA

Salvador Bonomo.
Ex-Deputado Estadual e Promotor de Justiça, aposentado.


A nosso ver, além do real, circula, no âmbito da Política, muitas Moedas de Troca, que acarretam consequências altamente danosas à nossa Sociedade, dentre as quais registramos as que seguintes: a existência de muitos Partidos Políticos vazios de conteúdo, muitas Emendas Parlamentares Individuais e de Bancadas, desvirtuadas, e quase 40 (39) Ministérios. 

Durante longo tempo (1965-1979), como consequência do regime autoritário, existiram, no Brasil, apenas dois Partidos Políticos: a ARENA (governo) e o MDB, depois PMDB (oposição). A Constituição Federal de 1988 (art. 1º, V) previu o pluralismo político, que, como um dos fundamentos da República e como diversidade ideológica, representa uma das importantes características das democracias modernas. 

Entretanto, se, alhures, se restringiu, excessivamente, a criação de Partidos Políticos, a partir da abertura democrática, ao invés de aprimorarem o sistema partidário, muitos políticos estão corrompendo-o, pois 31 Partidos já foram registrados no T.S.E, 04 serão registrados em breve e mais de 30 estão em formação, cuja maioria, além de aparecer só às vésperas das campanhas políticas e da montagem dos governos municipais, estaduais e federal (para as costumeiras barganhas), ressente-se de programas claros, das necessárias estruturas, da indispensável participação popular e das respectivas ideologias. Em resumo: são Partidos meramente cartorários, sem raízes populares e sem vida partidária; são, enfim, meras moedas de troca: é dando que se recebe.  

As Emendas Parlamentares Individuais e as Coletivas ou de Bancadas se tem transformado, também, em autênticas Moedas de Trocas, pois, ao invés de funcionarem como instrumentos de aperfeiçoamento dos orçamentos anuais, através de melhor alocação de recursos públicos para obras prioritárias, sobretudo nos localidades e regiões mais carentes, com certa frequência tem sido desvirtuadas, na medida em que assumem caráter de chantagem ou de negociata eleitoreira, e até mesmo de corrupção, como ocorreu no caso da “máfia das ambulâncias”. Aliás, já disse o Senador Pedro Taques (PDT-MT), com o que concordo: “Não é possível combater-se a corrupção, sem se falar em emendas individuais”. Resumindo: é toma lá, dá cá.
 
Outra verdadeira Moeda de Troca tem sido os quase 40 (39) Ministérios (24 Ministérios, 9 Secretarias, com status de Ministério, e mais 6 Órgãos, também com status de Ministério, além do número exagerado de cargos comissionados em cada um deles. Senão, vejamos alguns exemplos chocantes: 1) – no Ministério do Planejamento, 50% dos cargos são comissionados; 2) – no do Turismo, 56,3%; 3) - no da Pesca, 56,6% 4) – no dos Esportes, 64%; 5) – no do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 70%. Muitos deles tem sido objeto de verdadeiras “negociatas” com os ditos “Partidos da base”, em homenagem à “governabilidade”, segundo alegam, só que, no primeiro ano do governo da Presidenta, caíram 6 Ministros, suspeitos da prática de irregularidades.
   
Concluímos, dizendo que não basta sermos honestos e dizermos que somos honestos; é preciso, também, combatermos a desonestidade, sob pena de sermos coniventes com as coisas erradas que, com muita frequência, acorrem no nosso entorno.