Morrer é fechar os olhos, é a primeira coisa que faz quem morre se não os tinha fechado antes. Fecha os olhos para o que via antes. Assemelha-se a um propósito de não querer ver mais nada. Cansou-se do que viu antes.
É sair da vida, tornar-se incapaz de absolutamente tudo, de esboçar um mínimo de reação mesmo que seja para o que antes fazia tanto, impedir-se de morrer, impedir o próprio anulamento e ser arrebatado irreversivelmente pela morte.
Quem morre, como que não se compadece da dor que padecem os que o amam e sua morte choram. Deixa-se sepultar, isto é, provar o maior dos aniquilamentos enquanto o corpo cujo culto lhe merecera tantos cuidados, vai apodrecer e de tal sorte que só sepultado, pode não perturbar tanto odor fétido o ar que os demais respiram.
Morrer é deixar as coisas onde as havia colocado, os planos, se feitos, interrompidos, tudo com que se ocupou ou que constituía objeto de atenções e cuidados e por eles não sentir mais nada, perdem todo significado.
É não intervir mais em decisões de qualquer sorte e não dispensar a quem quer que seja qualquer tipo de cuidados, quanto mais às coisas.
Morrer é defrontar-se com a falência da vida e por acréscimo, chegada a hora da minha morte, sou eu que devo morrer. Só eu posso morrer minha morte, só eu morro por mim e por mais que alguém me amasse, minha morte é minha, ninguém pode morrer por mim.