terça-feira, 14 de julho de 2015

ESPANTOS E ENCANTOS


Rubson Marques Rodrigues 

Diga-me, caro filósofo,
por que não se espantou
com a morte trágica do ancião,
figura notável da região?

Por que haveria de me espantar,
se estava encantado
com o nascimento da filha
de uma humilde família?

Então me responda,
por que passou ao largo,
sem esboçar admiração,
pelas folhas verdes do agrião?

É porque estava maravilhado
com a vida que se renova
em uma folha seca jogada
às margens de velha estrada.

Estou mesmo assombrado
por não ter feito comentário
a respeito do trovão ensurdecedor
que a tempestade anunciou!

Arrebatava-me a bonança
que viria calma e serena,
e transformaria raios e ventania
em suave calmaria.

Só você não ovacionou
o discurso empolgante
do homem poderoso e culto
que tem riqueza de vulto.


Desculpe-me, caro amigo,
estava muito concentrado
no sorriso de um menino
cujo pai ganha salário mínimo.


Você é muito esquisito,
não tem os pés na terra,
de nada anormal se admira
e nas coisas raras nem se mira.


Espantar do incomum é normal,
ele tem em si um encanto natural,
mais vale se espantar do que é comum,
pois traz em si um encanto incomum.
Como se vê, meu caro amigo,
espanto e encanto movem o mundo:
O espanto é movido pela aparência,
e o encanto, pela essência.


O homem traz dentro de si
a capacidade de se espantar,
mas se tem um deus dentro de si
ele é capaz de se encantar.