Às
vezes fico pensando na incrível capacidade de certas pessoas de estarem a par
de mínimos detalhes da vida de tanta gente. Não chegam a ser daquele tipo que
sai propalando aos quatro ventos tudo de que acaba por tomar conhecimento, mas
se mostra visivelmente inquieta enquanto não ficar sabendo de qualquer tipo de
“novidade” vislumbrada na vida, na casa,
nas coisas de outrem.
Aproximam-se,
com o mais doce de qualquer tom de voz e apesar de tentar, sem conseguir
disfarçar o que pretende, inicia verdadeiro interrogatório a respeito do tema
ou do objeto sobre o qual, acha que tem que ficar sabendo. Compararia a um
vício.
Na
verdade, deixa seu interlocutor em apuros, pois, nem sempre quer-se propagar o
que somente a gente mesma diz respeito. Já dissera Sêneca: evitamos a inveja se guardarmos as alegrias para nós próprios. Por
que me fazer falar o que eu não quero contar? Por que a insistência em dizer
que é pobre, o rico é o outro e com aquelas sutilezas que acabam por ser
antipáticas, prossegue invadindo minha privacidade ou de quem cair na sua
berlinda?
Que
sentimento seria este? Em casos específicos, passam-me a sensação de extrema
curiosidade, não chega a ser inveja, antes, sentem necessidade de saber tudo.
Em certos casos, também não acho que seja feito por mesquinhez, antes, é no entanto, verdadeira desatenção
para com o outro, não saber que as vezes esse outro prefere calar a não falar
do que tem, ou comprou, ou ganhou, ou deu, etc...
Exatamente,
envolve aquela ética do cuidado, que nos faz atenciosos, não invasivos,
respeitosos com toda ou qualquer individualidade.
Nota: quase denominei "crônica inacabada", pois na verdade o é.