Não é da casa que falo, mas daquela parte do mundo que cada
indivíduo separa para si, que a faz do seu jeito, para ali se abrigar
permanentemente e que está sempre em construção; que deveria ir modelando de
forma a torná-la melhor habitável, mais segura. Trata-se do ethos = ética, que em grego significa a morada humana. “Ético, por sua
vez, é qualidade do que ajuda a melhorar o ambiente tornando-o morada saudável:
moralmente sustentável, psicologicamente equilibrada, espiritualmente fecunda”.
Se perguntarmos à maioria das pessoas o
que é ética, dificilmente nos
responderá, ou seja, não saberá fazê-lo usando palavras, mediante emissão de um
conceito. Mas terá tais reações e expressões que acabará por fazer entender que
sabe do que se trata. Dará exemplos, usará outros argumentos, por fim, pode ser
que diga que sabe o que é, mas não sabe
responder.
Esta
última é a realidade. É verdade que todo mundo sabe o que é ética, até porque é
pela ética que se move, quando se
surpreende, aprovando ou
reprovando condutas. Tem dentro de si solidamente esculpidos, princípios basilares que lhe ditam o
pensamento crítico e é mediante ele que oportunamente se expressa. Há uma
unanimidade entre todos os seres humanos
sobre a realidade de fatores como justiça, igualdade de direitos, de todos os
direitos, dignidade da pessoa humana, a serem por todos preservados e que, se
inversamente ocorrer, sucederá o
caos, a subversão da ordem.
Não é o mesmo que moral, ainda que a ela
continuamente se associe.
Ser ético é uma exigência humana, haja
vista que todas as profissões legalmente constituídas e reconhecidas redigem,
mediante princípios basilares, regras disciplinadoras da conduta pela qual se
devem pautar seus integrantes no exercício profissional e a elas denominam
“código de ética”.

Constitui-se
verdadeira oposição à ética o espetáculo circense onde detentores dos mandatos por nós confiados, se
mostram indecorosos, pautam-se por
normas tão indignas e desonestas no trato com a coisa pública, fazendo pouco
caso dos que estamos nas bases, como se fôssemos imbecis.
Ah
que bom se pudesse ser dito “em verdade, em verdade, verás que um filho teu não
foge a luta”! E houvesse, se não unanimidade, ao menos maioria, um número suficiente de
bons cidadãos e cidadãs brasileiros que
queiram inverter o que ai se vê.
Ser ético é também não fazer de conta
que não está vendo o que de mal acontece ou perdoar inconsequentemente quem
tanto mal já fez.
Mas por que estou eu aqui a falar de
ética se a maioria não me pode
compreender, por nos constituirmos em uma população a qual é negado o bem da
educação e da cultura, na medida certa;
se somos um país com fome, onde é considerável
o risco de morrer antes de ser atendido por um médico ou pela falta do
remédio que ele receitou, pela falta do dinheiro para comprá-lo; onde a ciência
e a tecnologia não estão a serviço da ética; quando tremula sempre mais a
sustentabilidade ambiental do desenvolvimento; onde se torna cada vez mais
distante a independência econômica que nos permite olhar de igual para igual
para quem não tem o que temos e mesmo assim nos domina?
É... talvez me mova a esperança que
falando de ética, faça com que quem precisa se lembre que ela existe.