Ademir Azevedo de
Moraes
31-08-12
— Burro! Idiota! Imbecil!.
— Isso. Foi isso que ouvi num barzinho
quando souberam que eu matei a Nandinha.
— Mas... O quê!!! Você matou a
Nandinha? Eles estavam certos. Você é um desalmado, um assassino frio e cruel.
Matar a pobre coitada?
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Acadêmico Ademir A de Moraes |
— Eu... um assassino... frio e
cruel... Nunca pensei nisso!
— Claro que não. Isso mostra o
quanto a sua índole engana a todos. Carinha e jeitinho de gente bem, mas por
detrás desta máscara, esconde-se um monstro, mas... espere! Nós podemos faturar
com isso.
— Faturar? Como?
— Ora, você gostava da Nandinha?
— Claro! Eu a amava muito, muito,
muito, era paixão mesmo.
— Isso! Você cometeu um crime
passional.
— Mas... só porque matei a Nandinha,
cometi um crime passional?
— Sim. Crime por amor. E nesse país
que mata por amor emociona a todos. Já estou até vendo as manchetes nos
principais jornais: Homem mata por amor. Homem lava sua honra com sangue. Os anais
de televisão em cima e você fazendo cara de quem está sofrendo muito e
repetindo:gente, eu a amava... eu
amava a Nandinha. Eu quero a Nandinha. Sua história vai correr mundo. De
repente sua vida vira até filme.
— Tudo isso por causa da Nandinha?!
Já estou com saudades dela.
— Aí meu camarada. É assim que se
fala. Você vai comover a nação, o país vai se mobilizar com sua história , já que aqui milhões de pessoas se
mobilizam por uma parada gay e outras mais,
mas não param para prestarem atenção em seus representantes e por isso,
muitos fazem o que bem entendem e, por
uma causa como a sua, todos vão parar, chorar, se emocionar. Temos que
contratar um bom advogado.
— Um advogado? Só por causa da
Nandinha?
— E você acha pouco? Com o que você
a matou?
— Com uma faca.
—
Uma faca?! Você será enquadrado no artigo 121 do código penal e sua pena deverá
ser só de uns sessenta anos de cadeia, já que de acordo com a Lei nº 8072/90,
tornou-se crime hediondo e você ainda feriu
o princípio da dignidade humana, segundo o artigo 5º da Constituição
Federal. Bem, pelo menos lá você terá comida de primeira qualidade e vai ganhar
até um salário.
—
Nunca imaginei que uma simples morte causasse tanto alvoroço!
— Você realmente é uma montanha de
gelo. E como você a matou seu desmiolado.
— Foi assim: Cheguei em casa por
volta das 18h, cansado do trabalho, suado. A chamei e ela veio rebolando, um
andarzinho charmoso. Peguei-a em meus braços, passei a mão pelo seu peitinho e depois
por suas coxas roliças. Fiquei alucinado! E ela ficou ali, em meus braços,
quietinha e eu sentia até o seu calor. De repente a coloquei no chão, peguei a faca
e impiedosamente a passei em seu pescoço.
Ela gritou, esperneou e esvaiu-se
em sangue até ficar imóvel. Coitadinha!
— Coitadinha? Você é mesmo um animal
irracional. Não sei onde estou com a cabeça que não te dou uns murros.
__Pode dar quantos murros você
quiser, eu mereço. E depois eu a comi...
__Você o quê?! Comeu!!! Além de
assassino é um necrófilo. E ainda fala
desta imoralidade com a maior calma do mundo? Você vai pegar prisão
perpétua, seu... seu...
—O que é que isso gente! Assassino?
Ne.. ne... nem sei falar essa palavra!
Mas eu estava com fome. Não tinha nada em casa para comer. Agora, nem
seus ovos os terei mais...
— Fome?! Ovos?!
Mas... você está falando de quem?
— Ora, de quem mais seria? Da
Nandinha. Minha galinha de estimação.
— Ora seu... seu... Esse tempo todo
você falando de galinha e eu preocupado pensando que fosse gente.Passe bem.
— Passar bem? Como? Com um salário
tão mínimo? Eu estou é com saudades da Nandinha.Nandinhaaaaaa!!!