REVITALIZAÇÃO DA AMALETRAS
POSSE DE NOVOS ACADÊMICOS
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Eliezer Ortolani Nardoto, Marlusse Pestana Daher, Antonio Eduardo Barbosa,
Jonas Bonomo, Sebastião Pereira, Iluzinilda Neves Martins, Beatriz Barbosa Pirola, Eliane Queiroz Auer e Luiz Costa |
No
dia 22 de agosto, como previsto, entre familiares e alguns amigos, ocorreu a solenidade de revitalização da
Academia Mateense de Letras e posse de seis novos acadêmicos.
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Eliezer, Marlusse,Antonio Eduardo |
A
mesa foi composta pela Presidente e fundadora da Academia Mateense de Letras, Acadêmica
Marlusse Pestana Daher, pelos Acadêmicos Fundadores Antonio Eduardo Barbosa e
Eliezer Ortolani Nardoto. Presente a mesa ainda, o Vereador Carlos Alberto
Barbosa Alves, presidente da Câmara
Municipal, o advogado, José Antonio de
Souza Mathias e a oradora oficial da solenidade, Acadêmica Karina de Rezende Tavares Fleury, da Academia
Feminina Espirito-santense de Letras.
Composta
a mesa, acompanhados dos Acadêmicos Fundadores Antonio Eduardo Barbosa e
Eliezer Ortolani Nardoto os empossandos foram trazidos aos lugares a eles
destinados.
Os
acadêmicos fundadores recebem as insígnias respectivas.
Iniciou-se a cerimônia de posse dos novos Acadêmicos. A Presidente convidou-os
a se colocarem a frente: Poetisa, Beatriz Barbosa Pirola, poetisa Eliane Queiroz
Auer; poetisa e declamadora Iluzinilda Neves Martins; escritor e teatrólogo
Jonas Bonomo; poeta e ator Luiz Costa e o romancista, escritor Sebastião
Pereira, interrogando-os:
1.
As senhoras e os senhores pretendem pertencer
como membros efetivos da Academia Mateense de Letras. Foi-lhes dado a
conhecer as finalidades que estão postas no Estatuto da AMALETRAS, para sua
vitalidade e o serviço que deve prestar à sociedade.
2.
Vossas Senhorias declaram conhecer o Estatuto da AMALETRAS E SUAS FINALIDADES?
3. Vossas Senhorias prometem cumprir com
fidelidade o Estatuto envidando todo esforço possível no sentido que se cumpram?
Concluiu: ante suas respostas afirmativas, na condição de
Presidente da Academia Mateense de Letras, declaro-os empossados como membros
efetivos e no sentido que nas academias é dado ao termo, declaro-os também imortais.
O empossados
receberam suas insígnias das pessoas pelos mesmos escolhidas, receberam o
diploma e assinaram o termo de posse
Cadeira nº
3 - Luiz Costa - Graciano Santos Neves
Cadeira nº 4
- Iluzinilda Neves Martins - Elza Cunha
Cadeira nº 5
- Eliane Queiroz Auer - Mesquita
Neto
Cadeira nº
7 - Sebastião Pereira - Clarice Lispector
Cadeira
nº 8 -
Beatriz Barbosa Pirola - Bartolomeu Campos Queirós
Cadeira nº 9
- Jonas Bonomo - Castro
Alves
Feita
a leitura do currículo da Acadêmica Karina de Rezende Tavares Fleury
pronunciou-se com extrema propriedade ao momento.
O
terceiro momento foi marcado por entrega de títulos como membros honorários, segundo
o art. 15 do Estatuto da AMALETRAS: receberam seus títulos: Iosana Fundão
Azevedo, professora e diretora de escola, pessoa comprometida com os problemas
sociais do município, atualmente alegrando o grupo da melhor idade; o advogado José
Antonio de Souza Mathias, pelo seu compromisso com sua cidade, sendo pessoa
prestigiada e querida pela sociedade; Karina de Rezende Tavares Fleury, sendo
pouco, pelo muito que trouxe ao momento; o Professor da UFES, Renato Pirola,
que dirigiu a entidade em São Mateus, finalizando sua carreira com o legado de
uma magnífica biblioteca; a Professora
Vera Fundão Maciel Altoé, cujo entusiasmo e apoio a AMALETRAS cumpre ser
reconhecido, o Vereador e Presidente da Câmara Municipal, Carlos Alberto Barbosa
Alves que ostentava seu título de
Membro Honorário, deixando palavra de gratidão e apoio a toda iniciativa
de igual porte. Outros agraciados não compareceram.
Pronunciou-se
também o Dr. José A. S. Mathias que se demonstrou entusiasmado pelo que ouvira
e exortou os jovens a seguirem os passos dos acadêmicos.
Encerrada
a solenidade os presentes se dirigiram a um salão local para a comemoração de
estilo.
Saudação da Acadêmica Karina de Rezende Tavares Fleury
UM PAUZINHO, DOIS ‘PAUZINHO’
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Acadêmica Karina Fleury |
De
acordo com a tese aristotélica, “O homem é um animal social”. Ele tem a
absoluta necessidade de agrupar-se, de unir-se a seus semelhantes não só para
satisfazer aos seus desejos, mas também para satisfazer as suas necessidades
materiais e de cultura, buscando, assim, alcançar a realização de um bem
melhor.
Daí
a constituição das comunidades em geral que compõem a estrutura de toda
sociedade, tais como: as famílias, as igrejas, as escolas, as ONGs, as
polícias, as redes sociais e, como não poderia deixar de ser, as Academias,
sejam elas “mistas” (de Letras e de Artes, de Letras e de Música) ou
“categorizadas” (de Médicos, de Maçons, de Letras Jurídicas).
O
termo Academia remonta ao ano 387 a.C.. É
que Platão fundou aquela que consideramos a primeira Academia da história:
tratava-se de uma escola filosófica situada junto das muralhas de Atenas, no
bosque Heros AKademos (daí o nome Academia). Naquela época,
academia era, segundo o conceito dicionarizado, o “lugar aprazível e solitário
em que Platão ensinava filosofia”, onde se buscava o conhecimento e o saber,
pelo questionamento e pelo debate. Esse, como se sabe, é objetivo que movimenta
os homens em todo tempo e lugar.
Ainda
hoje, embora o formato da Academia, e aqui, por razões obvias, refiro-me às
Academias de Letras, tenha se modificado ao longo dos séculos, tais objetivos
não só não se perderam, mas também a eles foram somados outros tantos, como:
incentivar, propor e desenvolver projetos e programas que despertem o gosto
pelas letras, o aprimoramento da língua portuguesa e a elevação à cultura;
pugnar pelo incentivo à literatura, principalmente no âmbito de sua atuação, em
todo o território nacional e no exterior; promover cursos e concursos,
seminários e conferências, debates e recitais; promover, desenvolver e divulgar
a pesquisa nos diversos campos culturais. Como se pode perceber, não é pouco o
trabalho, nem é inconsistente a responsabilidade de quem se propõe a ocupar um
lugar no panteão da história. Filiar-se a uma Academia de Letras requer, acima
de tudo, comprometimento.
Antes
mesmo da fundação da matriarca de todas as agremiações literárias como
conhecemos hoje, L’Académie Francaise, organizada pelo Cardeal
Richelieu, em 1635, muitas surgiram e desapareceram; outras se reestruturaram e
se renovaram. No Brasil, no fim do século XIX, alguns intelectuais começaram a
se manifestar a favor da criação de uma academia literária nacional, nos moldes
da Academia Francesa. O movimento tomou corpo e, em 20 de julho de 1897,
realizou-se, no Rio de Janeiro, a sessão inaugural da Academia Brasileira de
Letras, tendo como presidente Machado de Assis.
No
Espírito Santo, o Bispo Dom Benedito foi quem primeiro presidiu a Academia
Espírito-Santense de Letras, que é a nossa segunda entidade cultural mais
antiga, antecedida pelo Instituto Histórico e Geográfico do ES e precedida pela
Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. Fundada em 04 de setembro de
1921, a AESL manteve, durante cerca de 60 anos, as suas portas fechadas para as
mulheres intelectuais do Estado, sendo Judith Leão Castello Ribeiro a primeira
mulher a tomar posse em 10 de setembro de 1981 (na ABL, Raquel de Queiroz foi a
pioneira, eleita em 1977. E na Academia Francesa? Ah, lá a escritora belga
Marguerite Yourcenar foi quem conseguiu transpor a barreira, em 1980, 345 anos
depois da fundação da entidade). Porém, somente em 2002 é que veio o
reconhecimento e a valorização da participação ativa da mulher escritora
capixaba no espaço público: foi quando Maria Helena Teixeira de Siqueira
sagrou-se a presidente da AESL (na ABL, foi Nélida Piñon, a primeira mulher, em
100 anos, a presidir a referida Academia).
Talvez
vocês estejam se perguntando por que eu abri tantos parênteses em minha fala,
nesse último parágrafo; por que acentuei as informações sobre a presença da
mulher nas Academias. Afinal, não estamos aqui hoje testemunhando a
revitalização de uma Academia Feminina, não é mesmo? Sendo assim, seguem minhas
explicações.
Como
vimos, as Academias de Letras que até agora citei neste breve estudo foram
idealizadas e fundadas pelos homens. As mulheres só foram aceitas décadas, ou
mesmo, séculos depois. Valeram-se das mais diversas estratégias para escapar
das amarras falocêntricas e, assim, ascender em sua condição social, econômica
e cultural. Já vai longe o tempo em que as mulheres escritoras eram mal vistas
e que seus escritos, constantemente desprestigiados. Quando muito, eram tidos
como “literatura de moça”, inofensiva, inocente e sem qualidade literária.
No
entanto, e graças a Deus por isso, já vai longe este tempo amargo. E a
comprovação dessa minha assertiva está na história da Academia Mateense de
Letras e na realização deste evento. A AMALETRAS, desde a sua fundação, em 16
de fevereiro de 2001, sob a presidência de Marlusse Pestana Daher, mostrou-se
moderna no seu modo de ver, de pensar, de estar no mundo. Mesmo tendo passado
por um período de inatividade, a AMALETRAS tem em sua gênese a voz da mulher
ecoando entre a voz de seus pares. O que estamos presenciando aqui, nesta
noite, é a reorganização e a posse de sete novos membros de uma instituição
cultural que, agregando os mais nobres valores humanos universais, recupera o
lema dos ideais iluministas que visa a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
Isso
é o bastante para me fazer lembrar uma das histórias contadas por Clarissa
Pinkola Éstes, em Mulheres que correm com lobos (Rocco, 1994). O tema é
a transmissão ancestral de valores. Um costume dos antigos reis africanos,
escreve a autora. Chama-se “Um pauzinho, dois pauzinho” (p. 154) que aqui cito
um excerto:
Na
história, um velho está à morte, e chama a família para perto de si. Ele dá um
pauzinho curto e resistente a cada um dos seus muitos rebentos, esposas e
parentes. “Quebrem o pauzinho”, determina ele. Com algum esforço, todos
conseguem quebrar seus pauzinhos ao meio.
“É
isso o que acontece quando uma pessoa está só e sem ninguém. Ela pode ser
quebrada com facilidade”.
Em
seguida, o velho dá a cada parente mais um pauzinho.
“É
assim que eu gostaria que vocês vivessem depois que eu me for. Juntem seus
pauzinhos em feixes de dois ou três. Agora, partam esses feixes ao meio”.
Ninguém
consegue quebrar os pauzinhos quando eles estão em feixes de dois ou mais. O
velho sorri.
“Temos
força quando nos juntamos a outra pessoa. Quando estamos juntos, não podemos
ser quebrados” (ÉSTES, 1994, p. 154).
A
lição de vida que o moribundo africano nos dá é aquela que, no senso comum,
dizemos: a união faz a força! No entanto, chamo a atenção para o caráter
antissexista, uma vez que as esposas são parte ativa do grupo (vale lembrar
que, neste caso, o plural desse substantivo tem conotações culturais que não
serão discutidas neste ensaio), e não segregário no que se refere à inclusão
das crianças (“rebentos”) e às demais pessoas que fazem parte da “família”
(“parentes”).
Juntos,
todos são igualmente importantes para a manutenção da harmonia e do sucesso em
prol de um bem comum. Reparemos que o título da história é “um pauzinho, dois
pauzinho”, assim mesmo, no diminutivo. O desfecho da narrativa nos leva a
entender que para se alcançar o sucesso, a coletividade (“dois”) tem de se
perceber como um só corpo (“pauzinho”). Ressoa novamente a máxima de Platão de
que o homem, este ser político, social, ancora-se em grupos para viver melhor:
“Quando estamos juntos, não podemos ser quebrados”. É nesse sentido que
justifico minhas reflexões sobre a AMALETRAS que, nesta noite, ao reinscreve
seu nome na história da sociedade mateense, é por esta acolhida como parte
fundamental de um todo que trabalha pela elevação da tradição literária e
cultural da cidade de São Mateus.
E
para finalizar, dedico-lhes, caros Acadêmicos da AMALETRAS, um trecho da
mensagem proferida por Machado de Assis, na abertura da memorável sessão de
fundação da ABL: “Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade
iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada
entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira”.