Manhã de sábado, cumpro
propósito de ir à feira de Jardim da Penha. Não propriamente para fazer
compras, mas para estar no meio de uma pequena multidão, sentir contatos, ouvir
vozes misturadas, experimentar o sabor de ser gente.
O sol está quente e o
calor é sufocante. Algumas pessoas estão ali, pelas mãos vazias denotam que
como eu, não foram para comprar nada, aliás, Verinha, minha irmã que se foi há
quase quatro anos, (que saudade...) um dia me disse que um nosso conhecido vai
à feira todo sábado para comer pastel e beber caldo de cana. Não deixa de ser
um bom programa ao qual eu também acabo por aderir, notando que o caldo não
está tão doce, como em frequentadíssimas lanchonetes ao longo da BR 101, que estão
usando cana para fabricação de álcool, desagradavelmente doce demais, ao menos
para gosto como o meu.
Começo meu passeio, as
bancas exibem quase a mesma coisa, banana, laranja, batata, maçã, uva e outras
frutas, verduras, legumes, peixe, galinha. Muitos conversam descontraídos nesse
ponto de encontro semanal. Pelo tom de voz falam de amenidades, ou indiferentes
a que sejam ouvidos. Não são segredos. Poucas crianças em carrinhos protegidas
o mais possível dos raios do sol.
Vendem-se toalhas de prato bordadas, pintadas,
bancos, pequenas mesas e colher de pau, flores já preparadas em belos arranjos,
da simples margarida à orquídea. Todos os gostos podem ser satisfeitos e vi
várias pessoas que caminhavam levando flores nos braços, animei-me a fazer o
mesmo, mas deixei para o final.
Alguns adolescentes com
carrinhos que só Deus sabe o que carregaram antes, digo-o por achá-los sujos,
acompanham pessoas que não querem carregar peso enquanto compram. Faz sentido.
A feira tem de tudo. As
chamadas madames, no entanto, não são vistas por lá. Feira popular é sinônimo
de simplicidade, traje despojado, chinelo de borracha. Tem que saber a povão,
ou à feira não se vai.
Olho para lá e para cá,
nenhum rosto conhecido. Prossigo, finalmente vejo uma amiga de infância e me
dirijo a ela, depois da saudação inicial, um papo inevitável, quando a família
é o tema. De repente, somos abordadas
por uma pedinte, cuja expressão revelava juventude, asseada, vestida
direitinho. Pede esmola, claro que não dei e observei que tem condições de
trabalhar. Foi o bastante para que me dirigisse tudo de chingamento que sabe e
se vai, não antes sem voltar, para dizer mais imoralidades das quais se
lembrou.
Curioso, muitas faces, em
nenhuma delas vi sorrisos. As pessoas estão sérias demais. Por que será?
Caminham firmes sérias; desviam-se de alguém ou de algum pedinte que sentou no
chão, sérias. Sérias, pedem ao vendedor o que desejam, pagam e se vão. Mas
também não é que mostrem tristeza, pelo que penso: não é que não tenham problemas
ou não sintam saudades... problemas, pranto e dor é privilégio de todos...
Um sorriso ilumina o rosto
como reflexo da alma em paz, lamentavelmente, não temos a cultura de sorrir,
além de estarmos carentes de paz.
Fui até o fim da feira,
voltei até ao começo dela. Comprei alguma coisa ah... comprei flores! Entro no
carro que está – como se diz – fervendo e tomo o caminho de casa. Estou
acompanhada daquele colorido que reveste as bancas, da mulher que insulta quem
não lhe dá esmola, intrigada e querendo descobrir, entre mais, como fazer as
pessoas sorrirem.