A vida sempre se encarrega de nos
oferecer oportunidades de voltarmos a
nos surpreender, por exemplo, ao constatar que há quem seja capaz de partindo
do absolutamente nada, dirigir acusações infundadas a outrem, infligir maus tratos, pior ainda, torturar.
Na Auditoria Militar, foi ouvido o
depoimento de uma vítima, demonstrando o resultado deprimente do quanto pôde
ser aniquilada e como conseqüência ter perdido todas as forças de ainda
acreditar que haja esperança, de que possa ser diferente nesta terra. No final,
não obstante sua infinita simplicidade e detenção de poucas letras,
presenciamo-la se refugiar na certeza da existência de Deus e afirmar que Sua
justiça sim, não falha!
Revelou com minúcias tudo, mas
recusou-se a assinar o termo, afirmou que de nada adiantaria. Ante os argumentos que usava, quando foi
tentado convencê-la de que o fizesse, vergaram-se todos, só restando “engolir em seco”, o seu protesto. Tem toda razão. Dois anos
depois, seus algozes ainda não foram punidos.
Terminada esta cena, (não sua
lembrança), uma jovem advogada vem ter comigo e pedir apoio para resolver um
problema sério. Impetrara um Mandado de Segurança em favor de um seu cliente e
não obstante tê-la conseguido, mediante sentença, a autoridade coatora,
recusa-se a cumprir a ordem. Já se dirigira a todos quantos é possível e
atônita, vê os dias passarem sem que a solução que urge, venha.
Como se diz frequentemente: as coisas estão piorando a cada
dia. E como é grave!
Fica muito difícil conviver num
mundo em que a crise de autoridade se demonstra de tal forma sensível e
palpável. O suceder de tais fatos somado à
leitura de um artigo de Nicolau Sevcenko, que acabou de publicar “A
corrida para o Século 21”, me levou à busca do panfleto “A Desobediência
Civil”, escrito de Henry D. Thoreau (1817-1862).
Nele, Thoreau, que inspirou a luta
anticolonial do Mahatma (grande alma) Ghandi” “firmou seu pensamento político e
resumiu sua proposta de “resistência não violenta”, o anseio de “não se conformar nunca, porque
conformar-se é morrer”.
Conformar-se é morrer me vai
repetindo uma voz lá dentro... Já é bastante grave a situação em
que nos encontramos. Mas é absolutamente certo que ainda podemos reconstruir.
Disponhamo-nos a remover os destroços.
Uma grande iniciativa passa, por
exemplo, pelo dar vida às universidades, motivando seus docentes. De tal forma,
que o entusiasmo pelo que é o ambiente onde militam, retenha-os entre seus
umbrais durante todo o tempo que for de trabalho. Igual tratamento seja dispensado a todas
as escolas indistintamente, desde a pré.
Um povo educado, será um povo mais
esclarecido e tangido por todas as veras
da própria alma saberá responder ao convite feito pelo poeta à criança,
mas que se pode
estender a todos os demais: imita
na grandeza, a terra em que nasceste!
Marlusse
Pestana Daher
Publicado: A
GAZETA 26/11/01