Observe-se a data.
PERNAS PRA QUE “TE”
QUERO
Os
lamentáveis acontecimentos de corrupção da mais negra, envolvendo gente de quem
ao menos, longe se estaria de imaginar que pudesse estar tão envolvida,
deixa-nos a todos perplexos e conscientes de que se dilatou em muito, a distância
do dia em que vamos poder dormir tranquilos ou certos de que aquela outra
parcela da liberdade a qual renunciamos para poder desfrutar da restante em
paz, esteja efetivamente assegurada.
Se os
governantes são dotados de todo poder que detêm, há uma finalidade bem
específica para tanto, uma meta bem delineada: que no exercício do mandato, não
estejam sobrepostos aos governados,
antes, totalmente consagrados a servi-los.
Agora é
fácil entender o porque de tanta necessidade de corte dos gastos, as agruras
pelas quais passam principalmente, a educação e a saúde, a tristeza dos
profissionais mau pagos, que não obstante todos os esforços envidados,
constatam que muito pouca coisa ou nada muda.
Sempre se
soube, agora está provado: nunca houve necessidade do desumano
contingenciamento salarial, antes, uma gulodice sem medida lá pelas bandas de
uma parcela do primeiro escalão. Onde
quer que se vá, ouve-se ser contada alguma coisa escabrosa. O inexplicável
milagre econômico na vida de alguns.
Ora,
ai meu São Benedito, / tão querido por estas terras, / estaria vosmicê
protegendo alguns / esquecendo todos os demais? / que fez a professora, / para
continuar ganhando tão pouco, / por que a escola pública / não merece melhor
acomodação, / será que só esses poucos merecem / e nós de cá, nada não? / Dá um jeito, querido santo, / de melhorar a
situação /e nem é pedir tanto, / pois a gente só está precisando / de que na
próxima eleição / não deixe o povo votar mal não.
Felizmente,
a CPI desta vez não acabou em “pizza” ao menos em parte e já deu os nomes de
quem julgou imputável, de modo que, o Poder Legislativo já estará transferindo
para o âmbito do Ministério Público o conjunto das provas coletadas que somadas
às fartas, obtidas pelo mesmo MP se constituem em sólido suporte para deflagrar
as competentes ações penais.
Deferindo
os pedidos de prisão temporária e preventiva que lhe foram formulados o Poder
Judiciário também deu mostras de que está disposto a conhecer das denúncias e
mediante processo legal, dar curso à instrução, com observância de todas as
fases, principalmente, satisfazendo amplamente o contraditório
constitucionalmente recomendado, até
que, mediante o convencimento a que chegar, vir a prolatar uma sentença que
seja efetivamente justa, condenando nas iras da lei, ou mesmo absolvendo, se
for o caso.
Há
possibilidade de muita água passar antes que se veja o final. Há muitos
artifícios jurídicos capazes de empurrar sempre mais para lá o desfecho. Que
qualquer retardamento não seja imputado ao Ministério Público, autor, ou ao
Judiciário, para que não venha a ser alegado excesso de prazo na instrução, via
de consequência, existência de constrangimento ilegal pelas prisões e
possibilidade de os culpados “caírem na
rua”, porque para pegá-los depois, não vai ser fácil.
Cadeia,
contudo é muito pouco, se permanecerem com os bolsos cheios. É preciso tomar os
bens - sequestrar, arrestar - secar as contas gordas que estiverem nos
bancos, enfim, devolver ao povo o que
dele foi tirado.
Mas ainda
não acabou, tem mais gente cuja fortuna não se justifica. “Pernas pra que te
quero?” Ao encalço deles agora!
Marlusse Pestana Daher
mpdaher@ig.com.br
A GAZETA 03/09/2001