Pe. Domingos Oliveira *24.03.1942 + 22.08.2012 |
“Subi às alturas e não vi Deus...”. Assim falou o astronauta russo.
Na ‘baixeza’
de minha dor eu também não vi o Todo-poderoso, o Velhinho de barba branca
sentado no trono com o cetro na mão, nem Jesus sentado à direita do Pai, nem
Jesus com barba de destemido profeta fazendo sermões, nem Jesus fazendo solenes
liturgias com lindas vestes sacerdotais, nem o Espírito Santo em forma de pomba
fazendo acrobacias sobre os ares, nem Maria nem os Apóstolos dando show. Não vi
nada disso.
Em
compensação, vi Jesus se debruçando sobre mim, me carregando para todos os
lados que precisei... Vi Jesus na família que carinhosamente me acolheu... Vi
Jesus sempre acordado e vigilante para despejar o xixi sem nunca precisar
chamar. Vi Jesus disfarçado em faxineiras, enfermeiras, fisioterapeutas,
nutricionistas, doutores. Vi Jesus me anestesiando para não sentir dor. Vi
Jesus no jovem médico que me operou e nos amigos... Vi Jesus me cuidando
através de incontáveis mãos de anjos, fazendo curativos, dando banho, mãos
solidárias, mãos amigas intercedendo e mostrando amizade e solidariedade. Assim
eu pude dar o maior presente a minha irmã Naty e minha sobrinha Anita e,
através delas, a todos os meus parentes em Portugal e na França: o presente da
solidariedade brasileira.
Não, não via
Deus nas alturas; não vi o Altíssimo cheio de majestade. No mais profundo de
minha ‘baixeza’, vi o Baixíssimo me sustentando e carregando através das mãos
de tantos anjos. Depois que o Altíssimo se esvaziou de tudo e se fez o
Baixíssimo, inútil procurá-lo nas alturas; só na ‘baixura’. Como cantava P.
Duval: “vós que procurais Deus sobre as nuvens, jamais encontrareis seu rosto
humano”.
Vitória, 11
de julho de 2012.