Vitória, 10 de março de 2008 QUATRO ANOS DEPOIS
Querida Maria José
Se eu
usasse a palavra genuflexa, seria um exagero, vez que tal atitude representa
adoração e como dizem as escrituras: adorarás
o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. (Lc 4,8) Mas estamos na Academia e
na Academia pode, contanto que se explique o porquê.
Então
vamos lá: a Academia hoje se põe, nada menos que genuflexa em sua frente para
homenageá-la, querida Maria José. Há em
cada coração de Acadêmica, a mais profunda e sincera alegria pela sua vida, pelos
seus longos e bem vividos 95 anos.
Alegria
que se funde com gratidão a Deus, que a distinguiu com tantos dons entre eles o
da palavra de cuja fonte, querida, você continua sabendo extrair expressões que
traduzem os sentimentos que continuam lhe inundando a alma e transbordam em
verso e prosa com os quais você continua nos brindando.
Você
merece que sua trajetória de vida seja aqui desfiada como contas de um rosário
para deleitar quem nos ouve. Quantas coisas, quantas façanhas, quantas lutas
protagonizadas e aquelas vezes em que, “dedo em riche” repeliu alguém ou algo
quem sabe? Certamente, nem tudo foram flores, mas quem disse que existem rosas
sem espinhos? Sobretudo, quanta vida, quantos amanheceres, quantos arrebóis,
quantas tempestades foram atravessadas, mas igualmente, quantas vitórias e
quantas possibilidades de ver do alto a paisagem que se descortina do cume
depois de mais uma escalada...
Se
continuar neste tom, não acabo hoje... E depois, estamos aqui para
condecorá-la, para adornar-lhe o peito pelo mérito que lhe foi reconhecido de
receber uma medalha cuja patrona é uma mulher de fibra, valorosa e guerreira,
em tempos que a mulher pouco contava, mas cujos olhos não cerraram sem ver a
libertação e o reconhecimento e aplausos pela obra que produziu no curso de sua
vida, Cora Coralina, de quem a Acadêmica Maria do Carmo já nos falou.
A AFESL
instituiu esta medalha para brindar a quem realmente mereça, quem tenha
produzido obras semelhantes à da poetisa, que lhe empresta o nome.
Todas nós
temos certeza que você a merece e eu estou muito honrada por ter sido escolhida
para perenizar em sua lembrança e na dos seus familiares principalmente, desta
sua fantástica filha Rainha, mas também da sua legião de amigos, toda a
expressividade deste momento.
Esta é a
primeira Medalha do Mérito CORA CORALINA que a AFESL outorga. Você, Maria José,
a primeira a ser com ela agraciada. E eu? A primeira a fazer tal entrega, só
porque tive a idéia de instituí-la?
Confesso que me sinto homenageada igualmente e agradeço seja à
Presidente da AFESL, Ester Abreu Vieira de Oliveira, seja às colegas que com
ela acordaram para tanto.
Cumpre,
pois, que a força do Espírito de Deus me ajude a reunir todas as forças da
alma, todo o amor que existir em mim, toda ternura de que eu possa ser
capaz, que minhas mãos estejam
purificadas de modo que quando a Medalha do Mérito “Cora Coralina” tocar-lhe o
peito, carregue-o da aura benfazeja que vai emanar das minhas mãos as quais se
somam às mãos de todas as acadêmicas.
A vida me
ensinou que se deve dar a cada um o que é seu. Por tudo que lhe disse sei que
você levaria sua medalha hoje para casa, lembraria de mim, de todo carinho que
foi sempre uma recíproca entre nós. Tenho certeza que jamais cogitaria de que
este momento pudesse ser diferente e até, sem falsa modéstia o digo, não porque
não gostasse de qualquer outra acadêmica, mas gostou desta escolha.
Mas, tem
um mas. Eu penso diferente e dou-me o direito de pensar diferente. Todo bem,
todo amor, todo carinho, tudo que de melhor há que eu lhe possa oferecer fica
muito aquém da intensidade que existe de tudo isto, em outra pessoa. Eu a amo,
mas não tenho dúvida, uma pessoa há que a ama muito, muito mais.
E por
isto, querida Maria José, declino em favor dela o privilégio que me foi dado,
para mim fica valendo como se o tivesse feito... Neste mundo que anda de justiça tão carente, ao menos a que
se pode, que se faça já.
Regina,
(a filha) por favor aponha você esta medalha no peito de sua querida mãe.