À frente de uma das portas
de embarque, uma menininha, que teria no máximo quatro anos, sem amparo de
ninguém, se desmanchava em lágrimas. No primeiro momento, poderia parecer
apenas uma criança contrariada em algum desejo, que reagia a seu modo.
Depois de contemplá-la por
alguns instantes, impelida pela compaixão, aproximei-me, com a clássica pergunta:
está chorando... Por que você está
chorando? Nenhuma resposta, mas as lágrimas que jorravam em borbotões, me
pareceu que se multiplicaram. Minhas
perguntas, acompanhadas de carícias na sua cabecinha, restaram sem nenhum acolhimento.
Minha ternura cresceu ainda mais, muito, muito mais.
Foi quando um jovem senhor
se aproximou. Demonstrou-me pela expressão esboçada que tinha a ver com a
pequena. A suposição se confirmou, quando disse ser seu pai. E me explicou: Ela está assim, por que deixou a mãe dela. E foi acrescentando: a mãe me pediu para vir buscá-la porque não aguenta mais com ela.
- Como? a mãe não aguenta
mais com ela? É tão pequena... E reflito, seria capaz de fugir ao controle de
uma mãe um serzinho deste tamanho? ou o não aguenta significa falta de recursos
para sustentá-la? Amor de mãe sempre aguenta. Meu pensamento voava.
Ele prosseguiu: moro em Rondônia. Tinha ido buscar a
criança no Pará, onde morou, sua (nova) esposa iria tomar conta dela.
Enquanto isto, a pobre
criança continuava chorando. Senti que a voz embargou-me na garganta, meu peito
doeu. Minha vontade foi de pegá-la, envolvê-la nos meus braços, arrebatá-la, levá-la
comigo, tudo fazer para que nunca mais tivesse porque chorar. Mas como, ela tem
um pai ai. Que ideia a minha!
A esta altura, quem
chorava por dentro era eu. O alto falante anunciou o voo no qual embarcariam.
Mesmo chorando, a menininha aceitou a mão que o pai lhe estendeu e o acompanhou
sem protesto.
Meu olhar acompanhou-os
até onde foi possível, até que foram ocultados “por aqueles túneis”, o que não se
ocultará, porque jamais se apagará da minha lembrança é a imagem de uma menina tão
pequena cuja mãe renunciou a tê-la dizendo “não aguentar mais com ela”.
Aguentar pode ser não ter recursos para sustentar, pode ser porque era muito
rebelde, será? Mas o que realmente foi, é certo que jamais saberei.